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Cyberpunk está absolutamente na moda. Desde Blade Runner, Akira, Ghost in the Shell, passando por Matrix, Deus Ex, System Shock e até o vindouro Cyberpunk 2077. Cyberpunk é super green como diria Ruby Rhod, o personagem de Chris Tucker em O Quinto Elemento, outra obra que poderia ser considerada levemente como parte do gênero.

Outra coisa que está absolutamente na crista da onda, como diriam os jovens do futuro de um passado distante, é religião. Sim, eu vou entrar nesse vespeiro com os dois pés no peito. Tal qual quem pula para procurar uma palha em um agulheiro. Pessoas correm atrás de novos messias como mariposas buscando lâmpadas incandescentes.

Sendo o Filho do Pai

O mais novo lançamento da Ice Code Games reúne justamente essas duas tendências que estão em voga na atualidade. Re-Legion é, além de um ótimo trocadilho, um jogo de estratégia em tempo real com temática cyberpunk e sobre religião, publicado pela 1C Entertainment e que chega como uma profecia em nossos lares.

A jornada de um profeta não é nada fácil, como poderia nos confessar Brian, o protagonista daquele documentário A Vida de Brian. E, em Re-Legion, acompanhamos o crescimento de Elion, também conhecido como o Profeta. Sendo o pastor de um rebanho em expansão, você tem a opção de subir os degraus da religião e do poder (não que um esteja distante do outro).

Imagem de Re-Legion
Cheio de adjetivos, como todo bom profeta.

Para cada jogo de estratégia em tempo real, existe um rol de recursos disponíveis para que consigamos construir fortificações, casas, universidades ou quaisquer outras construções para que nossos impérios possam crescer como poderosos carvalhos. PS: Essa referência é tão obscura que acho que ninguém vai entender, mas não resisti colocar.

Em Re-Legion, os recursos são exatamente o que tornam pessoas ricas em pessoas poderosas. Pessoas. Seguidores. Fiéis. Para conseguirmos crescer como culto, como legião ou até como milícia (talkei?!), precisamos de pessoas dispostas a entregarem suas vidas pelo bem do culto. Por um bem maior. Por Um, bem maior.

Essa variação traz um balanço curioso girando em torno de escolher como distribuir seus seguidores entre as diversas especializações, seja de combate ou suporte. Dentre profetas, utilizados para converter pagãos, gerando novos recursos, até soldados de elite que irão às linhas de frente, cada pessoa é um recurso insubstituível e precisa ser bem cuidado, bem alinhado e bem posicionado.

Imagem de Re-Legion
Cenário mais genérico seria difícil.

Encontro em uma encruzilhada

Como todo bom líder de culto, temos diversas opções a serem tomadas para guiar nossos passos. A primeira destas decisões é sobre o caminho teológico/filosófico a seguir. Temos uma tríade de opções indo de uma linha de pensamento ocultista com foco no pensamento mágico até uma opção totalmente tecnocrática com ênfase na mistura do ser humano com implantes tecnológicos. A partir disso, seu culto começa a se tomar forma, moldando a maneira com a qual os próximos passos serão montados.

E é aí que terminam as partes boas de Re-Legion. Começando pelos objetivos confusos que não descrevem suficientemente bem o que precisa ser feito em cada uma das missões. Dando frases curtas e secas utilizando termos que ainda não haviam sido apresentados, não sei se supondo que o jogador receberia uma mensagem divina para descobrir o caminho.

Soma-se a isso um outro fator que normalmente não seria tão dramático, porém acaba sendo mais um problema em uma minivan cheia deles vindo do Paraguai em uma semana antes do Natal, enquanto a Ponte da Amizade está lotada e os Agentes Aduaneiros estão em greve. Os gráficos de Re-Legion são consideravelmente ultrapassados. Ao ponto que chega a incomodar. Poderia ser um jogo de 2008. E eu não estou falando um bom, definitivamente não seria um jogo bom. No máximo.

Imagem de Re-Legion
Sim, é essa interface chuchuzinha que temos que aguentar.

O último ponto que tenho a adicionar de problemático é o que julgo o mais intenso: a dificuldade do jogo beira o ridículo. Não por exigir que o jogador tenha calma e paciência. Que estude seus inimigos. Que seja estupidamente habilidoso. Não, nada disso. É simplesmente um misto de controles exageradamente complicados com péssima usabilidade e com sérios problemas de design de missões.

Vale ressaltar que o jogo absolutamente se recusou a ficar em 1920×1080, visto que as imagens e vídeo foram obtidos em um monitor ultrawide. Por isso que estão levemente distorcidas ou em um formato diferente do padrão do Gamerview. Somente acabou por ficar assim porque Re-Legion, aparentemente, odeia que você jogue de qualquer outra maneira que não seja em tela cheia, na resolução máxima que você puder.

Por fim, vale dizer que a narrativa que Re-Legion traz é perfeita para o momento que vivemos em nossa sociedade. E, por mais que não seja um primor narrativo ou em interpretação, vale ser, ao menos, refletida. O que o jogo tem de melhor seria mais do que suficiente para um bom livro ou uma boa série, porque de bom para jogo, não tem quase nada.