Skip to main content

A série Ratchet and Clank, através dos anos, nunca perdeu sua qualidade, mas sofreu com a sua presença constante. Novos episódios apareceram em um intervalo muito pequeno e apresentavam poucas mudanças palpáveis entre si. Isso causou certo cansaço pois, com exceção de suas tramas – que nunca foram grande coisa – os jogos começaram a se misturar um com o outro na memória, dada sua semelhança.

Felizmente, A Crack in Time faz muito do que Tools of Destruction deveria ter feito. Ele apresenta um jogo digno da nova geração de consoles, trazendo alterações significativas às mecânicas de Ratchet and Clank, sem nunca perder de vista a essência da série. Ele é, sem dúvidas, o melhor jogo a estrelar a dupla feito até hoje.

A Crack in Time continua e finaliza a trama que teve início em Tools of Destruction. Clank foi separado de Ratchet e se encontra em um local chamado The Great Clock, um dispositivo localizado no centro do universo, cujo funcionamento garante o equilíbrio temporal de toda a galaxia. Ratchet, enquanto isso, continua à procura de seu parceiro, enquanto enfrenta alguns problemas próprios ao explorar diferentes planetas, com alguns deles sofrendo estranhas anomalias temporais. Outros jogos da série apresentavam momentos em que controlávamos separadamente cada um dos dois heróis, mas aqui isso é levado a um novo patamar. Os momentos de controle de Ratchet, mais numerosos, são bastante similares ao que já viemos a esperar da franquia. O Lombax tem à disposição uma grande quantidade de armas dos tipos mais bizarros possíveis, ao mesmo tempo em que deve passar por desafios de plataforma. Quanto mais são usadas, as armas ganham experiência até alcançar um novo nível, que confere a ela uma melhoria; ou seja, nada de surpreendente para aqueles que tem acompanhado os jogos da dupla. Mas é aqui que começam as diferenças.

rachet-future_1

Primeiramente, algumas armas podem ser personalizadas. Você poderá trocar partes delas, e cada uma oferece efeitos diferentes. Não há uma opção melhor do que a outra, já que elas trazem tanto vantagens quanto desvantagens. Além disso, bem cedo na aventura, Ratchet receberá as chamadas Hover Boots, um par de botas que o permite flutuar pouco acima do chão. Descrito dessa maneira, isso pode parecer pouco. Mas a velocidade que ela confere à exploração, e os desafios que devem ser transpostos com o uso da bota especificamente, dão uma dinâmica bastante diferente do que vimos até então, fazendo com que até mesmo truques velhos pareçam novos. Por último, a maneira como viajamos de planeta em planeta mudou drasticamente. Podemos agora voar com a nave de Ratchet livremente através dos diferentes setores da galaxia. Você pode optar por ir diretamente a um planeta que contém o próximo objetivo central da história, ou pode preferir explorar as várias luas presentes em cada um desses setores. Elas, em sua maioria, contém desafios de sobrevivência ou de plataforma que, uma vez terminados, oferecem recompensas, como novas partes para alterarmos as armas ou Zonis, os pequenos robôs que levaram Clank no final de Tools of Destruction. Quando uma quantidade desses seres é coletada, eles melhoram a nave de Ratchet, colocando nela novos tipos de raios e mísseis, por exemplo.

Enquanto essa parte das luas é muito interessante, nem toda exploração é recompensadora. Existem outros seres pedindo ajuda, com naves que precisam ser rebocadas ou protegidas. Essas missões, além de muito fáceis, oferecem apenas bolts (o dinheiro do jogo) como recompensa. Não houve um único momento em que eu não tinha mais bolts do que precisava para comprar qualquer coisa, então essas missões rapidamente deixaram de ser atraentes. Por último, todo o aspecto de combate da nave é tedioso e sem graça. Novamente, ele é muito simples, sem nunca oferecer qualquer tipo de desafio. Em minha experiência, esses confrontos se resumiram em achar alvos para os mísseis teleguiados e esperar eles cumprirem sua função, sem nunca correr o risco de falhar e ter de refazer alguma coisa. No entanto, fora isso, a viagem de lua em lua é bastante agradável, em parte pelo cenário bastante bonito do universo e em parte pelas quatro rádios disponíveis na nave, que criam o clima certo para esses momentos.

Mas se isso já ofereceria por si só mudanças palpáveis para diferenciar A Crack in Time de seus predecessores, é nos momentos em que controlamos apenas Clank que o jogo realmente brilha. As áreas do Great Clock oferecem alguns desafios de plataforma, mas são os enigmas de lógica que tornam essas partes tão boas. Usando alguns botões especiais, Clank pode gravar cópias de si mesmo, que executarão as mesmas ações que o robô fez previamente. Um exemplo bem simples é o de criar uma cópia para pressionar um botão, necessário para abrirmos uma porta, para logo em seguida a atravessarmos nós mesmos. Mas, rapidamente, esses trechos ganham uma deliciosa complexidade, pedindo que usemos em alguns casos quatro cópias diferentes para o transpormos. O melhor aspecto desses momentos é que eles pedem que você raciocine sobre o que está fazendo, mas nunca são complicados o suficiente para o deixar sem saber o que fazer. Você se sente bastante inteligente ao terminá-los, mas nunca fatigado a ponto de não se interessar pelo próximo enigma que se encontra na próxima sala. É uma pena que as partes em que controlamos Clank sejam pequenas quando comparadas às partes de Ratchet. Mas quem sabe elas sejam tão boas justamente por não ocorrerem o tempo todo.

rachet-future_2

Há também de se acrescentar que, enquanto a trama não é memorável ou especial, sua narrativa é permeada do mesmo humor que os fãs já vieram a esperar dos outros jogos que estrelaram a dupla. As piadas ou situações cômicas nunca me fizeram rir alto, mas com certeza trouxeram alguns sorrisos ocasionais.

Ainda assim, apesar das novidades, a aventura perde um pouco de seu fôlego ao se aproximar do final. Os encontros e inimigos começam a se tornar previsíveis, e não são desafiadores. Além disso, a essa altura é bastante provável que todas as suas armas – ou ao menos todas pelas quais você se interessa – já tenham chegado ao seu nível máximo, então usá-las não terá mais tanta graça quanto inicialmente.

Ratchet and Clank A Crack in Time preenche todos os requisitos que são pedidos de uma continuação legítima. Enquanto ele mantém intactos os elementos que definem sua essência, há aqui uma quantidade considerável de novidades que tornam a experiência fresca. As decisões feitas no combate espacial podem não ter sido das mais felizes, mas os outros acertos são mais do que suficientes para podermos perdoar essa parte. Independente de você já ser ou não um fã da série, A Crack in Time é uma ótima aventura, que deve agradar a todos.