Em dezembro de 2016 a Interception Entertainment, em parceria com a THQ Nordic, lançava Rad Rodgers: World One, um colorido, frenético e intenso jogo de plataforma e ação, capaz de levar qualquer fã de Contra e Mega Man à loucura. Eis que de repente, em fevereiro de 2018 uma nova versão desse jogo aparece, chamada apenas de Rad Rodgers, com um bocado de conteúdo adicional, assinado por outro estúdio (que na verdade ainda é o mesmo, mas agora chamado de Slipgate Studios) e vendido como um jogo novo.
É importante ressaltar esses detalhes para que você que está lendo não pense que o Gamerview está postando um review com quase dois anos de atraso. Rad Rodgers não é uma sequência de World One, é apenas uma versão melhorada e mais completa. A primeira edição recebeu críticas muito positivas, afinal quem jogou sabe que esse game é um baita presente pra quem joga videogame desde os anos 90, quando os jogos de plataforma e ação estavam no auge. Será que dá mesmo pra melhorar algo que já era bom?
Metroidvania de fases
Em Rad Rodgers você controla Rad, um garotinho que odeia a escola e só quer ficar o dia todo jogando (acredito que muitos irão se identificar com esse personagem). Certa noite, após sua mãe o botar na cama à força, sua TV liga subitamente e o suga para dentro de seu jogo preferido. Nesse mundo seu console também ganha vida e se torna o alívio cômico do game, chamado Dusty. Agora cabe a essa dupla chegar até o final da aventura e vencer o último chefe para que assim Rad consiga voltar para o seu mundo.
A primeira coisa que chama muito a nossa atenção é uma pergunta muito simples que o jogo nos faz logo de cara: você é um adulto ou uma criança? Dependendo da sua resposta, ele irá aplicar uma censura no sangue e no seu humor ácido, deixando-o totalmente jogável para crianças. Caso você seja um adulto, aí sim poderá usufruir do game como ele realmente é: com muitas piadas sujas, palavrões e uma leve violência gráfica (que não é nada demais, os inimigos apenas sangram um pouco ao serem atingidos). Não pense que Rad Rodgers é uma espécie de Conker’s Bad Fur Day da nova geração, porque, ao contrário desse clássico, ele não tenta chocar o jogador com personagens fofinhos sendo depravados, ele só tenta arrancar umas risadas sem ir longe demais.
O jogo original continha sete fases, e nesta versão acrescentaram mais cinco, sendo duas delas fases completas e três apenas estágios bônus. É realmente uma quantidade bem pobre para se ter no total, porém todas as fases são longas e de certa forma não lineares, pois elas contam com múltiplos caminhos e diversas áreas secretas a serem descobertas. Por conta disso gosto de chamar esse título de Metroidvania de fases, apesar dele não sustentar o termo Metroidvania por completo, pois esses caminhos todos não são opcionais, e quase 100% deles devem ser explorados para conseguirmos encontrar as quatro partes do emblema que abre a porta que encerra a fase. Por isso que o jogo é e não é linear, pois você tem toda uma liberdade de escolher qual caminho tomar primeiro, mas deve passar por todos.
As fases bônus são todas verticais, e nelas usamos um pula-pula para subir cada vez mais alto e fugir de uma água que vem subindo constantemente. Tenho quase certeza que elas foram inspiradas nas fases bônus de Radical Rex, outro clássico do gênero lançado pro SNES e que tinha fases de pula-pula idênticas a essas (mas seria exigir demais de vocês pedir pra lembrarem desse jogo). Todas as fases são abarrotadas de itens para coletarmos: diamantes, brasões, chapéus – tudo muito bem espalhado e escondido, então só os verdadeiros exploradores conseguirão encontrar tudo, e já vou avisando que não vai ser fácil.
Um teste de paciência
Rad Rodgers não é um jogo difícil no geral, mas estaria sendo injusto se dissesse que ele é fácil. Ele possui três níveis de dificuldade, que variam do número de vidas que você tem até a resistência dos inimigos. Jogando no Normal o padrão são três vidas por fase, e se perder todas já era, terá que começar tudo de novo. O problema disso tudo é o fato das fases serem grandes demais, porque não existe nada mais frustrante do que estar a 20 minutos na mesma fase, morrer no final e ter que começa-la toda do zero. É algo bem desmotivador e que acontecerá com frequência, mas não é exatamente um ponto negativo do game, só faz parte do desafio que o jogo propõe.
Rad conta com um arsenal insano de armas, não por ter muita variedade, mas porque são armas muito legais de se usar. Indo de uma metralhadora padrão até uma arma que atira raios laser gigantes, o tiroteio do jogo é algo muito prazeroso e divertido, ainda mais porque os inimigos são muito limitados e mal te atacam, então é literalmente um massacre. O que realmente faz falta em Rad Rodgers são chefes, não consigo entender o motivo de terem deixado as boss fight de lado aqui.
A versão original só continha um chefe, que era o último, e nessa aqui adicionaram apenas dois mini-bosses em duas fases especificas, e o pior: é o mesmo chefe! Você lutará contra aquela criatura duas vezes, a única diferença é que na segunda vez ela terá um ataque novo. Não sei se isso foi preguiça dos desenvolvedores, mas é realmente um desperdício um jogo com um combate tão legal não ter chefes, limitando os tiroteios apenas a minions sem graça.
Dusty também é um personagem jogável em minigames no Pixelverso, onde ele entra no código do jogo e concerta bugs para liberar o caminho para Rad. Essa versão do jogo conta com uma variedade maior nos puzzles de Dusty, o que é muito bom, porque além de não serem complicados eles são divertidos de se jogar, já que também colaboram com um gameplay mais variado que tira o jogador daquela rotina de pulos e tiros. Ainda assim os trechos plataforma dominam totalmente o jogo, e como as fases são longas as chances do game se tornar enjoativo rápido eram altíssimas, porém os desenvolvedores conseguiram deixar as coisas bem balanceadas quanto a isso, tudo graças a exploração.
Todas as fases possuem casas de criaturas que nos presenteiam com itens e com uma piada diferente, assim como áreas secretas que também contam como um colecionável do jogo, então o que não falta são coisas para descobrir. Vale enfatizar aqui os chapéus, outro tipo de colecionável puramente cosmético e carregado de easter eggs, e é bem divertido caçar e encontrar todos.
Os gráficos do game não são nada de absurdos mas a arte é bem feita, as fases são muito coloridas e as músicas fazem jus aos jogos dos anos 90. O fato do jogo exagerar nas cores fortes pode ser um ponto negativo para alguns, pois as vezes são tantas cores misturadas no cenário que tudo se torna muito visualmente agressivo para os nossos olhos, e você mal se enxerga ali no meio, tornando tudo confuso demais (um bom exemplo de outro jogo que acontece o mesmo é Trine 2, que também exagera nas cores).
Rad Rodgers é um excelente jogo para os amantes de plataforma, e melhor ainda: graças ao seu método próprio de censura ele pode ser jogado por todos, independente da idade. Poderia ser melhor? Com certeza sim – substituir as fases longas por fases menores, aumentar consideravelmente a quantidade e variedade das fases e acrescentar chefes no final de algumas tornaria o jogo bom demais pra ser verdade, e um verdadeiro game de plataforma ao estilo anos 90. Ainda assim, ele garante muita diversão e uma experiência incrível pra quem quer matar a saudade dos jogos das antigas, se tornando um título obrigatório para amantes do gênero.