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Punhos de Repúdio é um game indie nacional fruto da pandemia, que permite ao jogador a chance de fazer, virtualmente, aquilo que todo cidadão consciente desejava fazer com os negacionistas. O jogo apresenta quatro garotas dispostas a quebrar o pau com todos que estão aptos a ir contra o senso comum.

Produzido e distribuído pela BrainDead Broccoli, o game promove a cruzada sanitária das jovens Laura, Nina, Olga e Lola, batalhando contra toda e qualquer desinformação que possa ir contra os conhecimentos básicos, passando por vários momentos estranhos que a sociedade brasileira viveu nos últimos anos.

Sobrevivendo à pandemia

Punhos de Repúdio abre com as protagonistas no mercado usando acessórios como luvas e máscaras, enquanto grande parte da população segue desatenta e permitindo que o vírus do Covid-19 siga criando novos casos e vítimas.

Punhos de Repúdio
Imagens que deveriam estar em museus

Ao ver tamanho descaso e quase serem infectadas por uma pessoa contaminada, as jovens entram em ação contra aqueles que tratam a ameaça do vírus como chacota. Desta vez a informação virá através dos punhos, e não por panfletos. Uma narrativa simples, que poderia ter dado o recado mais força antes da campanha de vacinação começar no Brasil.

Punhos de Repúdios relembra o que de fato aconteceu em nosso país, com uma parte da população tratando o vírus como algo inofensivo. Isso e outros acontecimentos, como a desinformação (fake news) ganhando força, o movimento do terraplanismo, a descrença na ciência e na vacinas.

Porém a mensagem acaba sendo mais uma discussão política no final de seu curto projeto, algo que acredito ter ofuscado o brilho de Punhos de Repúdio, mesmo após seu lançamento.

Punhos de Repúdio
Arte grime e porradaria, bom demais!

Uma mensagem turva

Logo no início, nota-se que Punhos de Repúdio funciona como uma válvula de escape dos desenvolvedores para escrachar a desinformação propagada pelo Presidente Jair Bolsonaro, cujo seus seguidores nada fizeram para contradizer as propostas e discursos confusos do Presidente.

Graças às “granadas de fumaça” lançadas pelo governo para desinformar a população, muitas ideias retrogradas começaram a conflitar com o conhecimento comum. Punhos de Repúdio reforça a mensagem de que antes de vestir a camisa do partido ou do político em questão, a população deve ser capaz de pensar por si só.

Claro, a violência nunca é a solução pras coisas, mas ela existe em Punhos de Repúdio apenas para brincar com o imaginário do jogador. Pode ser divertido para uns e nem um pouco para outros, especialmente para quem perdeu algum amigo ou membro da família para o vírus. Aliás, o jogo não dá espaço para explorar a tragédia em si.

Punhos de Repúdio
Se lançar esse texto no “zap”, capaz de uma galera acreditar

No jogo, lutamos contra bolsonaristas de verde amarelo, policiais truculentos, mascotes terraplanistas, “tiozões” e “tiazonas” de classe media alta com complexo de riqueza, alunos de coach, falsos crentes e o mais temido tiozão do zap que a humanidade já viu. Tem até mutantes criados pela “Nucleocloroquina”.

Felizmente, o jogo não cruza o limite da piada em nenhum momento. Há inclusive algumas citações sobre vítimas, mas a mensagem é limitada e dificilmente fará o jogador refletir sobre o assunto.

Rua dos mano “brabo”

Punhos de Repúdio se sai muito bem nos controles e mecânica, trazendo um gameplay fluído, multiplayer local com até quatro jogadores simultâneos, sistema com novos golpes e inimigos desafiadores. Usando combinações de ataques leves, pesados e agarrões, o grupo de heroínas vai descer o sarrafo em geral. E, como praxe, temos personagens e inimigos tipicamente brasileiros.

Punhos de Repúdio
Cobre essa boca e fica longe

Inicialmente os ataques são bem simples, mas durante a “Queima de Livros” do governo é possível achar um de três fragmentos de vários livros, que ensinam novos golpes às garotas. Elas são bem equilibradas em seus respectivos estilos: Laura é uma personagem mais padrão, Nina é especializada em ataques rápidos, Olga domina agarrões e combos, e Lola possui os golpes mais poderosos.

Avançando pelos quatro níveis e coletando os livros, logo cada uma delas se torna uma máquina de combos e golpes fantásticos. Somados ao especial de cada uma, que pode ser usado sempre que a barra de especial fica cheia, é possível causar danos devastadores contra as hordas de inimigos. Comendo um lanche de rua então, nem se fala! As heroínas ganham vários atributos extras, como mais força de ataque e barra de especial que enche mais rápido.

Punhos de Repúdio
É triste, mas realmente tem pessoas que acreditam nisso

Ordem e progresso pra valer

Punhos de Repúdio enfia o dedo na ferida de um país que poderia ter encarado a pandemia com mais eficácia. E também critica outros temas relacionados, como faz no segundo nível: na “Igreja da Santa Lorota” vemos um texto ironizando a função do cristianismo no passado colonial e escravagista brasileiro, da exploração das nossas terras e dos povos indígenas.

Um jogo progressista que traz uma agenda abertamente de esquerda, pra quem está disposto a absorver suas mensagens e refletir, ainda que de forma geral seja apenas um beat ‘em up tradicional recheado de piadas. Ainda assim, o game não deixa de dar nomes aos bois e vilanizar aqueles que acabaram proliferando um caos que poderia ter sido evitado.