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Às vezes o mundo dos jogos é traiçoeiro. Pagamos 60 dólares por algo lamentável enquanto temos, por menos da metade, um exemplo de diversão bem construída. Portal era assim, um jogo barato e parte do pacote Orange Box que, apesar de não custar muito e não ter uma campanha de marketing à là Call of Duty, era um baita jogão. Portal divertiu, entreteu e tudo isso de forma modesta. A Valve tem esse costume louvável de sempre entregar jogos muito bem criados e divertidos. Vendo o potencial de Portal, a empresa decidiu que deveria lançar uma sequência – e eu agradeço muito a ela por ter feito essa escolha. Portal 2 surpreende não só por sua jogabilidade diferenciada, mas também pelos vários pequenos aspectos que montam um conjunto de obra belíssimo.

O jogo coloca você novamente na pele de Chell, cobaia de testes da Aperture Laboratories que após vencer a GLaDOS no primeiro jogo, foi colocada em uma das câmaras de descanso atemporal desativadas, o que causaria a sua morte. Com a ajuda de um cientista, ela teve os sistemas do seu quarto reiniciados, o que a manteve viva. Porém, ao reiniciar os sistemas ele automaticamente desativou o despertador para acordá-la. Após centenas de anos de hibernação, Chell acorda e se depara com o agora abandonado complexo da Aperture. Logo de cara conhecemos Wheatley, um robô que possui forma de olho e uma personalidade incrível, cativante e engraçada. Ele tenta te auxiliar para a saída do laboratório mas, atrapalhado como é, acaba reativando a GLaDOS e você cai novamente nas câmaras de teste. Como era de se esperar, a GLaDOS está revoltada, te xingando e fazendo piadas de mal gosto o tempo todo – algo que, em certo ponto da história, acaba cansando.

Uma das coisas impressionantes de Portal 2 é que agora os puzzles não se limitam aos laboratórios. Graças ao estado catastrófico do complexo, várias partes do jogo são realizadas em um ambiente “externo” às salas de teste. Isso permite puzzles completamente diferentes que, em certos momentos, mistura ação com quebra-cabeças fantásticos. Para a realização dos puzzles temos diversos elementos, alguns antigos como as clássicas caixas e turrets, outras novas como a caixa refletora, os géis (azul, laranja e branco), as pontes de luz e os túneis de gravidade. Os puzzles parecem mais simples, mas estão na medida certa. Começam fáceis para que o jogador aprenda a lidar com os itens disponíveis e tem seu grau de dificuldade aumentado a cada fase que passa. Essa progressão na dificuldade é levada muito bem, mas em nenhum momento você se encontra em um puzzle impossível.

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Eu que nunca fui muito de jogar jogos desse gênero me virei bem, demorando cerca de sete horas para completar o modo singleplayer. A adição dos três géis dinamiza de forma bem interessante os puzzles, sendo o gel azul para pular alto, o gel laranja para correr e o gel branco para que se possam criar portais em áreas antes impossibilitadas. Os puzzles externos são os que melhor utilizam os géis, obrigando o jogador a pensar de forma bem criativa para solucionar os passos e avançar no jogo. Já as pontes de luz são utilizadas de diversas maneiras: para se andar por elas, para bloquear as turrets, para que caixas não caiam no ácido, ou simplesmente para impedir que uma determinada caixa (ou você mesmo) seja arremessado longe demais. Os túneis de gravidade trazem uma boa dificuldade para alguns puzzles e são utilizados também fora das salas de teste, em alguns momentos do jogo.

Felizmente, a diversão não acaba quando você termina o modo de campanha. Jogar o cooperativo pode ser uma experiência muito agradável, pois os personagens Atlas e P-Body cativam muito. Cada jogador controla o seu respectivo robô, e é hilário ver as trapalhadas do parceiro na tentativa de resolver os puzzles. Jogando em casa, você pode dividir a tela da Tv com um amigo. Mas jogando online, você terá que coordenar seus passos comunicando-se por voz ou por ícones, os quais você usa para várias funções: demarcar um local para que seu amigo abra um portal, contar “3, 2, 1…” e realizar uma ação ao mesmo tempo, e por aí vai. Melhor ainda é sacanear o seu parceiro colocando um portal debaixo de seus pés para que ele seja arremessa ao buraco. Coisa saudável, uma vez que os robôs renascem infinitamente.

Visualmente, o game lembra o original, exceto por melhorias na física e efeitos de iluminação. O que realmente impressiona é o nível de humanização dos personagens. Eles tem expressões tão realistas que te cativam e prendem a sua atenção. Algumas reações de Wheatley, como o modo dele piscar mais rápido quando está apreensivo, reproduz perfeitamente a reação do olho humano. Eu diria facilmente que, se Heavy Rain é a revolução das expressões humanas, Portal 2 é a revolução das expressões robóticas. E como eu não poderia deixar de citar, Cave Johnson, CEO da Aperture Labs (que não está presente fisicamente no jogo), deixa sua voz marcar vários pontos da história.

Com a pitada certa de comédia, jogabilidade maravilhosa e personagens cativantes como os de bons filmes de animação, a Valve entrega em Portal 2 um produto completo. Não temos mais o bolo, mas o jogo garante várias surpresas.

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