A franquia Pokémon está de volta com Pokémon Let’s Go, Pikachu! e Let’s Go, Evee!, pela primeira vez podendo ser jogado “oficialmente” num console de mesa. Os jogos são um remake dos clássicos da primeira geração, em especial o Pokémon Yellow.
Desenvolvido pela Game Freak e publicado pela The Pokémon Company e Nintendo, e disponível no Nintendo Switch, o novo jogo nos leva de volta a região de Kanto, explorada pela primeira vez em 1996 no Japão e somente em 1998 no Ocidente, quando foram lançados Pokémon Red/Blue (Red/Green no Japão) e posteriormente ainda em 98 tivemos a versão Yellow, com melhorias visuais para o Game Boy Color e adaptações na história baseada no anime, com direito a Pikachu andando fora da pokébola. E é aqui que Let’s Go se baseia para nos transportar pra esse mundo incrível de monstrinhos de bolso.
A aventura começa da forma mais clássica possível: você indo encontrar o professor Oak (Carvalho) para iniciar sua jornada como treinador de pokémons. O jogo nos apresenta 3 formas de jogabilidade: no modo portátil o jogo flui da maneira mais tradicional possível, os controles são tão simples que diversos botões são ignorados e não servem para absolutamente nada, o que nos leva para a segunda forma de jogar, que é destacando os joy-cons. Você se move com o analógico e utiliza um botão para menu, um pra confirmar e um para cancelar, tão simples que permite jogar tanto com o controle na mão direita ou na esquerda.
Independente de você ser destro ou canhoto, você quase esquece que tem um controle nas mãos de tão intuitivo que é jogar assim. E é aqui que vemos a primeira novidade no game, o multiplayer local. A qualquer momento o outro joy-con pode ser utilizado por alguém para adicionar um segundo jogador, que vai se mover junto com você pelo mapa e fazer batalhas em dupla. A autonomia desse segundo jogador é bastante reduzida: ele vai utilizar seus pokémons e seus itens, sendo na verdade uma extensão do jogador principal.
A terceira e última forma de se controlar o game é com o controle lançado exclusivamente para ele, a Pokéball Plus, uma pokébola com um analógico clicável e mais um botão, que emite sons e vibrações conforme o desenrolar do jogo, que inclusive vem com o Pokémon Mew de brinde, única forma de conseguir esse monstrinho.
Mudanças na jogabilidade
Muito se falou sobre a mudança mais drástica na jogabilidade de Pokémon Let’s Go: você não batalha mais com monstrinhos selvagens. A reclamação foi imensa, afinal essa era a forma de você ganhar experiência e evoluir seus monstrinhos pra chegar forte o suficiente para as grandes batalhas. Vos digo: não sinto falta alguma de batalhar com pokémons selvagens.
A forma de captura agora se assemelha a de Pokémon Go (jogo mobile que bombou em 2016), e você tem que arremessar uma pokébola na direção correta e no tempo certo para conseguir capturar o bicho, você também pode dar alguns docinhos pra amansar a fera e facilitar a captura. Você pode tanto usar o joy-con destacado para simular o arremesso da pokébola (cuidado pra não acertar a TV), quanto utilizar o giroscópio do console quando em modo portátil pra mirar e confirmar o lançamento pressionando o botão A. E quando eu disse que não sentia falta das batalhas com pokémons selvagens, você pode estar se perguntando “E como eu vou subir de level?” Pois bem, capturar pokémons distribui experiência para todos os bichinhos da sua party e é uma forma bem mais fácil e prática de “grinding”.
Outra vantagem desse método é que você não corre o risco de matar aquele pokémon raro que faltava na sua coleção acidentalmente ao usar um raio de trovão com seu Pikachu de level 50 (quem nunca?). Ainda falando sobre os monstros selvagens, não existem mais encontros aleatórios. Ou seja: chega de ficar matando ou fugindo de Zubats pelas cavernas. Agora os monstrinhos são visíveis pelo mapa e você pode desviar deles ou tentar a captura, e aqui temos mais uma nova mecânica, que são os combos. Capturar sequencialmente pokémons iguais aumenta suas chances de conseguir monstrinhos com status melhores e/ou raros. Isso até uma sequência de 31 pokémons. Mais uma facilidade para os jogadores hardcore que estão sempre em busca da melhor party possível.
Agora que comentei sobre detalhes técnicos do jogo, vamos mergulhar na emoção. Pokémon: Let’s, Go é EXTREMAMENTE nostálgico! As músicas e os efeitos sonoros são praticamente idênticos aos que a gente se acostumou a ouvir por toda uma vida (afinal são 20 anos jogando pokémon). E a região de Kanto é a favorita de muitos jogadores, por ser a clássica com os 151 pokémons iniciais, aqueles que você conseguiu decorar os nomes e evoluções e também por ser a região onde se passa o anime, com os 8 líderes de ginásio e a famosa Elite Four.
O mapa foi recriado da maneira mais fiel possível e todos os lugares clássicos estão ali: Pallet, a sua pequena cidade natal, Viridian City e Viridian Forest, Vermilion City … Está tudo ali, redesenhado, repaginado mas sem alterar em nada a essência. As músicas tema tanto das batalhas quanto de cada cidade reforçam ainda mais o sentimento de conforto e lugar comum. Brock e Misty estão lá nos seus ginásios aguardando você pra uma batalha valendo uma insígnia, além de Jesse, James e Meow da equipe Rocket e seus planos mirabolantes, sem falar dos trio clássico Squirtle, Charmander e Bulbassaur, não tem como ser mais nostálgico que isso. E o mundo, está bonito demais. Os cenários, os pokémons, as animações de batalha etc. Tudo está extremamente bem polido, dando uma clara evolução visual mas sem perder em nada a essência. Não simplesmente pegaram tudo e enfiaram 3D. O jogo parece mesmo um belo desenho animado que você controla.
As batalhas são as mesmas
A jogabilidade das batalhas segue exatamente idêntica: cada monstrinho tem até 4 habilidades e você também pode trocá-los ou utilizar um item. Aqui fica minha primeira ressalva ao game, pois ele praticamente ignora que a tela do Nintendo Switch é touch. Alguns menus poderiam muito bem ser utilizados com toque – como foi no DS e 3DS (e olha que só a tela de baixo era touch) – durante o combate principalmente, já que a interface tem os “botões” grandes o suficiente para serem utilizados com os dedos, e isso foi tão intuitivo que nos primeiros minutos eu automaticamente metia o dedão na tela, em vão. Isso não chega a desabonar o game.
Ainda nas mecânicas, não existem mais as HMs, que ensinavam técnicas como Surf, Fly ou Cut para um dos seus monstrinhos. Eram habilidades não muito boas em combate e acabavam gastando um espaço, limitando o número de golpes que seu pokémon poderia utilizar. Elas ainda existem, precisam ser aprendidas mas são habilidades que não mais são utilizadas em combate, ficando como uma skill permanente para ser usada fora das lutas.
Além do Pikachu/Evee que andam sempre no seu ombro fora da pokébola, você pode escolher mais um bichinho (ou bichão) pra andar fora dela e se ele for grande o suficiente, pode ser usado como montaria. Existem várias e cada um com sua movimentação característica, algumas extremamente engraçadas como o Snorlax, que anda com você e o Pikachu/Evee grudados nele, ou ainda o Kangaskhan, que leva você no bolso e seu companheiro vai ao lado do filhote na sua bolsinha de canguru. Se você for do tipo que gosta de chamar atenção, pode montar um Onix e desfilar pela cidade em cima de um monstro de pedra gigante ou ainda tirar onda voando em cima de um Charizard. Os pokémons menores que não servem de montaria seguem você andando, voando, correndo ou até rolando (como é o caso do Sandslash, meu porco espinho favorito).
Um Pokémon para todos
Uma coisa que se mantém no jogo é o fato dele permitir desde um estilo de jogo mais casual, do tipo vou pegar uns monstrinhos e derrotar um líder de ginásio antes de dormir, até uma jogabilidade mais frenética, com caçadas frenéticas, power-ups apelões e a busca incansável por montar a party perfeita. Como já é de costume em todos os jogos da série, duas versões foram lançadas e as diferenças entre ambas (além do pokémon que te acompanha pela jornada) são os monstrinhos selvagens encontrados em cada uma delas.
Cada versão conta com seus exclusivos, então para completar sua pokédex você vai precisar trocar monstrinhos com algum amigo que tenha a outra versão. As trocas podem ser feitas tanto localmente quanto online. Você também pode transferir seus pokémons capturados em Pokémon Go para o jogo do Nintendo Switch, desde que seja um bichinho da região de Kanto. As personalizações visuais tanto suas quanto de seu mascote principal são várias, com diversas roupas e acessórios que vão sendo colecionados ao decorrer do jogo. E não tem nada mais fofo do que um Pikachu de gravatinha.
Esse jogo é quase que uma demonstração do que está por vir, visto que a Nintendo prometeu para 2019 um novo jogo “pra valer”, dando continuidade a expansão do universo. Provavelmente com monstrinhos inéditos e talvez uma jogabilidade diferenciada, nada foi mostrado ou vazado até agora, o que aumenta ainda mais o mistério. Mas se Pokémon: Let’s Go foi apresentado como um “calma, esse é só pra aquecer”, a expectativa de um novo game sobe a um nível estratosférico, visto que o game é incrível.
Pokémon: Let’s Go, Pikachu & Eevee! vai render umas boas horas de diversão para completar todos os ginásios e ainda mais horas para capturar todos os monstrinhos e/ou montar aquele time imbatível. Lógico que o jogo pode ser jogado por qualquer um, mesmo quem nunca viu um jogo de pokémon na vida (em que planeta você viveu?), mas ele toca especialmente o coração de quem, assim como eu, perturbou os pais pra ganhar de Natal, ganhou e jogou os jogos clássicos num Game Boy gigante que consumia muitas e muitas pilhas. Voltar a esse universo, revisitar esses lugares e reouvir as músicas clássicas vai te trazer uma emoção diferente. Posso ou não ter ficado com os olhos suados durante as primeiras horas de jogatina, fica a dúvida. Excluindo totalmente (ou não) a emoção, este é o jogo do ano pra mim!