Por ser um eterno entusiasta da série Shin Megami Tensei e Persona, mesmo com dezenas de horas de gameplay e sem ter zerado nenhum jogo, gosto das temáticas, direção de arte, gameplay e acompanho as franquias participando do hype que cada lançamento acaba gerando. Mesmo estando no frenezi dos novos títulos, nunca entendi o motivo de termos um “Bust a Groove” da série Persona, até ter jogado um deles para esse review. A questão é: será que Persona Dancing: Endless Night Collection faz algum sentido nessa nova geração?
Dancing All Night Long… All Night…
Minha primeira surpresa ao receber a coleção com três títulos, focados nos jogos três, quatro e cinco da franquia Persona, iniciei pelo Persona 4: Dancing all Night, que eu já tinha jogado anteriormente. Dentre todos os jogos, esse é o único que possui uma narrativa. Levando você para alguns meses após o acontecimento de Persona 4, os personagens retornam mais maduros e com suas vidas continuadas após os acontecimentos do game que foi lançado para PS2 e PSVita.
Não que seja uma história incrível, mas ela consegue desenvolver o lado adolescente de cada integrante do Time de Investigação, mesmo apresentando algo próximo de um Teen Show da Disney e que poderia ser protagonizado por qualquer jovem celebridade que conhecemos. Com diálogos desnecessários, longos e chatos, que se arrastaram por duas horas até o primeiro gameplay, lembrei de como o jogo podia ser desinteressante se eu não estivesse preparado para ele. O óbvio acabou acontecendo: pulei para os dois jogos inéditos que vieram na coletânea.
Em Persona 3: Dancing in Moonlight a surpresa ficou por conta da não existência de um modo história. Com uma breve sequência animada, diferente do “stop motion” com cenas estáticas, logo na abertura do jogo pela primeira vez, os próprios desenvolvedores tomaram cuidado em abordar a que, para mim, é a grande questão até agora: por que precisamos dançar? Tudo isso de maneira bem sutil e através dos personagens, a resposta vem na interação com Elle-P, a Mulher de Azul do Club Velvet. Qual a resposta? Prefiro que vocês joguem e entendam a motivação disso tudo.
Passando para Persona 5: Dancing in Starlight, o terceiro jogo da franquia de dança da ATLUS também não disponibiliza um modo história ou campanha. O importante, assim como os demais, é dançar! Seja para enfrentar as sombras, expor seus sentimentos ou seja lá qual for a motivação que aproxime essa franquia da principal. O que fica claro é que esse spin-off do spin-off de Shin Megami Tensei acaba criando artifícios para mascarar algo que é óbvio: um jogo puramente de dança e com foco nos fãs. Concordo que não é fácil assumir algo tão superficial, mas que possivelmente afastaria de vez os que não possuem contato com as franquias e que gostam dos jogos de ritmo.
Persona’s Got Talent
A minha crítica maior está em uma proposta muito destoante para essa trilogia, sendo que entre os títulos ou não apresentam narrativa alguma ou os desenvolvedores apostaram suas fichas em algo muito bobo e fraco, carregando demais no seu desenrolar e deixando de ser convincente. Se por um lado a nostalgia em ver todos os personagens queridos se torna um ponto forte, até mesmo por vermos a continuidade após os acontecimentos de Persona 4, o mesmo não existe para o restante da coletânea. Acredito que se uma história, por mais simples e raza possível, possa ser montada tendo dança como plot principal, seja para explorar seus adormecidos ou para salvar o mundo.
Adaptando a jogabilidade inicialmente desenvolvida para o PS Vita, agora temos o mesmo estilo de HUD para TV de 49″ ou maior; ou seja, o que antes era prático para visualizar todos os símbolos e botões que precisavam ser apertados nas áreas demarcadas, agora você não tem mais o fator da visão total. Diversas vezes o meu olhar passava pela TV acompanhando o ritmo e botões que voavam pela tela para serem apertados. No entanto era comum perder algo que estava passando ao mesmo tempo em lados opostos do campo de interação com o jogo.
Com tempo eu conseguia aprender que com o ritmo vinha também o “dançar” dos botões em uma lógica de cima para baixo ou da esquerda para direita, porém nos modos mais avançados enquanto minha atenção estava em uma diagonal o lado oposto também oferecia algum desafio para ser apertado dentro do tempo e ritmo correto. Depois de muito treino e diversas partidas, o desafio era menor e o ambiente de interação se tornava cada vez mais familiar. Isso acaba sendo potencializado pela excelente trilha sonora e aquele sentimento ao revisitar as melhores músicas que uma série de jogos poderia apresentar. Tudo muito bem animado, colorido e visualmente convincente, compensando um outro lado inexistente ou mal trabalhado.
O que facilita e se torna agradável em Persona Dancing: Endless Night Collection são os desbloqueáveis e os colecionáveis. Diversas opções de roupas e itens para customizar os personagens, sem contar as músicas que são desbloqueadas ou que podem ser adquiridas via DLC. Além disso, tirando Persona 4: Dancing all Night, os outros dois títulos oferecem desafios sociais para você que consistem em você realizar certos feitos para desbloquear ainda mais conteúdo e completar 100% do desenvolvimento de cada personagem disponível. As poucas horas de jogo são multiplicadas pela busca de um placar melhor e de novas conquistas, sendo reforçadas pelo conteúdo customizável e que já vem no jogo.
O show não pode parar
Ficou claro o imenso esforço da ATLUS em não deixar a franquia morrer. Depois do hiato que tivemos para o quinto jogo e agora nem sinal de um sexto título para a série, com certeza essa coletânea vai preencher uma lacuna importante para os fãs. O problema é termos um jogo apenas com esse foco: fãs. Por mais entusiasta que eu seja, sinto que muitas coisas ficam superficiais para mim. E olha que eu conheço todas as trilhas sonoras, mas mesmo assim percebo que existe muito mais por trás do que está mascarado por um jogo de dança.
Com um ótimo repertório musical e visuais realmente de impressionar, reforçados pela qualidade da direção de arte que cada jogo possui, é indiscutível a qualidade do jogo. No entanto, por mais inclusivo e uma excelente porta de entrada para esse gênero (tão raro nessa geração atual), a temática ao redor dele pode inibir os mais receosos em começarem três lançamentos spin-off de algo que nasceu de um visual novel japonês. Você precisa praticar muito desapego, principalmente se começar pelo modo história do Persona 4, para conseguir aproveitar o melhor que a trilogia oferece.