O estrondoso sucesso dos Phantom Thieves ainda está longe de chegar ao fim e Persona 5 Strikers está aí para comprovar. Após o lançamento de P5 em 2017, um jogo musical chamado Dancing in Starlight, a versão suprema Royal e vários crossovers com diferentes jogos, chegou a vez da Koei Tecmo botar as mãos na franquia e trazer os heróis para enfrentar seus oponentes num grande musou, que promete abalar as estruturas de todos os fãs da série.
Apenas para contextualizar vocês, o jogo foi lançado inicialmente em 2020, apenas em território japonês, sob o nome de P5 Scramble. Demorando quase um ano para chegar ao público ocidental, Joker e seus amigos tinham a difícil tarefa de mostrar que o novo título segue o nível do original, que foi aclamadíssimo pelo público e pela mídia, tornando a franquia ainda mais popular entre os jogadores. Entre os pontos altos e baixos, ele consegue sim manter a expectativa e traz novidades muito bem-vindas.
Não roubou o meu coração
A história de Persona 5 Strikers se passa alguns meses após os fatídicos eventos finais de P5. Ren Amamiya, mais conhecido como Joker, retorna para o Café LeBlanc para encontrar os seus amigos e aproveitarem juntos as suas férias de verão. Mas nada é moleza na vida dos Phantom Thieves e o Metaverso retorna à ativa, com algumas mudanças intrigantes. Com a polícia novamente em seu encalço, só resta a eles limparem o seu nome dessa confusão toda que assola todo o Japão.
Você deve esquecer as batalhas em turnos por enquanto, agora sua tarefa será esmagar os botões do seu DualShock 4, teclado ou do joy-con para acabar com as hordas de inimigos ao seu redor. Porém, fiquem tranquilos caros fãs, o essencial se mantém aqui. Você continuará seguindo nas sombras para pegar os guardas de surpresa, realizará vários puzzles para chegar até o grande tesouro dos Monarcas e, no momento certo, enviará o Calling Card para acionar suas defesas e enfrentá-los diretamente no seu esconderijo.
Tenho de admitir que a fluidez que o jogo apresenta é impressionante. Para aproveitar as áreas, que agora são de 3 a 4x maiores que qualquer Palácio visitado em Persona 5, seguirá correndo, se pendurando, atirando em inimigos à distância, descobrindo baús escondidos e vários checkpoints espalhados que permitem retornar ao mundo real num piscar de olhos. Dali, comprará mais itens de cura, se recuperará, obterá melhorias, voltará para a base e continuará exatamente de onde parou, como se não tivesse passado nem um minuto.
Ou seja, o ritmo seguirá de uma forma completamente distinta do que conheceu antes. O que antes levavam dias e atividades por longos períodos, agora tudo é resolvido em um curto espaço de tempo. Você basicamente pode fazer tudo durante um dia, não estando mais tão limitado ao sistema de horários que o primeiro mantinha. Sem muitas interrupções, a agilidade é gritante e logo se acostumará com os trechos mais ágeis.
Mas aí que entrará o grande abismo que existe entre Persona 5 e Persona 5 Strikers, fora os quatro anos que se passaram desde seu lançamento e os gêneros distintos dos dois games. Por mais que ambos dividam o mesmo rosto e protagonistas, essa velocidade de tudo me deixou um pouco aborrecido com a experiência inicialmente. O choque é natural, afinal de contas não é um Hyrule Warriors: Age of Calamity da vida, qual se baseou em um jogo de ação e tudo se portou de forma natural.
Continuei jogando, enfrentava um esquadrão de oponentes, me movimentava de forma incrível, assim como tudo devia ser, mas a sensação de que algo não estava no lugar continuou me tomando. Os novos recursos também não me empolgaram de primeira, nem mesmo Sophia, que é uma das novas integrantes do bando, salvava o amargo que eu nutria. Sabe quando você olha para algo, acaba não comprando a ideia, mas também não sabe definir o que não está gostando? Cheguei até o fim da exploração da primeira dungeon desta forma.
De repente, uma cena fez voltar todo o sentimento que me fez amar P5 em primeiro lugar. Os Phantom Thieves anunciando seu retorno, uniformizados, em todas as telas possíveis espalhando o Calling Card para a grande vilã daquele trecho enquanto todos viam. Naquele instante, no pequeno vídeo de menos de um minuto, eu voltei a enxergar tudo como parte daquele gigantesco universo. E a partir disso, foi só alegria.
Meus amigos, não me entendam errado nessa afirmação, mas a nostalgia é algo extremamente perigoso. Quando nos apegamos demais a algo, mudar dali pode se tornar uma experiência mais dolorosa do que devia ser na verdade. De tanto gostar do jogo original, eu me travei completamente para dar uma chance a Persona 5 Strikers.
Quantas delas não perdemos, ainda mais no mundo dos games, por estarmos presos numa ideia só? God of War quebrou seus padrões e foi muito bem-recebido, mas Resident Evil e Mega Man X, por exemplo, foram extremamente criticados. Eu quase cometi o mesmo erro aqui, porém a Atlus não deixou nada do original se perder e a jornada continua tão incrível quanto era.
Algumas coisas diferem, agora com a exploração tomando todo um território dos locais que visita, incluindo ruas, ao invés de estar preso a apenas um Palácio. Além disso, foram adicionadas várias camadas de enredo aos oponentes finais, tirando aquela imagem de que são seres extremamente maus e cruéis. Isso não muda o fato de que terá de descer a porrada neles, isso se manteve. Mas você tem de salvar as pessoas que tiveram os seus desejos roubados por eles e os próprios, presos em seus traumas pessoais.
Além das armas equipadas, dos inúmeros Personas que você continuará capturando na jornada e o aumento de níveis, uma nova função foi adicionada que é o Bond, em tradução literal é a ligação que existe entre você e o grupo. Quanto mais interagirem e cumprir missões para ajudá-los, ganhará pontos que permitem vários upgrades que vão melhorar a ação de Persona 5 Strikers. Destaco alguns como aquele que recupera parte do HP e SP a cada fim de combate e o aumento de atributos gerais, essenciais para o avanço.
Esse recurso foi adicionado para substituir de forma simples e eficaz o sistema de Confidents, que aqui são inexistentes. Como os heróis viajam por todo o Japão e mal ficam parados muito tempo em certas regiões, é impossível manter o contato direto com alguns deles durante a história. Não que eles tenham sumido por completo, com alguns fazendo uma aparição especial aqui e ali, mas não conte com isso na hora do aperto.
Tropeços de Persona 5 Strikers
No geral, o título continua incrível e é tão bom quanto o seu antecessor. O estilo que cativou a todos continua ali, trazendo o melhor dos personagens e de suas amizades nessa incrível sequência. Acompanhar a jornada deles foi algo marcante na minha vida, cujo sentimento retornou em Persona 5 Strikers. Mesmo com a minha primeira impressão não sendo positiva, ele cumpre exatamente aquilo que oferece.
Porém, isso não evita algumas falhas aqui e ali, que tornam a experiência não sendo digna de ser vista como uma obra perfeita. Em relação ao gameplay, a câmera não dá conta da quantidade de inimigos e ações simultâneas. Os inúmeros prédios e construções sempre acabam na frente de algum oponente e sempre levará um golpe de onde nem estava conseguindo enxergar. Isso em combates comuns nem acaba incomodando tanto, mas em batalhas no Modo Hacker de Futaba Sakura ou contra midbosses isso atrapalha e muito.
Outro ponto complicado de Persona 5 Strikers é a contínua limitação que Morgana te impõe. A Atlus e a Koei Tecmo não conseguiram até agora impedir esse fator e ele atrapalha conforme avança. O maior problema é o bendito gato falando toda hora que você não pode fazer isso ou aquilo, que tem de voltar para dormir, que precisa entrar em algum lugar etc. Muitas vezes você tem a completa noção disso, mas só quer dar uma espiada numa área nova ou comprar algo e a criatura te impede. Um saco, sendo bem sincero.
A interação entre o mundo real e o Metaverso permanece simples, com um influenciando o outro. Separados em trechos específicos agora, na realidade você investigará as atividades de seus oponentes e avaliará se eles necessitam ser parados ou não. Já dentro do local lotado de monstros, se reserva mais à parte das lutas e exploração de todo o cenário mesmo. Você consegue alternar entre ambos com facilidade, como já afirmei, tornando a jornada ainda mais fácil e agradável.
O fator replay também é enorme. Sem o Mementos para você poder treinar, esse papel se atém a revisitar as Cadeias vistas anteriormente. Lá você pode completar várias side-quests diferentes enquanto ajuda as pessoas e os membros da sua equipe, além de estar disponível um rematch com o chefão do lugar. Caso busque por mais experiência e aumentar seu nível de Bond, é a escolha certa para o jogo.
Isso porque eu nem comentei da trilha-sonora, um ponto essencial para a jornada. Com uma extensa lista de músicas novas e remixes do que já conhecia anteriormente, a sensação de que está realmente jogando algo que se passa no mesmo universo é cada vez mais presente. E, sendo sincero, adorei você poder escolher entre as músicas de batalha do P5 e P5 Royal caso tenha os dados salvos dos games no seu PlayStation 4.
Apesar das reclamações e do impacto que Persona 5 Strikers causou logo de cara, eu adorei o título e recomendo a aventura para qualquer um que tenha se afeiçoado aos Phantom Thieves desde o lançamento de Persona 5 em 2017. Mesmo que não curta tanto jogos no estilo musou, a experiência vale a pena e vai te bater da mesma forma como o game original. Não tem erro.
Seja pela música, pelas batalhas, pelas histórias ou pela interação entre os heróis, independente do que te traga até aqui, encontrará uma verdadeira pérola em forma de jogo. A Atlus e a Koei Tecmo estão de parabéns pelo trabalho bem-executado e ele realmente é uma sequência digna de fazer parte do panteão das aventuras de Joker, Panther, Morgana, Skull e dos demais.