Se você foi (ou ainda é) dono de um PlayStation 2, é fato que ao menos já deve ter ouvido falar de Onimusha. A série de samurais da Capcom foi muito popular durante a sexta geração de consoles e até autora de recordes, sendo o primeiro jogo a vender mais de 1 milhão de cópias no PS2 – o que é impressionante, pois não devemos esquecer que foi o console mais pirateado da história.
Mesmo com todo esse sucesso, a Capcom acabou enterrando a franquia sem mais nem menos, sem nem mesmo ganhar títulos nas gerações seguintes, o que é realmente uma pena. Porém, do mesmo jeito que foi pra geladeira está sendo tirado agora, com um remaster do primeiro jogo da série, Onimusha: Warlords, originalmente lançado em 2001.
Talvez seja uma tentativa da empresa de se redimir com os fãs, ou simplesmente um teste para medir a recepção desse port e avaliar se realmente vale a pena produzir um título inédito. De uma maneira ou de outra, Onimusha está de volta, mesmo que não do jeito que queríamos.
Nossa princesa está em outro castelo
A trama se passa no Japão feudal, onde uma guerra entre dois clãs está acontecendo. O clã de Nobunaga Oda (um dos principais antagonistas da série) está massacrando seu rival, e seu líder parece ser estranhamente imortal. O samurai Samanosuke, que está lutando contra as forças de Nobunaga (apesar de não pertencer a um clã), recebe uma carta da princesa Yuki do clã Saito, dizendo que monstros estão atacando seu castelo e implorando por ajuda. Junto com sua fiel companheira, a ninja Kaede, Samanosuke chega tarde demais e Yuki já havia sido levada pelas criaturas. Agora, cabe à dupla investigar o castelo e encontrar a princesa.
O jogo é um hack and slash bem à moda antiga. Com câmera fixa e cenários estáticos, o modo como ele funciona lembra bastante os Resident Evil clássicos, mesmo com uma proposta totalmente diferente. Você terá que explorar tudo ao seu redor, resolver puzzles, levar e trazer itens o tempo inteiro, retornar posteriormente à portas trancadas para enfim destrancá-las e é claro, decorar muitos caminhos. Porém, Onimusha não é um jogo de survival horror, então você fará tudo isso ao mesmo tempo que retalha demônios com sua katana e diversos poderes.
Controlamos Samanosuke e Kaede alternadamente em momentos específicos. Samanosuke é nosso personagem principal e possui um bracelete especial que lhe permite sugar as almas das criaturas que derrotamos. Essas almas nos permitem dar upgrades nas nossas armas e poderes, o que é extremamente necessário, pois algumas portas só podem ser abertas com nossos orbes evoluídos ao máximo. A parte ruim dessa mecânica é que você sempre deve sugar as almas manualmente após o inimigo morrer, e é esperado que se faça isso muito rápido já que elas podem desaparecer se ficarem vagando no cenário – então é inevitável que o desespero em sugar os orbes no meio do combate sempre custe umas porradas contra nosso personagem.
Já Kaede tem um gameplay muito mais simplificado já que ela não pode sugar almas nem usar magias. Ela apenas ataca com sua faca ninja e atira kunais, além de não ser tão forte quanto Samanosuke e ser mais frágil. Em consequência disso, os trechos que jogamos com ela são bem mais escassos e breves, se tornando uma personagem bem secundária. Todos os upgrades de HP/MP e equipamentos novos também ficam exclusivamente pra Samanosuke, então já dá pra imaginar que não é tão fácil encarar aquela abundância de inimigos com nossa ninja aqui.
No geral, Onimusha: Warlords não é um jogo tão difícil. Uma das diferenças deste remaster é que a dificuldade Easy já está liberada desde o princípio, o que não era o caso da versão original. Ainda assim, podemos afirmar que seu nível de desafio é bem considerável por dois motivos: o sistema de recuperação de HP e o sistema de save. O save é manual, como era com quase todos os jogos da época, mas apenas acessível em cenários específicos (igualzinho às máquinas de escrever de Resident Evil). Sempre que morrer, vai voltar pro menu principal, te obrigando a continuar do seu último save.
Isso não chega a ser um problema para os prevenidos que procuram salvar o jogo regularmente (mesmo que isso te obrigue a ficar voltando cenários), mas não é possível pular a maioria das cutscenes do jogo, e basicamente todo chefe possui vários minutos de conversa antes da luta começar – então, já dá pra imaginar como é torturante assistir tudo de novo sempre que você morre em uma boss fight. Bem que a Capcom poderia ter implementado um sistema de auto-save aqui, assim como a Square Enix fez em seus remasters de Final Fantasy XII e The Last Remnant, que além do save manual possuíam save automático a todo momento. Poderia ser um diferencial a mais desse remaster, e muito positivo, diga-se de passagem.
O ponto que realmente dificulta aqui é o modo como seu HP funciona. Quando você já esgotou toda sua barra de MP com todas as armas, não tema: existem fontes de magia que recuperam tudo em um piscar de olhos. Agora, o seu HP, isso sim é um problema. Ele não se regenera sozinho e não existe fontes ou pontos específicos que o recupere para nós (como os espelhos onde salvamos o jogo, por exemplo). O único meio de encher sua vida é usando itens – ervas ou medicamentos – que são bem raros de encontrar e vão faltar constantemente no seu inventário. Outra alternativa é sugando orbes de vida dos seus inimigos, o que ocorre de forma bem aleatória e pode não acontecer mesmo quando estamos mais precisando, portanto não dá pra contar com isso.
Com base nisso, se levar uma surra e ficar com pouca vida, você sempre vai retomar o controle do personagem com pouca vida até que use um item para recuperá-la. Um dos maiores problemas disso é com Kaede, pois ela já possui uma barra de HP muito pequena e, sempre que você retomar o controle dela, ela retornará com a mesma quantidade de energia que estava no último trecho jogado, complicando demais a sua vida.
Dito isso, Onimusha: Warlords é um hack and slash bem estratégico que não vai exigir apenas o esmagamento de um único botão. É necessário ter maestria no sistema de bloqueio de golpes e decorar os padrões de ataques de todos os inimigos para conseguir encarar tudo numa boa. Podendo ser concluído em cerca de 3 horas, esse não é um jogo longo e, uma vez que já se sabe como progredir, é possível cortar esse tempo pela metade, então é o tipo de jogo que podemos detonar em uma jogatina só.
E o que mudou?
Como a primeira metade desta análise visa apresentar o jogo para quem não o conhece, agora é a hora de quem já conhece descobrir se realmente vale a pena adquirir esse remaster. Primeiramente, é interessante frisarmos que essa é uma remasterização da versão mais básica do jogo, pois em 2002 foi lançado o que podemos chamar de “versão completa” de Onimusha: Warlords, intitulada Genma Onimusha, exclusivamente para o Xbox. Essa versão trazia novas áreas, um novo chefe, novos equipamentos e um aprimoramento nos poderes e no combate. Já esse remaster não contém nada disso, o que sinceramente não faz sentido algum: se você vai remasterizar um jogo de quase vinte anos atrás, por que não investir na sua melhor versão?
Contudo, o remaster que recebemos traz texturas remasterizadas em 1080p e uma boa adaptação para widescreen, então o jogo se encaixa perfeitamente no seu televisor sem prejudicar a qualidade da imagem. O que também colaborou com isso foi o fato de não terem “esticado” os cenários (que são pré-renderizados) e sim dado um “zoom” neles, onde a tela vai se adaptando aos pontos em que sua personagem se encontra naquele local conforme você se movimenta. Foi uma maneira astuta de aumentar a qualidade de imagem sem ter que refazer tudo do zero.
Os controles de tanque permanecem (pelos direcionais), mas você também pode controlar sua personagem pelo analógico e ter uma movimentação mais dinâmica, o que é excelente e ainda dá a opção do jogador jogar como achar melhor. A trilha sonora também foi refeita e traz todas aquelas músicas orientais que tanto gostamos com uma qualidade muito maior. Pra fechar, também foi acrescentado conquistas, o que já era de se esperar.
Um detalhe que também foi alterado e permaneceu bizarro foi a dublagem em inglês, que continua digna de pena. Se não bastasse, a sincronização dos lábios com as vozes é péssima – tudo claramente foi feito para se encaixar com a dublagem em japonês, que também recebeu novos dubladores. Felizmente, existe a opção de deixar as vozes em japonês e as legendas em inglês, então é o melhor meio de se jogar.
Ao fim, as únicas diferenças dessa nova versão de Onimusha: Warlords realmente ficaram a cargo do visual e levemente das mecânicas. O resto do jogo permaneceu intacto e com uma experiência muito fiel ao original. É uma excelente maneira de se conhecer um clássico para aqueles que nunca jogaram, e também de revisitá-lo para os veteranos, afinal, é um jogo de 18 anos atrás. Resta cruzarmos os dedos e torcer para que esse seja um presságio de um novo jogo de Onimusha chegando para a atual geração de consoles.