Em 2013, o longa de animação “Tá Chovendo Hambúrguer 2” trouxe para as telas de cinema a simpatia e o bizarro dos “comidanimais”. Fora de controle, a máquina FLDSMDFR passa a não apenas aumentar o tamanho dos alimentos, mas também a conceder-lhes vida própria, baseada em animais. Não faz o menor sentido, mas não é pra fazer: o ecossistema que se instaura convence e convida à aventura.
Sete anos depois, é impossível evitar comparações entre o filme e Nom Nom Apocalypse, para o bem ou para o mal. De um lado, temos a oportunidade de rever o conceito de “comidanimais”, o que deixa correr solta a imaginação dos criadores da Deadleaf Games. Por outro lado, para por aí o apelo do jogo, que falha em oferecer mapas, habilidades, armas e, infelizmente, até mesmo inimigos que sejam interessantes.
Guerra de comida!
Nom Nom Apocalypse tem pelo menos a delicadeza de tentar contextualizar o que está acontecendo (um cuidado que não havia em Genetic Disaster, outro twin stick semelhante em muitos outros aspectos). Na cena de abertura, descobrimos que houve uma explosão em uma fábrica e os produtos químicos mutacionaram os alimentos em monstrinhos e monstrões sedentos de sangue. A única esperança da cidade são as capacidades de luta de quem lida com comida todo os dias: o cara da barraca de cachorro-quente, a garçonete, a padeira e o motoboy de serviço de entrega. Termina aí a trama do jogo.
Há algo no gênero que despeja uma horda de títulos no mercado sem história ou aprofundamento. É fácil entender que o jogador deseja colocar a mão nos gatilhos logo de uma vez e meter pipoco em inimigos. Porém, se até mesmo o truculento FPS aprendeu a misturar narrativa e jogabilidade desde os anos 90, é triste esbarrar em mais um “top down shooter roguelite” que tenta se garantir somente em suas mecânicas e mais triste ainda quando essas mecânicas não trazem nada de novo para o front.
Em Nom Nom Apocalypse, você precisa cruzar cinco mapas diferentes, enfrentando hordas de “comidanimais” randômicos em cenários que também deveriam ser aleatórios, usando uma seleção de armas e habilidades. até o confronto com um chefe monstruoso escolhido ao acaso. O jogo falha em cada um desses elementos, embora brilhe levemente nas batalhas de chefe.
Feijão no pote de sorvete
A baixa variedade de cenários pode decepcionar quem tem agilidade nos controles e come títulos do gênero no café da manhã, para mantermos a metáfora alimentícia aqui. Depois de cinco áreas, é fim de jogo. Entretanto, sempre é possível tentar buscar uma pontuação maior, subir no ranking global ou desbloquear novos personagens.
O problema real dos mapas está no seu aspecto “procedural”: as mudanças entre cada etapa de uma área são basicamente imperceptíveis. Não há componentes exóticos ou raros do cenário que causem algum impacto e a impressão que dá é que os desenvolvedores criaram na mão seis fases, não muito diferentes entre si, e estão fazendo uma rotação debaixo do seu nariz e chamando de randômico. Também falta personalidade nos cenários, trazendo as mesmas arenas que você já viu em tantos e tantos jogos anteriores: ruas destruídas, o interior de uma escola, um chão de fábrica…
Os próprios “comidanimais” tampouco impressionam em seu design. Na verdade, em alguns deles é até impossível saber em qual alimento são baseados, em prol de um visual mais agressivo. Isso muda nos chefes, em que a criatividade da Deadleaf Games atingiu seu ápice. Eles impressionam por seu tamanho, seus padrões de ataques bastante distintos e a forma como os desenvolvedores distorceram comidas tão queridas como Kebab ou a caixinha de macarrão oriental.
Enquanto Genetic Disaster nos oferecia 65 tipos diferentes de armas, Nom Nom Apocalypse dá a impressão de ser bem mais modesto. Além disso, não há uma variação tática satisfatória entre as armas, que apenas alteram a taxa de dano e a cadência de tiro. Quando foge dessa fórmula preguiçosa, a arma não demonstra muita utilidade, como aquela que dispara tiros congelantes, mas não faz dano, exigindo uma troca rápida para terminar o serviço, e não afeta chefes nem um milímetro. A única vantagem(?) de Nom Nom Apocalypse em relação a títulos similares é que as armas são disponibilizadas no jogo de forma gratuita, sem que você precise gastar suas preciosas moedas.
As moedas são utilizadas para comprar habilidades para seus personagens, que dão pequenas vantagens nas partidas. Inclusive, minha recomendação, no início do jogo é não gastar seu dinheiro com munição e cura: seu personagem vai falhar de qualquer forma. Guarde o dinheiro e desbloqueie as Perks, que ficarão permanentemente liberadas para o seu herói. Porém, tampouco se empolgue muito, já que essas habilidades extras não são do tipo divisor de águas na jogabilidade. Continue jogando e novas Perks serão disponibilizadas para compra, ainda que tampouco sejam decisivas, como tínhamos em RAD.
Olha essa dieta!
O resultado final de Nom Nom Apocalypse é um jogo cansativo, cuja premissa e, consequentemente, sua capacidade de encantar se esgotam depois da primeira hora. A trilha sonora consegue ser mais repetitiva que o design dos níveis, o que não ajuda em nada na experiência geral.
Monótono talvez pudesse ser um adjetivo aplicável ao jogo. Meu filho de doze anos, que sempre se torna meu parceiro em títulos cooperativos, praticamente teve que ser forçado a jogar mais de três sessões de Nom Nom Apocalypse e, se houve alguma progresso nesses mapas, foi pelo meu esforço solitário.
Nas partidas cooperativas, ainda por cima, é perceptível um bug do jogo: em determinados momentos, com ação intensa, em que ele e eu apertávamos muitos botões ao mesmo tempo, havia um atraso nos controles ou, pior, nenhuma resposta. Era comum eu solicitar que meu personagem desviasse e isso não acontecer e meu filho relatou o mesmo problema. Nas partidas solo, não apareceu essa falha.
No cômputo geral, Nom Nom Apocalypse é um título que pega uma boa ideia (mas não original) porém não sabe muito bem para onde expandi-la. Pode divertir por uma tarde, de preferência depois de um farto banquete, mas apenas se os jogadores não forem muito exigentes.