Toda vez que vejo um novo game da série Atelier eu sempre tenho vontade de voltar a jogar essa franquia, mas termino por abandonar essa ideia pela preguiça em enfrentar uma light novel com ritmo completamente diferente de jogos como, por exemplo, Persona ou até a recente e grata descoberta de Death end re;Quest. No ano em que a série de jogos criados pela Gust completa 20 anos (não pense que tudo começou agora), esse spin-off chega ao ocidente e comprova que dá para se inspirar nos jogos principais para criar algo divertido e viciante.
Antes que você pense que esse é mais um joguinho de celular bombado e com um visual cativante, Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World consegue apresentar algumas mecânicas agradáveis já conhecidas ao mesmo tempo em que mescla o fan service com missões interessantes. O desafio pode ser baixo e a história manter o padrãozão de um animê slice of life fantástico, mas esta é uma experiência que vale.
Alquimia sem mistérios?
À primeira vista, Nelke & the Legendary Alchemists parece muito Rune Factory. Seja pelo look and feel desse game ou pela proposta de ritmo por conta das atividades que precisamos executar. Ou seja, ele pega a proposta de Atelier e expande para aproveitarmos a mecânica de construção de cidades, sua jornada como alquimista e seus relacionamentos que permearão a história. Um pouco de tudo para tentar agradar uma boa fatia de gamers, principalmente para mascarar um pouco o grande peso para os fãs dessa série.
Você controla Nelke von Lustern, uma aristocrata, nobre e prodígio. Mesmo sendo a melhor em sua classe, ela não nasceu para a alquimia. Isso por si só já é uma quebra de expectativa, afinal dentre as dezenas de personagens que aparecem, seguindo o lore original de Atelier, Nelke já está no começo para dizer: espere por algo diferente. Ela é enviada para uma vila de Westbald para ter sua loja/oficina e trabalhar na construção de um centro comercial importante. Seguindo a mudança da personagem principal, sai o foco na alquimia e a construção dos acessórios fundamentais para a história, destacando a construção dessa cidade.
Dentro desse “simulador” para gerir uma cidade, você contará com Misty Ellude, sua empregada e fiel companheira. Para justificar o Atelier no título e sua função como jogo paralelo, os vários personagens criados nesses 20 anos da série principal vão participar da jornada e fazer o papel fundamental para que a narrativa consiga se desenvolver. Infelizmente a infinidade de personagens acaba sendo quase um catálogo de rostos e designs (muito bonitos por sinal), mas que em algumas ocasiões são superficiais. Alguns personagens são preservados por conta de sua importância no lore como, por exemplo, Vayne, Edge, Pepperoncino e outros nomes desse universo fantástico.
No fim de tudo, o mistério sobre uma árvore e a lenda do Sábio de Granzweit será a grande motivação de Nelke, mas que entre uma missão e outra você conseguirá descobrir um pouco mais sobre as chances que a protagonista terá para se tornar uma alquimista. Esse recorte principal na narrativa e como a jornada é contada é um dos pontos fortes do game.
Contra o relógio
O ciclo de jogo é simples e mantém o formato do gênero: você trabalhará em dias da semana, com horário para iniciar e acabar, além dos dias de folga para investir em outras atividades. Você terá muito trabalho pela frente e como consequência seu personagem precisará administrar sua cidade através dos suprimentos necessários para ver a vila prosperar. E como fazemos isso? Enviando personagens em missões, investigando áreas próximas e com colheita daquilo que pode ser cultivado.
Quase como uma linha de produção fundamentada no capitalismo, os alquimistas e os famosos nomes de outros jogos estarão lá para auxiliar na produção de bens e materiais. Através da sua loja e demais estabelecimentos, você conseguirá dinheiro e os itens necessários para progredir. A cada ciclo finalizado e o que, na minha opinião contribui para o jogador ser fisgado, é o cartão com a nota obtida pelo que realizamos dia após dia. Aliado ao progresso, inclusive visual que a vila sofre com o passar do tempo, o jogo se torna muito recompensador.
Infelizmente o desafio do jogo é muito baixo e a grande punição fica por conta do relógio, afinal todas as suas atividades consomem tempo. Isso inclusive nos seus dias de folga, em que Nelke poderá visitar seus amigos. Tudo isso pode ser um pouco frustrante, até porque a exigência de certos itens pode ser o fator principal para falhar em alguma missão. Com você correndo contra o tempo, se caso faltar algum item fundamental para a conclusão, não adianta seu empenho para realizar a atividade exigida.
O que também consome tempo é a sua exploração fora da cidade. Esta era minha maior expectativa, um dos pontos que me agrada também na série Rune Factory. Tudo é muito simples: separe os personagens que deseja colocar em sua party, escolha sua área de exploração e vá em linha reta até o fim. Isso mesmo! A “exploração” não é muito aberta e tão livre como o termo pode sugerir. Você enfrenta alguns inimigos, coleta alguns itens e vai do ponto A até o B, ou até onde o seu tempo permitir.
Com a exploração conhecemos também uma outro limitação e também a etapa mais repetitiva do jogo: o combate. Extremamente simplificado e baseado em turnos, são curtos e acabam não explorando o potencial dos personagens, principalmente por serem alquimistas e seres mágicos. Longe de ser um RPG, Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World acaba frustrando quando ficamos mais distante da proposta principal: construir sua cidade e seguir a jornada de Nelke.
Um Atelier interessante
Nelke & the Legendary Alchemists: Ateliers of the New World preza pelo visual e imersão nesse universo. Diferente das histórias de alquimia que existem por aí, resgatando um pouco de animês como Madoka Magica, com um quê visual de Arslan Senki e até mesmo personagens que lembram bastante Black Clover, Nelke, Misty e seus amigos desenvolvem uma jornada visualmente belíssima e com uma narrativa atrativa. Por fim a trilha sonora pontua todo o lado moe e kawaii que o jogo se propõe.
Não sei se posso colocar como um dos melhores jogos da franquia, mas com certeza é um bom título para quem deseja entrar nesse universo. Certamente é um bom game, mantendo a boa trajetória da desenvolvedora Gust. E com certeza as sequências animadas, assim como os demais títulos, são de encher os olhos de tão belas que são. Precisa de mais? Acredito que não!