Os heróis fascinam a imaginação da humanidade desde os primórdios da história, seja com grandes contos como Ulisses na Odisseia ou nas HQs modernas de Batman, Superman, Capitão América e muitos outros. Usando dessa ideia tão enraizada na cultura popular, surgiu o anime Boku No Hero Academia e dele veio o jogo My Hero’s One Justice.
O game traz um mundo onde grande parte da população possui ao menos um dom, ou seja, uma habilidade super-humana, garantindo às pessoas possuidoras dessas dádivas, diferentes e inovadores poderes. Nesse mundo, acompanhamos o jovem Midoriya em sua jornada para se tornar o maior herói de todos. Ao lado de seus colegas e amigos ele irá enfrentar diferentes vilões, seus próprios limites e até mesmo o passado da sociedade dos heróis.
Me mostre um herói de verdade, me mostre o All Might!
Infelizmente nosso amigo Midoriya Izuku não possui um dom, algo que, caso você não seja alguém como Bruce Wayne ou Tony Stark, limita um pouco suas chances de heroísmo. Porém durante um ataque de uma criatura que ameaça a vida de seu amigo e rival Bakugou, Midoriya faz seu máximo para o salvar, mesmo sem quaisquer poderes, chamando assim a atenção de seu ídolo, o herói número um, All Might. Coincidentemente All Might estava em busca de um sucessor para o seu dom, o poderoso One for All, passando sua habilidade para o jovem que se mostrou digno e um verdadeiro herói. Inicia-se dessa forma a aventura de Midoriya pelo mundo dos heróis.
Sendo um dos mangas e animes de maiores sucessos ultimamente, seja por sua escrita e história muito bem trabalhada ou pelas ideias geniais de poderes e restrições, eu tinha grandes esperanças para esse título. Porém, como nem tudo na vida são flores, essa esperança caiu um tanto por terra, afinal, o jogo fica muito para trás em relação a outros títulos de anime.
A Bandai Namco é conhecida por trazer jogos de luta incríveis, sejam eles Tekken, SoulCalibur, Dragon Ball Budokai e a muito bem sucedida série Naruto Ultimate Ninja. Com isso em mente, eu esperava que o título produzido pela ByKing Inc. conseguisse seguir os padrões de games de luta de anime produzidos pela CyberConnect2, o que infelizmente não foi o que aconteceu.
O anime original infelizmente não é tão grande, contando com apenas três temporadas até agora, mas isso não é desculpa para fazer um modo história tão arrastado e monótono como visto aqui. Você escolhe a missão e se inicia uma cutscene que não se pode pular antes da luta, mostrando o que está acontecendo naquele universo, simulando a leitura de uma HQ. O problema é que é algo extenso e demorado.
Sem contar que My Hero One’s Justice já se inicia na segunda temporada, pulando todo o primeiro arco do mangá, o que é muito ruim. Afinal ver Midoriya descobrindo os segredos de All Might, a criação do elo entre os dois, etc., é o que mais toca os fãs por mostrar novamente heróis incorruptíveis e que nos façam sonhar em nos tornarmos algo maior do que somos. Além de pular uma importante parte da história: quando o All Might manda o Midoriya comer seu cabelo para ganhar os poderes.
Para os fãs da série, esse descaso desconta pontos da adaptação. Em se tratando de um jogo de luta, talvez pudéssemos até relevar essas ausências, mas os problemas não param por aí.
O elenco de My Hero One’s Justice é ridículo. Por algum motivo, diversos personagens incríveis ficaram de fora do jogo e provavelmente virão – ou não – em um futuro próximo como DLCs. Contando com apenas vinte personagens, o jogo deixa de fora alguns dos queridinhos dos fãs, tais como Present Mic, Midnight, Power Loader, Snipe, Hiro e muitos outros.
Isso contribui para fazer o jogo perder o seu gás de uma maneira rápida, afinal de contas quanto mais melhor. My Hero One’s Justice também traz os temíveis Nemus (Acéfalos) que precisam ser desbloqueados, assim como o vilão All For One, o que ocorre após vencermos o modo história.
Fora o modo história, você poderá jogar um modo de missões que aparentemente serve para cobrir, mesmo que superficialmente, o evento escolar da primeira temporada. Temos também um modo de combate local, um modo online e um modo arcade. O modo de missões é bem divertido de se fazer, pois implica algumas restrições ao jogador e traz um sistema de itens, recuperação de vida e até mesmo coordenação de time.
O modo arcade infelizmente é bem fraco e extremamente previsível. Nele enfrentamos a liga dos vilões em sua maioria e no final sempre lutamos contra o All For One, o que eu acho um desperdício. Como estamos tratando de duas facções no jogo, seria muito mais interessante dividir o arcade onde, caso jogássemos com heróis, enfrentaríamos a liga dos vilões e o All For One, já no caso de jogarmos com os vilões, enfrentaríamos os heróis da U.A e o All Might com seu poderoso One For All no final.
Agora vem a parte que mais me deixou frustrado do game todo: o combate. Começando pelo fato de que o jogo está em português, porém não possui dublagem ou legenda nas lutas. Ou seja, para entender o que dizem no inicio das lutas, é bom que seu japonês esteja nos trinques. Ter legendas é algo de praxe e até mesmo Budokai no Playstation 2 tinha – em inglês mas tinha.
O combate aqui é divertido e permite algumas lutas bem emocionantes, porém os golpes não possuem peso e não são nem um pouco satisfatórios. No jogo há um sistema onde podemos escolher se queremos que os combos se completem sozinho ou se queremos ter controle total, escolhendo entre automático e manual. Os combos são repetitivos e monótonos, as habilidades conseguem surpreender às vezes se bem combinadas, mas os especiais, chamados aqui de Plus Ultra, são na sua maioria ridículos, o que é algo triste, vendo que o anime possui algumas das melhores lutas já feitas, capazes de fazer o pessoal se arrepiar com os golpes desferidos e o impacto que eles tem.
Os cenários são bem interativos, permitindo que os jogadores destruam cidades, salas de aula, salas de pessoas idosas, vulgo Gran Torino, florestas e montanhas, a lista é extensa. Algumas contam até mesmo com a possibilidade de lançarmos o oponente para fora do ringue. Os cenários tentam trazer momentos importantes do anime, como a floresta incendiada do acampamento e até mesmo o hangar onde os Nemus eram armazenados.
A trilha sonora é fraca, me lembra até o Mineta de tão fraca, extremamente sem sal e abandonada de qualquer inspiração, o que mostra como o game não foi tão levado a sério. Estamos falando de um jogo de luta entre super heróis de mangá, um lugar onde qualquer golpe é capaz de explodir três ou quatro quarteirões, ou seja, uma trilha sonora épica é necessária para acompanhar a ação e temos de levar em conta que o anime possui trilhas épicas como Jet Set Run e United States of Smash.
My Hero One’s Justice também traz um sistema de personalização de personagens bem limitado, contando com apenas algumas variações de cores das roupas, alguns itens visuais e a possibilidade de colocar itens de outros heróis em personagens diferentes, mas não é algo que se salta aos olhos como SoulCalibur VI ou outros games que trazem essa mecânica.
O jogador também pode personalizar o seu cartão de herói, que é o que irá fazer a sua apresentação no modo online, podendo trocar o fundo, a sua frase e sua imagem, podendo escolher entre os heróis e vilões como foto de apresentação. Também possui uma galeria onde podemos aprender mais sobre os personagens e seus poderes.
SMAAAAAAASH!!
Infelizmente My Hero One’s Justice fica devendo e muito. Sei que é o primeiro título do que pode ser uma nova franquia de jogos de luta baseados no anime, mas em comparação com outros jogos que a empresa já distribuiu, My Hero One’s Justice deixa a desejar em praticamente todos os aspectos. Combate sem peso, história fraca e contada de maneira desinteressante e trilha sonora sem inspiração.
Levando em conta que o combate, parte mais importante do jogo, é fraco e sem impacto, podemos concluir que decepcionante é o mínimo para descrevermos o game. Para fãs da série, é um jogo que não recomendo, mas caso estejam realmente queiram adquirir o título, talvez seja uma boa ideia aguardar um pouco pela chegada dos DLCs.