Quando vi o trailer de Mugsters pensei comigo: “Caraca, este deve ser um sandbox divertidão!” O visual em cel shading ajudou a aumentar o hype: visto de cima, à distância, mostrando tudo pequenininho lá embaixo. Eu adorei o conceito e comprei a ideia da dev indie finlandesa Reinkout Games. Mas quando finalmente botei as mãos no game, na versão pra Switch, joguei as primeiras fases e logo minha expectativa desabou. Mas antes de pontuar tudo o que não me agradou neste game, é importante salientar que Mugsters é um jogo de um desenvolvedor só: Riku Tamminen. O cara é guerreiro, se esforçou, fez um jogo diferente e com o apoio do programa de incubação da Team17.
Ilhas em miniaturas
A história é simples: alienígenas robóticos invadiram a Terra e cabe ao jogador salvar os humanos escravizados. As fases, 25 ao total, funcionam em forma de ilhas sandbox. Em cada ilha, você deve completar três objetivos: coletar cristais, salvar humanos e resolver alguma treta (como ativar satélites, por exemplo). Somente completando as três, em todas as fases, você consegue finalizar o game. Até aí tudo bem… É como se fosse um jogo mobile exigindo três estrelas por fase.
O problema começa com a monotonia do jogo: não há trilha sonora, apenas um looping irritante ao fundo. Sem introdução ou história, seu personagem é jogado numa ilha com um maquinário bizarro pra salvar a humanidade. À princípio achei que a diversão viria da manipulação da física, que aqui apenas cumpre o papel de promover efeitos visuais como a destruição do cenário.
Os veículos, tanto terrestres quanto aéreos (mais de 30), são muito bem feitos. Dá pra sentir o peso, a velocidade, o girar do volante. Num balão, por exemplo, a física realmente impressiona. Porém vi ela falhar com coisas triviais, como deixar o carro parado em cima de um botão para abrir um portão. Ao sair do veículo ele começou a andar sozinho lentamente, desativando o botão e prejudicando toda a missão ao me trancar do outro lado.
Os primeiros inimigos são mutantes (cobaias humanas) com duas cabeças, que não fazem nada exceto vir pra cima e morrer fácil após levar alguns socos. Se você tomar dano, a tela fica avermelhada como em Call of Duty, com sua saúde recuperando aos poucos. Mas normalmente você morre num baque só: com explosões, armadilhas, capotando um veículo, caindo no mar, etc. E isso acontece frequentemente, já que qualquer erro besta pode lhe forçar a reiniciar a ilha. E toda vez que isso acontece, menos vontade você tem de continuar.
Mugsters até oferece alguns puzzles interessantes pra resolver, geralmente envolvendo a exploração completa da ilha. Quando novos veículos e inimigos são introduzidos, a empolgação melhora um bocado (ainda que temporariamente). Há inclusive uma nave alienígena gigante que, ao te perseguir, gera uma tensão divertida. Eu realmente gostei da liberdade que o game proporciona, de resolver os objetivos da maneira e ordem que preferir. Ainda mais pelo fato dos veículos influenciarem bastante na resolução das missões.
Malditos humanos!
No meio disso tudo há um problema grave: a Inteligência Artificial. Os alienígenas reagem na base da perseguição, sem muita margem pra erro. Mas os humanos, socorro… Ao resgatá-los de suas prisões, você precisa guiá-los até um veículo de fuga (geralmente um avião). Isso seria fácil se a IA não atrapalhasse tanto: eles frequentemente travam pelo cenário ou fazem burrices do tipo atravessar uma ponte que já desabou. Imagine a frustração de ter feito tudo certinho e ver um NPC sabotar a porra toda.
Se não houvesse a obrigatoriedade de levar os humanos em segurança ao veículo, uma vez que eles não se defendem e guiando-os como uma babá, a experiência provavelmente seria melhor e mais dinâmica. Algo como Michael Jackson resgatando criancinhas no jogo Moonwalker: elas saem correndo e tá tudo certo. Okay, desenterrei essa… Mas deu pra sacar, né? Com isso o foco estaria mais voltado para os puzzles e a utilização dos veículos para algo mais divertido, como a destruição à moda Blast Corps (Nintendo 64).
Felizmente, há uma opção para jogar com um amigo em co-op. Isso facilita (e muito) a conclusão dos objetivos, mesmo nas ilhas mais difíceis – que incluem naves com abdução, torretas com mísseis e tudo mais. Por fim cada ilha 100% concluída ativa seu respectivo time trial, acessível pela ilha principal que funciona como hub para ver o seu desempenho no jogo – além de visitar os humanos resgatados à espera da evacuação e brincar de corrida numa pista própria para isso, com veículos desbloqueados. Enfim, pequenos detalhes pra esticar a curta duração do game.
Mugsters dava pra ser melhor, bem melhor. Independente de você gostar ou não de jogos sandbox, este aqui não empolga o suficiente. A falta de uma boa trilha e apresentação, para reforçar a ameaça alienígena, pesa demais na experiência toda. No fim temos um jogo casual sem brilho e carisma. É mais um exemplo de indie que merecia ter ficado mais tempo no forno, pra sair moreninho e apetitoso.