Quem aqui não conhece Dragon Ball? Goku, seu grande herói, é um personagem baseado na novela épica chinesa Jornada ao Oeste. Nela, o macaco Son Wukong e seu companheiro se aventuram numa grande aventura para recuperar os escritos budistas que estavam na Índia. Munido de sua nuvem voadora e seu bastão que altera o tamanho, ele é extremamente veloz e poderoso, um inimigo que ninguém gostaria de ter. Algo que o game Monkey King: Hero is Back, desenvolvido pela Hexa Drive com apoio da Sony Interactive Entertainment, reitera.
Se acha a ligação dele com Dragon Ball fraca, o personagem chinês também inspirou personagens em League of Legends, DOTA 2, Persona 5, Arena of Valor e Warframe, o personagem Yonbi em Naruto também utiliza-o como base e até mesmo o autor de One Piece confessa que Monkey D. Luffy nasceu inspirado pelo herói. Até mesmo Diablo 3 possui um set de armaduras baseado nele. Com um currículo desses, as publishers THQ Nordic e Oasis Games, além da co-produtora October, tinham um legado e tanto para o novo game baseado na lenda.
Chinês até a sua raiz
A primeira coisa que devo citar aqui, sem sombras de dúvida, é o respeito e a caracterização da China como cenário principal do título. Monkey King: Hero is Back, sendo baseado numa animação chinesa e produzido no país, não possui a preocupação de se americanizar e traz uma completa imersão no cenário feudal daquela cultura. Os sons, os recursos gráficos, tudo te deixa bem claro que não haverá uma puxada ocidental.
Essa primeira impressão é fortemente marcada pela história de Sun Wukong. Um grande lutador e reconhecido até pelos deuses, se rebelou e iniciou uma grande guerra divina, sendo impedido por Buda de manter os confrontos. Sendo preso e selado, ele desperta 500 anos depois e tem de provar que usará suas habilidades e poder para o benefício das pessoas. Nada feliz com a situação, ele só compra a ideia quando oferecem seus poderes de volta caso cumpra uma série de tarefas.
Acompanhando ele em sua jornada, estão o jovem Liuer e sua irmã, a bebê An-An, que libertou o macaco de seu aprisionamento e corria perigos contra uma invasão de monstros. O divertido Pigsy também se torna um aliado, trazendo uma relação mais rivalizada e cheia de comentários sobre as atitudes egoístas do protagonista.
Isso, misturado ao cenário de Monkey King: Hero is Back, com itens, pinturas, estátuas, personagens importantes da mitologia e folclore da região e até mesmo com o próprio Son Wukong, te faz sentir que a essência chinesa está em todos os lugares e isso é muito importante atualmente. A representatividade da cultura e dos costumes da China está de parabéns e, antes de jogar, dê esse crédito absoluto de um mercado que está recebendo grande destaque atualmente e conseguiram transpor algo tão delicado numa plataforma de uma maneira que muitos não conseguem.
Rei Macaco, o Herói das Crianças
Em relação ao próprio Monkey King, outra realidade que devemos assumir é que, por se tratar de uma versão para videogames baseada numa animação infantil, ela se direciona claramente às crianças. Não que um adulto não consiga se divertir ou não aproveite o jogo, mas não espere por puzzles mirabolantes, debates grandiosos sobre religião e cultura ou uma gameplay muito elaborada.
Son Wukong tem dois golpes, um forte e um fraco, um botão para pular e outro para interagir com o cenário. Escapa com o gatilho direito, utiliza magias e itens com o R e L e ali está a jogabilidade. As magias utilizadas podem dar uma pitada a mais durante os confrontos, com uma variedade que agradará a diferentes formas de se jogar.
No meio dos embates, você poderá entrar em um quick time event, que dará um combo especial de finalização nos monstros ou grandes inimigos que esteja enfrentando. Mesmo com isso, as batalhas com o tempo se tornam entediantes e uma repetição constante de esmagamento dos botões. Alguns oponentes se salvam com mecânicas diferentes, mas não acontece com regularidade.
O mapa, apesar de ter uma ambientação bem grande para explorar e um conjunto de áreas secretas, é extremamente linear e não dá liberdade de explorar e interagir com o universo da forma que assim desejar. Por ser um jogo de temática para crianças, óbvio que isso não é o mais importante, mas uma pessoa aqui ou ali sentirá a falta de um fator replay ou terá a sensação de que não explorou certos trechos como desejava.
Vale a pena, mas há ressalvas
Monkey King: Hero is Back se resume a bater nos monstros, chegar até o chefão e derrubá-lo também para seguir para a próxima área, enquanto os deuses liberam suas habilidades perante aos grandes perigos. Apesar disso, o meio de toda essa saga vale completamente a jornada. Durante as fases, você encontra poemas e inscrições dos deuses que te permitem conhecer ainda mais a forma como eles enxergam o mundo.
Sendo sincero, esse fator de enxergar a cultura deles e aprender mais sobre as grandes figuras que movem suas crenças e modo de vida valem a jornada. Os personagens são cativantes, cheios de carisma e de atitude, garantindo alguns momentos de risos e de compreensão. O macaco não é tão egoísta e ruim como é pintado, e suas camadas são bem interessantes de serem percebidas durante a gameplay.
Um dos maiores defeitos do jogo é a quantidade absurda de telas de carregamento. Competindo fortemente com Jump Force, Monkey King: Hero is Back não consegue fazer absolutamente nada sem carregamentos. Uma conversa, corta para a tela de espera. Entrou numa área, a mesma coisa. Apareceu um chefão, não tenha dúvidas que isso aparecerá. Você quer apenas subir uma escada, também há cortes.
Ok, é um jogo infantil e de uma equipe de desenvolvimento indie da China, que admito ter feito um trabalho muito bom em relação ao título. Mas essas telas desapontam e tiram completamente o ritmo do jogador, te fazendo perder a atenção facilmente nos impactos causados pela história ou pelos confrontos. Dando um pouco mais de tempo do que necessitava para respirar, não estranhe se o seu interesse acabar sumindo aos poucos.
Mesmo com essa falha, que pode ser corrigida através de atualização, Monkey King: Hero is Back é um game que merece um destaque total pela carga cultural que ele traz e por ser uma porta de entrada para outros jogos que abracem a ideia surjam com o tempo. E não digo apenas da China, mas de outros países que hoje jogam no básico e acabam perdendo a chance de mostrar ao mundo quem são.
Voltado para as crianças, mas sem deixar de dar alguns atrativos para os maiores, o jogo é um ótimo alívio para conferir uma excelente história e ter um contato como era na época de PS1/PS2 com seus personagens favoritos. Vale a conferida e pode te surpreender ao apresentar de forma direta à lenda que inspirou diversas aparições na mídia ao longo das últimas décadas.