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A Atlus produziu Metaphor: ReFantazio como um “terceiro pilar” de suas grandes franquias, coexistindo com Persona e Shin Megami Tensei entre os RPGs que são desenvolvidos pelo estúdio. Porém, diferente dos demais, esta proposta é trazida através de um mundo de fantasia – onde existe magia, dragões, reis e elementos místicos.

Mesmo com uma mudança tão brusca dos aspectos urbanos, isso não fez a peteca do Studio Zero cair – na verdade muito pelo contrário. Você nota semelhanças como as mecânicas sociais, uso de seu espaço de tempo dentro de um calendário próprio e outros pequenos detalhes, mas não se engane: eles conseguiram elevar o seu próprio nível e trouxeram a experiência definitiva de todos os últimos games que produziram recentemente.

O mundo de Metaphor: ReFantazio

Antes de falarmos sobre as mecânicas e o que torna Metaphor: ReFantazio tão único, é imprescindível que tenha um conhecimento básico sobre a sua história primeiro. O reino de Euchronia vê a morte de seu monarca, fato que leva todos a se questionarem quem assumirá o trono a partir dali.

Enquanto muitos acreditam que a igreja assumirá o comando do vasto território, outros apoiam Louis – um prodígio que alcançou um grande prestígio entre os militares e promete mudar as coisas para todos em prol de sua visão de igualdade. Há diversas raças diferentes de seres conscientes, o que levou a algumas delas a sofrer grande preconceito na sociedade e também a grandes conflitos, com Louis prometendo encerrar isso.

Metaphor: ReFantazio

O protagonista de Metaphor: ReFantazio e a fada Gallica estão em uma missão para confrontar Louis, levando em consideração que eles acreditam ter sido ele o responsável pela maldição que impede o príncipe herdeiro de assumir o papel de líder desta nação. É neste cenário que você mergulha inicialmente, vendo grandes confrontos sociais e também pela coroa, que será decidida pela popularidade – similar ao processo democrático.

Como um dos candidatos, cabe ao personagem central da aventura percorrer as diversas cidades e locais esquecidos pelos demais, buscando o apoio das pessoas e também ajudando elas em seus problemas enquanto participam do “Torneio do Trono” – um evento organizado pela igreja Sanctária para determinar quem é digno o bastante para receber apoio do povo.

O poder dos Arquétipos

Para ajudar o herói de Metaphor: ReFantazio e seu estelar elenco de aliados, um poder está ao seu lado: os Arquétipos. Este sistema permite que eles despertem um poder oculto, que existia apenas em antigas lendas sobre grandes figuras históricas e funciona como as classes vistas em vários outros RPGs. Temos o Guerreiro, Mago, Cavaleiro, Polímata, Ladrão e mais alguns 40 distintos que você obtém durante a jornada.

Devo admitir que este sistema é muito mais interessante do que eu imaginava, contando com evoluções naturais e exigindo que o jogador trabalhe em conjunto de outros para avançar ainda mais e desbloquear novas habilidades para eles. Isto garantirá que seu grupo de personagens não estará preso a apenas um estilo de luta e aos seus equipamentos, ampliando a visão estratégica da equipe e gerando uma rotatividade saudável.

E é neste aspecto que vários elementos de Metaphor: ReFantazio se interconectam. Você precisa aumentar seus próprios atributos como Sabedoria, Eloquência, Coragem etc. para ter novas interações sociais, a partir delas receber novos Arquétipos e também facilidades – como herdar mais técnicas, gerar evoluções e outros fatores.

Metaphor: ReFantazio

Entrando de cabeça no jogo

Agora que conseguimos explicar uma grande parte do que gira ao redor do RPG da Atlus, finalmente podemos conversar um pouco de como a experiência se desdobra e em como isso se transformou em um dos meus jogos favoritos deste ano de 2024, ao lado de Like a Dragon: Infinite Wealth.

Metaphor: ReFantazio não tem apenas uma excelente e exemplar construção de personagens, mas também de todo o mundo ao seu redor. O que contei para vocês acima é apenas a ponta do iceberg, que se desdobra de formas que eu não poderia imaginar.

“Mostram como a realidade, tanto do jogo quando a que nós temos aqui no mundo real, sempre foi e será moldada por interesses. “

E quando digo isso, não me refiro apenas às reviravoltas clássicas – como uma morte desfeita aqui, uma invasão que dá errado ali ou coisas do gênero. Também mostram como a realidade, tanto do jogo quando a que nós temos aqui no mundo real, sempre foi e será moldada por interesses. Todas as histórias possuem camadas e às vezes estamos ocupados demais olhando para o lugar errado, sem notar as nuances de tudo ao nosso redor.

Acredito que isso se traduz muito bem em Metaphor: ReFantazio, tanto em sua narrativa quando na ação de todos os personagens ao seu redor. Para ser honesto com vocês, acredito que alguns detalhes podem surpreender até quem estiver jogando a história pela segunda vez.

Metaphor: ReFantazio

Batalhas intensas e repletas de estratégia

Como disse acima, os Arquétipos são uma parte essencial do sistema de combate e habilidades de cada personagem, mas isso não é tudo. Este RPG é dividido em duas frentes, com o “combate tático” sendo o habitual confronto em turnos e o “combate rápido” permitindo que derrube oponentes sem perder tanto tempo assim.

A Atlus mostra que através do “combate rápido”, você tem o comando da ação de Metaphor: ReFantazio em tempo real – batendo em qualquer criatura ou oponente que estiver próximo e gerando uma grande vantagem no “combate tático”. Eles podem ser iniciados com o oponente em estado de choque ou até serem vencidos antes de entrar nos turnos – dependendo da diferença entre o seu nível e o deles, obviamente.

“Chega de entrar em uma masmorra e ter inimigos aleatórios surgindo o tempo todo”

Isto vai te economizar um tempo que sequer faz ideia, tornando as explorações ainda mais dinâmicas do que qualquer outro RPG. Chega de entrar em uma masmorra e ter inimigos aleatórios surgindo o tempo todo, levando um local em que conseguiria visualizar e encerrar o que há ali em menos de 30 minutos em uma grande exploração que tomará 1 hora da sua vida ou mais. Neste aspecto, eles acertaram demais.

Engraçado que isto já foi testado no passado, com Persona 5 permitindo que Morgana atropelasse e vencesse automaticamente adversários mais fracos dentro do Mementos. No entanto, aqui isso funciona o tempo todo e não é restrito a alguns locais da história. Vamos supor que você resolveu treinar e ficou muito acima do nível para encarar um trecho principal. Até lá você perderá um tempo consideravelmente menor lá, graças ao seu treinamento.

Metaphor: ReFantazio

A imagem do rei

Outro ponto bacana de Metaphor: ReFantazio é que a Atlus tratou o seu visual como se você estivesse vendo uma gravura, uma imagem de livros fantasiosos de sua infância e coisas do gênero. Mesmo que os personagens não estejam muito distantes do que já foi visto em Persona 5 e Persona 3 Reload, há um efeito visual por cima deles que foi uma escolha artística bem da acertada e traz a impressão de acompanharmos uma publicação ganhando vida em nosso videogame.

Os cenários também foram muito bem construídos, com Euchronia ganhando vida através de toda a experiência. Cidades bem distintas entre si, várias raças de personagens caminhando nas ruas e presentes dentro dos demais ambientes, paisagens belas e criativas, masmorras envolvendo castelos, cavernas, vulcões e torres também chamam a atenção – por mais que eles podiam ter sido um pouco mais criativos na estrutura delas, diga-se de passagem.

Não notei quedas de desempenho e problemas com bugs, glitches ou travamentos, ao menos no PlayStation 5. Toda a experiência rodou de forma bem fluída e veloz, seja através do carregamento ou nos combates de Metaphor: ReFantazio. Tudo correu da forma que devia aqui e exibe mais uma vez a maestria do Studio Zero de trazer um conteúdo que não tenha problemas técnicos ou cause dores de cabeça.

A coroa é de ouro, mas o trono não

Após vivenciar tudo o que o novo RPG da Atlus tinha a oferecer, posso afirmar para vocês que amei tudo que prepararam na história, desenvolvimento do mundo e dos personagens e também das batalhas no geral. Todos os elementos se apresentam muito bem ao público e a atenção é mantida do início ao fim, sem margens para trechos menos interessantes ou que gerem uma fuga do tema proposto.

No entanto, tenho uma grande reclamação a fazer sobre Metaphor: ReFantazio e é o seu sistema de calendário. Ele te dá um espaço para explorar, interagir socialmente com os demais personagens e ampliar seu crescimento, mas senti que não foi uma abertura tão agradável assim que a Atlus deu. Já no fim da história, é perceptível que você teve de fazer escolhas de prioridade e algo que podia ter acrescentado ainda mais ficou de fora.

“Esta parte da dificuldade realmente foi implementada e para melhor”

Metaphor: ReFantazio

Claro, caros leitores, essa pode ser justamente a proposta. Eles mesmos mencionaram que os jogadores não conseguiriam explorar todas as masmorras e que elevariam o grau de dificuldade em relação à franquia Persona. Esta parte da dificuldade realmente foi implementada e para melhor, senti mais desafios em determinados trechos. Porém, a custo do tempo de imersão não acho que foi um custo tão irrelevante como eles planejaram.

Você poderia muito bem desejar ter passado mais tempo com aquele personagem secundário para entender melhor sua história, consequentemente desbloqueando um novo Arquétipo ali e até recebendo bônus que seriam importantes nos combates mais decisivos – como a possibilidade de fugir de todas as batalhas opcionais ou até receber uma quantia considerável de dinheiro de tempos em tempos.

O saldo é positivo

Ainda que isto tenha me incomodado de certo modo, Metaphor: ReFantazio me deu uma impressão muito positiva e eu estou ansioso para ver novas aventuras dentro desta franquia. Mesmo com a experiência de seus jogos mais recentes, como Persona 5, Shin Megami Tensei V e até Soul Hackers 2, eles me surpreenderam e trouxeram algo que acrescentará a todos que derem uma chance.

É aquela infame frase, o que importa é o caminho que atravessamos para chegar ao destino final – não o próprio fim. Deixei de conhecer a história de alguns aqui, não enfrentei um chefão que desejava ali, mas toda a jornada se justifica e você encerrará satisfeito com tudo o que conquistou até ali.

Metaphor: ReFantazio é digno de sentar não apenas entre os melhores RPGs deste ano de 2024, mas também como um dos mais interessantes e criativos desta geração. A Atlus mais uma vez consegue envolver o público, trazendo um universo que vale a pena investir seu tempo e mergulhar diretamente nas suas histórias. E não é isso o que realmente importa?

97 %


Prós:

🔺História e personagens excelentes
🔺Os Arquétipos trazem ainda mais estratégia ao RPG
🔺O visual chamará a sua atenção
🔺O “combate rápido” foi a solução ideal para economizar tempo

Contras:

🔻 As dungeons podiam ser um pouco mais criativas
🔻 O calendário limita bastante os jogadores

Ficha Técnica:

Lançamento: 11/10/2024
Desenvolvedora: Atlus
Distribuidora: SEGA
Plataformas: PS4, PS5, Xbox Series e PC
Testado no: PS5