Muita gente teve seu primeiro contato com RPGs táticos através do saudoso Final Fantasy Tactics – um jogo realmente incrível. Já no meu caso, comecei por um título bem obscuro do gênero: Bomberman Wars, o game que introduziu o famoso homem-bomba em um mundo medieval e… tático! Acho que é por isso que sempre me senti muito à vontade para testar qualquer jogo que se aventure no estilo, independente da franquia.
A ousadia da vez vem da franquia Metal Slug, que há muito tempo já se aposentou do shoot ‘em up e, nos últimos anos, apareceu somente em gêneros alternativos. Metal Slug Tactics introduz todos aqueles tiroteios frenéticos e intensos em um contexto totalmente estratégico – e com uma pitadinha de roguelike. É uma mistura bizarra em todos os sentidos, então esse é um daqueles jogos que dividem opiniões.
Uma nova missão
Assim como de costume na franquia, Metal Slug Tactics reúne os maiores combatentes do universo em uma guerra contra o cruel General Morden – que mal escapou da prisão e já conta com três armas de destruição em massa prontas para destruir o planeta. A diferença é que, ao invés de você sair metralhando o botão de tiro (torcendo para não ser atingido no caos do tiroteio) em linha reta, aqui seu papel será explorar estratégias para vencer o exército inimigo.
Para quem não está familiarizado com o gênero, Metal Slug Tactics segue exatamente a premissa básica de qualquer outro título semelhante: os cenários são dispostos em quadrados divididos em células. Em cada turno, seus personagens podem se movimentar dentro de um espaço limitado e suas ações vão depender de quantos pontos se tem disponíveis naquele momento.
Contudo, nesse gênero as batalhas costumam ser pré-definidas em certos detalhes, como disposição do cenário, posicionamento inicial dos inimigos etc. Neste jogo, os elementos de roguelike tornam os combates completamente aleatórios nesses quesitos e em tantos outros – uma ideia ousada, mas que é inegavelmente muito frustrante.
Quando pensamos no Metal Slug clássico, a primeira coisa que vem à mente é que são jogos muito difíceis. A equipe da Leikir Studio levou essa nostalgia muito a sério e conseguiu converter a dificuldade dos originais dentro do sistema tático. Metal Slug Tactics tem uma dificuldade acima da curva, mesmo para quem já é familiarizado com o gênero; muito disso se deve ao seu lado roguelike, outro estilo que já é naturalmente intenso.
Imprevisível até demais
O objetivo do jogo é passar por cinco ou seis batalhas até chegar no chefe; ao vencer o desafio principal, avançamos para uma sequência diferente. Contudo, as batalhas são completamente aleatórias e nos dão a liberdade de seguir rotas distintas até o destino final. Por esse motivo, muitas vezes é difícil se preparar antecipadamente – pois você nunca sabe o que vem pela frente!
Até mesmo os objetivos são randomizados. Em alguns confrontos, você deverá derrotar todos os inimigos, enquanto em outros precisará apenas sobreviver por alguns turnos. De uma forma ou de outra, não costuma ser uma tarefa simples, principalmente porque o jogo está constantemente jogando seus personagens aos lobos! O posicionamento inicial de cada um quase sempre é separado e no meio de vários oponentes, resultando em uma morte um tanto precoce.
Chegar no chefe já é um feito e tanto, mas são nesses confrontos que descobrimos a verdadeira dificuldade do jogo. Todas as máquinas de guerra são extremamente apelonas e ainda contam com o auxílio de outros inimigos, então não espere uma batalha justa. Caso você morra, voltará desde o início do percurso, assim como em um roguelike. Ao menos, nem tudo estará perdido – a ideia é sempre retornar mais forte do que antes.
A experiência obtida durante as batalhas rende alguns truques extras para a próxima tentativa, incluindo armas mais poderosas e até veículos de combate. Dessa forma, cada run tende a ser menos frustrante que a última, mas nunca deixa de ser desafiadora. Assumo que demorei um pouco para começar a me divertir com Metal Slug Tactics, mas com o tempo, a frustração começa a se transformar em determinação.
Ainda assim, alguns fatores do gameplay não me agradaram muito. O principal deles é o fato de só ser possível atirar em inimigos que estão no mesmo nível que seu personagem; caso você esteja um mísero degrau acima ou abaixo, pode esquecer. O sistema de cobertura também é esquisito: basta estar atrás de uma parede para se proteger de qualquer tiro, mesmo que ela só cubra metade do seu alvo. São fatores que ajudam e atrapalham na mesma medida.
No demais, não temos do que reclamar. O visual segue o mesmo estilo de pixel art dos jogos originais, com cores fortes e personagens bem animados. Tudo aqui é muito nostálgico para quem jogou os clássicos, inclusive as frases e efeitos sonoros. É uma forma totalmente nova de se jogar Metal Slug, mas não deixa de ser um jogo da franquia.
Metal Slug Tactics certamente não é para todo mundo. A combinação de RPG tático com roguelike funciona, mas está longe de ser uma experiência acessível. O jogo é difícil e frustrante assim como seus antecessores costumavam ser, mas deixando de lado toda a parte mais frenética do gameplay. Esse aqui é só para quem ama estratégia – e tem paciência de sobra para recomeçar incontáveis vezes.
Prós:
🔺 Boa adaptação da franquia para o gênero tático
🔺 Uma mistura interessante de RPG com roguelike
🔺 Sistema de progressão frustrante, mas instigante
🔺 Consegue ser nostálgico
Contras:
🔻 Sua dificuldade certamente vai afastar muitos jogadores
🔻 Os chefes são apelões em um nível injusto
🔻 Alguns elementos do gameplay não funcionam bem
Ficha Técnica:
Lançamento: 05/11/2024
Desenvolvedora: Leikir Studio
Distribuidora: Dotemu
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch, PC
Testado no: PS5