William Chyr iniciou de maneira despretensiosa um projeto chamado “Relativity” em novembro de 2012, apenas para aprender o básico sobre desenvolvimento de jogos e da plataforma Unity 3D. Porém após concluir um protótipo do projeto, pessoas que o testaram ficaram impressionadas com o conceito e encorajaram Chyr a continuar com sua empreitada. Assim nasceu Manifold Garden, que em pouco tempo esteve cotado para diversas premiações em grandes eventos como PAX East, Tokyo Game Show e até a E3.
Inicialmente chegando com exclusividade pela plataforma Epic Store no PC e no serviço Apple Arcade no iOS, o título é uma mistura do gênero puzzle com física, que envolve gravidade e perspectiva, se assemelhando muito a jogos como Portal e Quantum Conundrum. Basicamente a ideia é solucionar os puzzles manipulando a gravidade e alterando a perspectiva para ter ‘uma nova visão do mundo’.
Um mundo impossível
Manifold Garden é um jogo abstrato – e muito psicodélico em alguns momentos -, que diferente dos títulos supracitados, não conta com uma trama propriamente dita, mas um conceito. Neste universo, a natureza (vegetação) está corrompida e nosso objetivo é restaurá-la de volta à vida. Entenda que nada disso é bem claro, na realidade pouca coisa de fato tem algum sentido aqui.
Tendo como inspiração a arte impossível de M.C. Escher e elementos do filme A Origem (Inception), a arquitetura das fases são realmente obras de arte interativas. Apesar de minimalista, ela se expande de uma maneira descomunal ao longo das fases, algo que chega a ser até intimidador com tal magnitude. De início parece ser um jogo simples e comum, mas em pouco tempo faz as pupilas dilatarem de tão espantoso.
A maior parte do gameplay de Manifold Garden é silenciosa, sem muita interação sonora no geral para além dos efeitos. A trilha apenas se apresenta em determinadas ocasiões específicas e segue a mesma linha do jogo, sendo minimalista, criando uma atmosfera enigmática e às vezes de tensão.
A mecânica principal de Manifold Garden é relativamente simples, colete blocos (que são frutos das árvores) e combine com sua contraparte para liberar o acesso para a próxima sala. Evidentemente, essa simplicidade se torna mais complexa quando envolvemos gravidade e perspectiva no decorrer. Haverão locais que só poderemos alcançar alterando a perspectiva da sala, ou seja, mudando o centro de gravidade.
Nada de portais
Ao chegar próximo de uma parede, a cor do cursor irá mudar, indicando que é possível alterar para aquela perspetiva. Executando tal ação, aquela se tornará a superfície. Dessa forma somos capazes de andar em qualquer superfície visível, bastando se aproximar e alterar para ela – ou seja, andar pelas paredes e pelo teto.
Em determinados momentos é comum se sentir perdido, ou não saber como ou para onde ir, e essa sensação se agrava devido aos cenários infinitos. Para ajudar a identificar em qual superfície está, elas são indicadas por cores, entre azul, vermelho, amarelo e verde. Essas mesmas cores indicam os blocos que necessitam ser coletados. Assim, ao encontrar um mecanismo de acionamento, a cor dele irá indicar em qual superfície a árvore que gera esses blocos está localizada.
Não tenha medo de cair
Outro elemento interessante de Manifold Garden é a possibilidade de explorar ambientes externos, isto é, fora de salas fechadas. Este aspecto consegue ser ainda mais proeminente, pois envolve o uso fundamental da gravidade. Os cenários são infinitos, e em determinadas ocasiões para se ter acesso a certo local, será necessário fazer um ‘salto de fé’ rumo ao infinito – mas não se preocupe, você não irá morrer. O cenário se repete em um loop sem fim, e nesse momento controlamos a direção em que iremos cair/pousar.
No decorrer do percurso, os puzzles se tornam mais complexos, não necessariamente na sua resolução, mas no aspecto da exploração, na forma como iremos chegar a certo ponto do cenário ou encontrar onde está certo local. Novos tipos de puzzles também são apresentados, como um que envolve levar um globo por uma espécie de encanamento, no qual somos desafiados a alterar a gravidade para que tal esfera chegue a seu destino.
Algo que incomoda um pouco durante a jogatina é o fato dos cenários serem muito claros, e já que cores próximas ao branco são recorrentes, é um fator que cansa a vista quando exposto por longos períodos de tempo. Nos ambientes fechados não chega a ser incômodo, devido as sombras, porém nos abertos chega a ser desconfortável. Uma solução seria ter utilizado uma cor mais neutra, menos reluzente.
Manifold Garden é uma experiência bastante intrigante e diferenciada. Seus conceitos de perspectiva, gravidade e infinito criam uma mistura psicodélica de proporções magistrais. Para aqueles que curtem jogos de puzzle a la Portal, essa é com certeza uma boa pedida e para aqueles que curtem experiências diferenciadas também. Se jogue – literalmente – nessa viagem alucinante.