Eu sou fiel ao pensamento de que são os limites e os obstáculos que definem um bom design ou criação. Um exemplo que geralmente uso no contexto do meu trabalho é o do papel em branco: dê-me um papel em branco e uma caneta e diga “desenhe qualquer coisa” e eu choro. Agora dê-me o mesmo papel em branco e diga “desenhe algo utilizando só linhas retas sem tirar a caneta da folha de papel” e eu sei por onde começar. Madcap Castle é o tal desenho de linhas retas. Um desenho genial, diga-se de passagem.
Recarregando as baterias em Madcap Castle
Madcap Castle é uma evolução do jogo Mad Mage Tower, também criado por Diel Mormac durante a Bacon Game Jam 10, cujo tema era “uma arma, muitos usos”. Em Madcap Castle você controle o Mad Mage, que está exausto de ver as baterias do seu Mage Boy acabarem rápido demais, partindo então numa aventura dentro de um castelo em busca da tão falada bateria infinita. Devo confessar, em 7 linhas de texto o jogo conseguiu criar uma história e motivações que causaram mais empatia em mim do que muitos jogos AAA por aí 😛
As mecânicas são simples de início, mas elas tendem a ficar mais complicadas conforme a jogadora progride na aventura. Basicamente, Madcap Castle é um jogo de plataforma e puzzles 2D que exige boa coordenação, timing e leitura das fases para atingir o próximo nível. Cada nível do castelo possui uma habilidade diferente para o seu bastão de mago e as fases dentro de cada nível irão explorar essa habilidade até o seu limite.
São mais de 150 fases no geral e é de espantar o quão criativas muitas delas são e também o fato de que nunca ficamos com aquela sensação redundante de “já passei por isso antes”. Infelizmente, em alguns momentos, por conta dessa estrutura de apresentar novas habilidades a cada nível, a curva de desafio do jogo fica um pouco irregular demais, mas nada que comprometa a experiência como um todo. E um alerta: algumas fases são bem complicadinhas de passar. Não é um jogo fácil!
Um jogo de Game Boy fora do Game Boy
A simplicidade e eficácia de Madcap Castle não fica somente em seu level design, mas atinge também a sua direção de arte. Desde a trilha sonora até o seu visual, Madcap Castle é um show de nostalgia em pixel art. E não é a toa que Madcap Castle se pareça tanto com um jogo de Game Boy, já que o jogo foi criado no mesmo sistema do Game Boy e portado para PCs.
No entanto, pela próprio design e estrutura de fases curtas e rápidas, eu acabei sentindo falta de jogá-lo em um portátil de fato, para também trazer mais agilidade. Madcap Castle é aquele tipo de jogo que não dá pra maratonar, pois em algum momento você vai empacar numa fase, ficar cansado e querer voltar outra hora com a cabeça mais descansada. Ter de reiniciar o jogo toda hora no PC para uma jogadinha rápida pode desencorajar algumas pessoas. Será que tá muito óbvio que eu quero uma versão urgente pro Nintendo Switch desse jogo? Se pá até uma versão mobile seria legal.
De volta para o futuro
2017 foi um ano recheado de grandes lançamentos AAA, mas as nossas pequenas produtoras de jogos BR conseguiram colocar no mercado ótimos jogos independentes como Necrosphere e agora, logo no final do ano, Madcap Castle, auxiliando na variedade e respiro tão necessários neste mercado.
Os nossos desenvolvedores nacionais geralmente recebem uma folha de papel em branco com as instruções “faça um desenho sem caneta, sem dinheiro, sem tempo e devolva este papel no final”, e eu me encho de orgulho pela pátria quando mesmo com essas limitações desenvolvedores como o Diel Mormac e iniciativas como a Indústria de Jogos existam para nos presentear com suas criações. Vai Brasil!
