Três anos se passaram desde que os terríveis assassinatos em Kamurocho foram detidos pelo detetive Takayuki Yagami e seus amigos. Vindos de todos os caminhos da vida, sejam membros ativos ou desligados da Yakuza, ou ainda advogados, juntos eles impediram que o “Toupeira” continuasse a deixar suas vítimas sem olhos espalhadas pelo bairro de Tóquio. No entanto, um novo caso surge em um emaranhado temporal em Lost Judgment, e Tak terá novas vidas em mãos.
Desta vez, Tak e seu pessoal estão em um caso que começou a ser fomentado antes mesmo do surgimento do Toupeira. Agora temos um tema mais real e palpável para o dia a dia normal. Uma história de como bullying e intimidação social são muito mais do que apenas brincadeiras de mal gosto, levando a suicídios e assassinatos, destruindo inúmeras vidas no processo. Um jogo onde todos perdem, inclusive os “vencedores”.
Bufões escondendo lágrimas
Lost Judgment resolveu fugir um pouco da linha de investigação clichê de serial killers e psicopatas. Como dito no parágrafo acima, desta vez o grande criminoso é um ato, ao invés de um indivíduo em si. Claro que por trás de tudo existe, sim, a existência de um antagonista maior, mas a ideia principal do caso que somos apresentados é a do bullying como um armamento de massas.
Lost Judgment abre com Tak e Kaito ajudando uma jovem a se livrar de um esquema de dívidas que se tornou vítima. Após resolver este caso que serve como tutorial, Tak se dirige ao escritório de Genda, seu antigo chefe e mentor de direito. Por lá, nosso protagonista é convidado por Tsukumo e Sugiura para auxiliar em um caso em Yokohama. Mal sabe ele que sua próxima investigação irá de encontro com o caso de Genda.
Enquanto recebe o convite, Saori e Hoshino, atuais advogados do escritório de Genda, estão defendendo Akihiro Ehara. Preso por molestar (passar a mão) em uma jovem no metro, Ehara acaba divulgando uma informação chave em seu julgamento. O corpo que fora encontrado dias atrás pertence ao jovem que levou seu filho ao suicídio quatro anos atrás.
Com esse choque de casos convergindo sob Tak e seus companheiros, um novo caso tão marcante quanto o de Kamurocho se dá inicio. Com novas mecânicas e muitas novidades, Lost Judgment é a continuação que os fãs da primeira aventura de Yagami e da série Yakuza esperavam após o excelente Yakuza: Like a Dragon.
Tem gente que fala que bullying é “frescura”, mas aqueles que passaram por isso sabem o terror dessa atitude covarde. E é exatamente essa veia sensível da formação dos futuros adultos que Lost Judgment toca. Tak, Kaito, Tsukumo e Sugiura devem investigar a escola particular Seiryo, que está com um grave problema de bullying, além de ter sido o local onde a vítima citada por Ehara e seu filho, que se suicidou anos atrás, estudaram. Um ponto em comum entre as histórias.
Para seguir com o caso, Tak deve estar constantemente dentro da escola. Ainda mais após descobrir um grupo de alunos que possuíam envolvimento com a tal vítima. Tal grupo está focando toda sua energia em transformar a vida da jovem Mami Koda em um inferno na Terra, com agressões físicas e psicológicas constantes.
De volta ao ensino médio
Com a confirmação de que há casos de bullying escalando cada vez mais o nível de violência e abuso, Tak se une como consultor externo de um dos grupos de alunos. No caso o Clube de Estudo de Mistérios (CEM), começando assim sua segunda vida de ensino médio, mas desta vez não como aluno.
Enquanto patrulha os corredores de Seiryo High e as ruas de Yokohama com seus companheiros da agência Yokohama 99, Tak vai mais uma vez mergulhar em um mundo de sangue e violência. Lost Judgment pega tudo que deu certo no primeiro jogo e melhora em vários aspectos.
Lost Judgment já começa com uma incrível abertura pintando o que esperar da nova aventura de Tak. Eu adoro Arpegio da ALEXANDROS do primeiro jogo, mas『螺旋 (RASEN)』dá um show de hype, digna de Bubbles de Yakuza 0. E a abertura é apenas o começo das melhorias que os fãs podem esperar de Lost Judgment.
Agora Tak possui um vasto arsenal de gadgets, ajudantes caninos, novos drones a sua espera, um novo estilo de combate e até mesmo um skate! Além de ainda poder contar com o espaço de descanso do escritório da Yokohama 99, ou o seu cantinho em Kamurocho, onde pode descansar ouvindo músicas, decorar o local ou jogar Master System.
Histórias cruas de ruas
Durante as suas investigações, sejam elas principais ou secundárias, o protagonista agora conta com diversos dispositivos. Além de seu fiel drone, Tak pode usar amplificadores de sinais de som e um app que capta crimes através de palavras-chave. Sem falar, é claro, de seus disfarces e seus novos ajudantes caninos que auxiliam o detetive em busca de pistas e até em combate.
Claro que, muitas vezes, enquanto investiga, Tak terá de se aproximar de seus alvos ou até mesmo se infiltrar em lugares. Por conta dos embates e treinos com Sugiura no primeiro jogo, Tak virou um especialista em parkour e infiltração. Tanto que na primeira missão do jogo já escalamos até o primeiro andar de um prédio.
Já a parte furtiva de Lost Judgment deixa bastante a desejar. O gameplay segue duro, mas nada que torne impossível atravessar as sessões de infiltrações. Pelo menos o jogador tem as ferramentas necessárias, como distrações e até mesmo imobilizações silenciosas.
Uma vez de frente com seu alvo, Tak conseguirá conversar calmamente com ele. Porém, caso as coisas se tornem ásperas, agora temos o novo estilo da serpente. Um estilo com alto foco em desarme, desvios e contra-ataques brutais contra grupos de agressores ou valentões sozinhos.
Ponto extra para fechar a nota
Quando não está investigando ou colando caras no asfalto, Tak pode participar de minigames na escola. Não temos um clube de karaokê com Baka Mitai, mas temos uma vasta seleção de clubes para ajudar e participar de minigames, além de descobrir novos mistérios da sessão School Stories. Mistérios, estes, envolvendo alunos atuais e antigos.
Os clubes são o de dança, engenharia robótica, boxing e fotografia, mas como sabemos e vimos aqui, nenhuma escola é feita de santinhos. Então temos também outros minigames mais adultos envolvendo alunos e professores, como cassinos, clubes de acompanhantes, competições de skate entre dois grupos, e até mesmo gangues de motos.
Caso queira esquecer um pouco de tudo, o jogador pode seguir para a pista de skate do galpão. Além de poder também participar de jogos em realidade virtual como no primeiro jogo, na Paradise VR, em uma versão aprimorada Ou até mesmo relaxar participando de uma amigável corrida de drones pelas ruas da cidade.
Visualmente, Lost Judgment dá um salto incrível em relação ao título anterior. No entanto, tenho que admitir que estes jogos no PlayStation 5 estão ainda mais sensacionais. Se você possui um PS4 Pro, saiba que o jogo não te deixará na mão até o final, exceto pelas telas demoradas de loading.
Indo fundo no esgoto da vida estudantil
Lost Judgment tem seus pequenos problemas, como a história acabar se arrastando em certos momentos, ou a movimentação um tanto borrachuda de Tak. Porém, o conjunto da obra é excelente. Mais uma vez a Ryu Ga Gotoku Studio provou que continuações são com ela mesma.
Além das melhorias no combate e os novos recursos, a história em si é mais pé no chão. Eu adorei o caso do Toupeira, mas o novo caso de Tak ressoou muito mais comigo internamente e acredito que o mesmo irá ocorrer com outros jogadores. Então junte seus materiais e provas, pois há um crime a ser desvendado nos corredores de Seiryo High e um caso que se arrasta por anos e precisa ser fechado em Lost Judgment.