Review – Legacy of Kain: Soul Reaver 1&2 Remastered

Ainda me lembro bem da primeira que vez que vi Raziel sendo brutalmente assassinado por Kain e ressurgindo como um wraith. Na minha cabeça de criança, aquele era o ápice que um videogame poderia oferecer: seus gráficos eram impressionantes, suas cenas pareciam filme de cinema e a jogabilidade fazia coisas que nenhum outro jogo fez em sua época. Legacy of Kain: Soul Reaver foi um verdadeiro marco dos videogames!

A franquia (que infelizmente nunca teve oportunidade de se tornar uma trilogia) está completando 25 anos – e já se passaram 23 desde o lançamento do segundo título! Felizmente, ela não passou por baixo do radar da onda de remasters da Aspyr, que vem fazendo um bom trabalho nesse quesito. Assim como a coletânea Tomb Raider I-III Remastered, Legacy of Kain: Soul Reaver 1&2 Remastered recebeu um tratamento que tornou esses clássicos muito mais aproveitáveis nos dias de hoje.

Renascido

Legacy of Kain: Soul Reaver fez sua estreia em 1999 no PlayStation. Apesar de também ter recebido versões para PC e Dreamcast, foi no PS1 que ele fez história e acabou ganhando a reputação de um título cult que definiu a geração.  Sua sequência veio em 2001 para PS2 e PC, fazendo menos barulho que o primeiro, mas definitivamente mantendo o mesmo nível de qualidade.

Antes de falarmos sobre a qualidade dessa remasterização, devemos primeiro relembrar o porquê Soul Reaver foi tão importante em sua época. Podemos dizer que ele foi pioneiro em diversos aspectos que hoje definem a indústria de videogames, trazendo uma aventura ambiciosa e à frente do seu tempo. Obviamente, não é possível ter o mesmo impacto nos dias de hoje, mas seu legado certamente merece mais reconhecimento.

Para começar, esse foi um dos primeiros jogos que investiram pesado em uma narrativa mais cinematográfica. Antigamente, não era qualquer título que entregava uma experiência tão profissional e imersiva quanto essa (com exceção de Metal Gear Solid, que foi um caso à parte). A Crystal Dynamics soube construir um universo gótico fantástico, explorando a temática de vampiros com diversas questões filosóficas brilhantemente inseridas dentro do contexto do nosso protagonista.

A história gira em torno de Raziel, um vampiro criado e protegido pelo todo-poderoso Kain, autoproclamado Rei de Norgoth. Um certo dia, Raziel teve o infeliz destino de superar o poder de seu mestre – algo que é simbolizado pelo nascimento de suas asas. Com receio de perder sua coroa, Kain arranca as asas do pupilo e o arremessa no Lago dos Mortos, o condenando a uma eternidade de sofrimento.

Tudo isso muda quando uma divindade misteriosa revive Raziel, agora como um wraith – ao invés de sangue, ele precisará sugar a alma de outros seres para se manter vivo. A partir dali, seu único objetivo é se vingar de Kain; aqui iniciamos nossa jornada.

Vingança renovada

O gameplay do primeiro Soul Reaver ainda merece ser exaltado. O jogo foi um verdadeiro milagre técnico, permitindo ao protagonista passar por diferentes ambientes sem nenhuma tela de loading (um feito realmente absurdo para a época). Raziel também era capaz de transitar entre o plano material e o espectral, uma das principais mecânicas do jogo. A possibilidade de explorar diferentes perspectivas de um mesmo lugar – tudo instantaneamente – era de explodir cabeças!

Tudo isso continua tão crocante quanto era no passado, mas ainda melhor. A mudança mais óbvia fica a cargo do visual, que recebeu um upgrade notável em relação aos originais; quem quiser comparar pode fazer isso com o apertar de um botão, assim como em Tomb Raider I-III Remastered. O jogo está disponível tanto com os gráficos antigos (adaptados para HD e widescreen) quanto com os modernos, podendo ser alterados a qualquer momento.

A Aspyr também adicionou diferentes estilos de controle aos jogos, possibilitando jogá-los com o esquema antigo ou com algo mais próximo do padrão moderno. A versão atualizada permite controlar a câmera livremente, um detalhe que faz toda a diferença no gameplay. Os movimentos de Raziel permanecem sendo um tanto “duros”, mas controlá-lo com controles modernos é definitivamente mais agradável.

Algumas melhorias no gameplay também foram implementadas, incluindo a adição de um mapa, uma bússola e até um Modo Foto. No primeiro jogo, é normal se sentir perdido em alguns momentos, então a bússola é um recurso que veio a calhar. Já o mapa serve apenas para se orientar entre os diversos portais disponíveis, facilitando na hora de entender o destino de cada um.

Contudo, nem tudo são flores. A Aspyr perdeu a chance de melhorar o sistema de salvamento do primeiro jogo, que segue sendo pouco conveniente. Podemos salvar a qualquer momento, mas ao carregar o save, você volta da área inicial do jogo, sendo necessário rejogar alguns trechos até chegar onde parou. O segundo já não sofre disso, já que os salvamentos ocorrem a cada checkpoint.

Para completar o combo de novidades, diversos extras foram adicionados ao pacote – e devo dizer, aqui eles capricharam. Para quem gosta de conferir artes conceituais e bastidores de produção, o conteúdo bônus de Legacy of Kain: Soul Reaver 1&2 Remastered é um prato cheio! Existem demos antigas, vídeos das sessões de gravação e até mesmo fases cortadas completamente jogáveis. É praticamente uma exposição digital da franquia.

Com Legacy of Kain: Soul Reaver 1&2 Remastered, temos mais dois grandes clássicos renovados e perfeitamente jogáveis dentro do padrão que estamos acostumados. Essa definitivamente é a melhor forma de experienciar um jogo antigo, sem se frustrar com comandos e mecânicas prejudicadas pelo tempo. Agora, sigo na esperança de que, assim como Raziel, essa franquia possa ressurgir das cinzas e surpreender a todos com um título inédito no futuro.