A franquia Kingdom, criada pelas mentes geniais de Thomas van den Berg e Marco Bancale, atinge um novo patamar com a chegada de Kingdom Eighties. Publicado pela Raw Fury, este é um divertidíssimo jogo de estratégia e gerenciamento de recurso, que consegue criar uma nova experiência pela imersão oitentista.
Como se a Netflix tivesse perdido a melhor oportunidade de ter um jogo (bom de verdade) da série Stranger Things, os desenvolvedores da Fury Studios conseguiram trabalhar numa boa narrativa com uma roupagem temática atrativa, visual pixelado muito carismático, gameplay simples e inteligente, além de divertido e desafiador.
De volta aos anos 80
Esqueça o estilo medieval de Kingdom: Two Crowns, pois após 10 anos do surgimento como um jogo de Flash, a franquia chega à Kingdom Eighties quase como uma carta de amor aos nostálgicos. Enquanto o jogo de 2018 segue recebendo atualizações e DLC, este lançamento tem uma nova abordagem com o melhor dos anos 80 americano, com muito neon, bicicletas e diversas referências da cultura pop.
Durante as férias de verão no Camp Kingdom, você assume o papel do Líder e precisará contar com o apoio das crianças para enfrentar as estranhas criaturas roxas, que surgem por conta da Ganância. Começando com o resgate de uma canoa para ir até a cidade, passando pela escola, parque de diversão, polícia, pista de skate e shopping, você contará com o apoio do Campeão, Engenheira e o Feiticeiro, todos com suas inseparáveis bicicletas e diferentes habilidades, para descobrirem o mistério por trás da Coroa da Criação e qual ligação a família do protagonista possui com tudo isso.
A narrativa é direta e simples, mas muito competente e pontuada a cada fase com uma sequência animada que parece ter saído dos desenhos que passavam na televisão todas as manhãs. Tudo com muito estilo e carisma, a sua equipe ficará completa ainda no segundo capítulo, para testar sua estratégia na terceira fase e partir para a sequência final, com desafios que exigirão muita administração de recursos.
O Líder é o responsável por recrutar e direcionar a exploração, sempre lateral em um cenário 2D, utilizando moedas para atribuir papéis de construtores ou soldados às crianças que vagam pelas fases. Expandindo sua base, cortando árvores e alcançando novos pontos delimitados por cones, você logo chegará às extremidades da esquerda e direita dos cenários, conseguindo completar todas as missões da fase.
Para adquirir moedas, você precisará melhorar locações para as crianças “trabalharem” e gerarem moedas, que vão permitir executar as ações ou construir proteções e armas, além de melhorar sua base para ter acesso aos recursos necessários para a missão principal. Com apoio do Campeão, evolua até poder construir sua lixeira para ele carregar seu carro chefe, que servirá como tanque para defender e avançar rumo à vitória, movimentando seu exército até o ponto final de cada capítulo.
Em busca dos itens e tentando descobrir como derrotar a Ganância, você poderá contar com a Engenheira para consertar sua lixeira e armas utilizadas na defesa do seu território, enquanto o Feiticeiro será o responsável por construir um robô gigante, ao melhor estilo Número 5 do filme “Short Circuit – O Incrível Robô”, ou demais sistemas de defesa. O mais importante é poder contar com todos os três para defender o líder enquanto estiverem com suas bicicletas, atacando as criaturas e jogando para longe.
Defendendo o mundo com apenas dois botões
O grande mérito dos desenvolvedores foi fazer com que Kingdom Eighties funcionasse apenas com dois botões: um para utilizar moedas e outro para a habilidade do Líder enquanto pedala sua bicicleta. Esta última reserva uma surpresa divertida, pois cada bicicleta possui um estilo, inclusive com referência ao filme ET, de Steven Spielberg, fazendo você voar pela tela.
Você poderá interagir com praticamente todos os itens, personagens e locações, gastando ao menos uma moeda para que sigam com suas tarefas, atacando ou defendendo, realizando tarefas em busca de recursos, melhorando estruturas e expandindo seu “reino”, sempre seguindo as ordens do Líder.
A jogabilidade simples exigirá muita estratégia, pois todo começo será um desafio maior, fazendo com que a curva de aprendizado e evolução seja um pouco longa. Talvez este cause o principal ponto negativo do jogo, pois Kingdom Eighties repete o looping de desenvolvimento em todas as fases e pode se tornar monótono. Algumas situações são criadas para evitar a repetitividade, além da boa variedade de inimigos, mas é inevitável a sensação de fazer mais do mesmo em todos os capítulos.
Os desenvolvedores conseguiram fazer com que o jogo evoluísse conforme seu aprendizado e prática, porém a etapa de preparo durante os dias para se defender dos ataques à noite, vão se estendendo por cada vez mais dias. Dentro desse ciclo, que mistura um pouco de Tower Defense com RTS, os recursos são muito bem caracterizados e apoiam na imersão durante a jogatina.
Diversas referências também engrandecem o estilo oitentista, que não fica apenas no visual, mas nos leva de volta à infância de todos que viveram durante os anos 80 e 90, com cenários coloridos e vivos. Desde “De volta para o Futuro” e “Goonies”, com a inevitável comparação ao Upside Down de Stranger Thins, à Main Street, Arcade e até a Toy R Us, tudo com um quê de D&D, a nostalgia está em todos os lugares em que o Líder vá, seja para esquerda ou direita.
A trilha sonora do jogo, composta por Andreas Hald, abusa dos sintetizadores para apoiar na imersão, caso alguém duvide do talento dos desenvolvedores em criar cenários muito detalhados, coloridos e que “sofre” com a Ganância, para auxiliar nos controles simples e você sentir o que realmente está acontecendo. Todos os elementos em tela servem para guiar você em busca da verdade sobre o mistério da Coroa, que está ligada diretamente ao Líder, e foi encontrada abaixo do shopping New Land Malls.
Kingdom Eighties é um excelente título para quem busca uma boa dose de estratégia, além de ser uma porta de entrada para quem deseja conhecer a franquia ou um nostálgico em busca da temática dos anos 80. Com legendas em português, cinco níveis de dificuldade, customização para a bandeira do seu acampamento e muito carisma em tudo que propõe em aproximadamente 10 horas de jogo, este é um lançamento interessante e divertido.
Com a Raw Fury encarando este lançamento como uma expansão standalone, estarei na torcida para que os desenvolvedores continuem trabalhando em novos conteúdos para este jogo e, quem sabe, ele tenha potencial para ganhar um modo cooperativo ou DLC, assim como aconteceu com Kingdom: Two Crowns.