Os jogos de FPS hoje em dia englobam uma grande parte do mercado geral de games. Franquias como Call of Duty, Battlefield e Overwatch ainda reinam entre os grandes nomes do gênero. Mas no passado os FPS eram totalmente diferentes, voltados geralmente para aventuras ainda mais futuristas e sanguinárias. Duke Nukem, Shadow Warrior e DOOM eram campeões de venda e estavam sempre na boca do pessoal e grande partes deles vinham sob o selo da 3D Realms. Agora em 2019 finalmente temos uma nova aventura do gênero sob o lendário selo: Ion Fury, estrelado pela major Shelly “Bombshell” Harrison.
Após meses em Early Acess, o jogo recebeu diversas mudanças em relação à primeira vez em que escrevi sobre o mesmo, e todas são muito bem vindas. Não ficando atrás de icônicos personagens do gênero – Doomguy, Duke Nukem, Lo Wang -, a aventura de Shelly é repleta de distopias futuristas, sangue, armas poderosas e one-liners, uma verdadeira viagem no tempo para os fãs de FPS antigos.
Vivo ou morto, mas de preferência morto
A história de Ion Fury é um prólogo do jogo Bombshell, lançado em 2016. Shelly entrou faz pouco tempo para a força especial de D.C. City, e logo tornou a cidade “sua”, sendo a mais pro-eficiente dos agentes da Global Defense Force. Impedindo crimes e apreendendo delinquentes cibernéticos pela cidade, a vida não poderia ser mais comum para ela, até o dia em que Dr. Heskel apareceu. Com sua tropa de ciborgues de Heskel prontas para tomar não só a cidade, mas o mundo, Shelly irá se impor e mostrar quem realmente manda!
Utilizando um arsenal digno de um exército, Shelly irá se lançar contra as tropas cibernéticas, mutantes, robôs assassinos e os mais diversos experimentos de Heskel. A cidade que vive eternamente sobre dura lei marcial agora é o campo de guerra de uma mulher que não abaixará a cabeça para ninguém. Trazendo uma história simples e clássica de dominação mundial, Ion Fury é do começo ao fim uma homenagem aos títulos daquela época, remetendo muito ao tipo de game que poderia ser facilmente encontrado em um CD antigo esquecido na gaveta da escrivaninha.
Sempre correndo a velocidade máxima, Shelly atravessa diversos cenários, que vão de cidades ocupadas por soldados cibernéticos, a cavernas infestadas de mutantes. Carregando armas como seu revólver de 18 projéteis apelidado carinhosamente de Lover Boy e granadas perseguidoras chamadas de Bowling Bombs, ela leva o caos consigo por onde passa. Com a temática voltada para um um sci-fi escrito durante a década de 80/90, Ion Fury traz ambientes escuros e opressivos, escondendo diversos segredos pelas fases, como nos clássicos do gênero.
Ao segurarmos o Shift Esquerdo, é possível diminuir um pouco a corrida de nossa heroína e com Ctrl é possível se agachar, a fim de se achar painéis de segredos. Além das armas de fogo, como seu revólver, escopeta e metralhadoras com balas teleguiadas, Shelly ainda possui uma balestra energética e uma bastão eletrificado. Com o bastão, é possível energizar painéis que servem tanto para o avanço na história, quanto para descobrir segredos pelas fases. Dentro destas salas secretas, é possível encontrar armamentos, munições, coletes e cartões de acesso.
Em Ion Fury, proteção é a palavra chave para não ter uma morte ridícula, já que os incansáveis inimigos de Dr. Heskel avançam em grupos diversos, espalhados pelos mapas. Então caso esteja com pouca vida, é bom deixar a violência tomar controle e entregar uma chuva de balas, ou é caixão e vela preta para Shelly. Como em jogos antigos e histórias do gênero, o mundo futurista de Ion Fury é repleto de portas blindadas abertas por cartões de acesso espalhados pelo mapa, então não deixe nenhum de fora.
A diversão e imersão de Ion Fury só seriam maiores se eu tivesse jogado em um monitor de tubo com caixas de som nas laterais. A maneira com a qual a Voidpoint lidou com a criação do universo do jogo foi impecável. É possível ver pontos de inspiração em filmes como Heavy Metal 2000, Fire and Ice e Wizards, com seus personagens que parecem ter saído diretamente de manuais de RPG de mesa antigos. O design dos mapas é todo intricado e amontoado em camadas, escondendo inimigos que só sabemos estar lá pelos efeitos “precários” de som que os mesmos produzem.
As tropas de Dr. Heskel também não ficam para trás na hora de impedir Shelly de salvar o mundo, contando com soldados rasos, atiradores de elite, atiradores pesados e experimentos, cada um mais profano que o outro. Talvez os mais chocantes e impactantes sejam os mutantes criados por Dr. Heskel, sendo divididos entre alguns que se assemelham a zumbis e outros mais poderosos, como um corpo esfolado e um crânio em chamas capaz de lançar projéteis. A essência de uma época onde FPS, demônios e mutantes e muito visual sci-fi se misturavam perfeitamente.
Uma viagem no tempo
Ainda falando sobre a parte gráfica do jogo, é possível ver que os últimos anos do milênio passado foram de forte influência para os desenvolvedores. Uma relação que pode ser feita é na fase onde adentramos diversos contêiners: em um deles damos de frente com uma grande grade, e se repararmos com atenção, podemos ver a máscara do assassino Vega (Bison) no chão, remetendo à famosa jaula onde enfrentamos o mesmo em Street Fighter. Outra referência é uma famosa frase de Tommy Wiseau em seu filme The Room, estampada em um cartaz de conselhos matrimoniais.
A trilha sonora de Ion Fury é perfeita para seu universo, trazendo faixas intensas e imersivas para que o jogador se sinta na pele de Shelly, lutando contra um exército futurista. Os efeitos sonoros são todos remetentes àquela época, como se faltasse algo para que fosse real, mas é exatamente essa falta de realidade que torna aquilo agradavelmente único. Shelly não economiza em seus jargões também, com frases que parecem ter saído diretamente de filmes como Duro de Matar, Exterminador do Futuro ou Máquina Mortífera.
Ion Fury é um atestado contra o tempo e a ideia de que quão mais real, melhor. A aventura de Shelly é tão extremamente irreal que torna tudo mais divertido e empolgante, seja ao ver quais serão as próximas aberrações com a qual teremos de lidar, sentir a emoção de descer em uma praça infestada de inimigos armados até os dentes e abrir fogo contra tudo e todos enquanto corre para lá e para cá sem se cansar. Caso você seja um fã de jogos de FPS a la DOOM, Duke Nukem e Quake, Ion Fury é uma volta à época onde CDs de jogos de computador reinavam e internet discada era lei.