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Antes da febre dos roguelites, houve uma época em que a indústria de games foi bombardeada com o lançamento de uma infinidade de metroidvanias, especialmente no meio indie. Muitos jogos icônicos surgiram desse período, mas é claro que com o tempo o gênero ficou saturado e cada vez menos atrativo. Receber um novo metroidvania hoje em dia é sempre um prazer, mas é inevitável já começar a jogar com aquele gostinho de “eu já vi isso antes e nada vai me surpreender”.

Imp of the Sun é um tímido indie que bebe da fonte de grandes títulos do gênero como Ori and the Blind Forest e Guacamelee!, que para mim é um dos melhores metroidvanias já feitos. O jogo em si tem pouca originalidade e sempre vai gerar uma comparação constante com outros títulos semelhantes, mas pelo menos consegue cumprir muito bem sua proposta. Em tempos onde já foi inventado de tudo e não existe mais espaço para nada realmente inédito, encontrar joguinhos como esse é sempre um bom negócio.

Salvando divindades

Imp of the Sun tem uma estética que lembra muito Guacamelee!, que explora toda a cultura mexicana e asteca com bastante bom humor. Apesar das semelhanças, este game é inspirado no Império Inca, que existiu em boa parte da América do Sul há centenas de anos, então não é a mesma coisa. Aqui controlamos um diabrete enviado pelo deus Sol em um último esforço de salvar a si mesmo e a seu povo; o mundo está prestes a sofrer um eclipse eterno e somente nosso simpático bichinho é capaz de derrotar os quatro guardiões que devolverão ao Sol sua força de outrora.

Cabe a nós “acender” o sol novamente

Como todo metroidvania, o jogo é composto de uma série de territórios divididos em diversos cenários, alguns disponíveis desde o início e outros somente mais tarde, quando adquirirmos habilidades específicas. O level design aqui é bem feito, apesar de não fugir dos eternos clichês do gênero, explorando o equilíbrio ideal entre combates e puzzles com uma pitada adicional de desafios de plataforma. Dito isso, é evidente que a variedade no gameplay é aceitável e o jogo não é enjoativo.

O combate é o que mais se assemelha à Guacamelee!, onde quase sempre somos “trancados” em uma arena e só poderemos prosseguir após eliminar todos os inimigos. Até o sistema de combos é parecido, com foco em combar inimigos no ar, usando golpes que os arremessam para cima e finalizando com sequências aéreas. O problema é que nosso querido diabrete não é tão ágil ou forte quanto o poderoso Juan Aguacate, então lutar neste jogo pode ser um tanto mais desagradável. O combate não é tão dinâmico e é bem fácil de morrer, especialmente no começo, quando ainda estamos fracos.

Esse é um exemplo de batalhas impossíveis no modo portátil

Outro fator que pode dificultar consideravelmente os combates é o modo portátil do Switch. Quem resolver jogar em tela reduzida pode ter que lidar com diversos momentos onde a câmera se afasta demais do personagem e enquadra um cenário mais amplo, o que dificulta bastante na hora de enfrentar as ameaças no caminho, que ficam muito pequenas. O mais recomendado é jogar na televisão para evitar essa dose de desafio extra.

O poder do Sol na palma da sua mão

O grande diferencial de Imp of the Sun é o fato do nosso personagem ser feito do próprio Sol, o que nos garante algumas habilidades exclusivas. A principal delas é usar a luz solar para se curar ou utilizar poderes que desbloqueamos com o decorrer da história, algo que obviamente é influenciado quando estamos em lugares fechados ou escuros. Nesses casos, é necessário procurar a luz de tochas ou outros pontos de iluminação para recarregar as energias e continuar usando essas habilidades. Ainda que tenha esse pequeno diferencial, o combate não se distancia muito do que já temos em outros jogos do gênero, então na prática não vi muita diferença. O destaque acaba ficando nas batalhas contra chefes, que são as mais criativas e visualmente impressionantes do pacote.

Falando em visual, o jogo traz um estilo de arte desenhado à mão que lembra uma mistura de tinta guache com aquarela. É bonitinho, contando com personagens bem desenhados e ambientações detalhadas, mas deixa um pouco a desejar nas animações. Esse fator já é um pouco 8 ou 80, onde em diversos casos as animações aparentam ter pouquíssimos frames, enquanto em outros já apresentam uma fluidez mais agradável de se ver. Pelo menos o diabrete é o personagem mais bem animado do jogo e é isso que importa.

Alguns cenários conseguem ser bem bonitos

Já o restante do pacote está perfeitamente dentro do esperado e não falha em fazer o mínimo, então tudo é aceitável e suficientemente divertido. Os puzzles são simples, porém criativos, explorando bem as habilidades do diabrete conforme vão sendo desbloqueadas. Contudo, o maior foco fora do combate está na exploração, então passamos mais tempo pulando para lá e para cá em plataformas ridiculamente distantes do que resolvendo quebra-cabeças. Por se tratar de um jogo curto e nem tão desafiador, acaba sendo um título mais acessível para um público maior.

Em suma, Imp of the Sun não é nada demais, mas também não faz feio. É um metroidvania charmoso e divertido que não peca em explorar o básico do seu gênero. Não é marcante como suas principais inspirações, mas definitivamente é recomendável para qualquer fã do estilo.