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Tentar se basear no que Hydrophobia oferece apenas pelo seu título provavelmente o levará a conjecturas interessantes, mas distantes daquilo que o jogo de fato é. Enquanto a aventura é marcada pela presença constante de água, é a parte da “fobia” que não é exatamente precisa. O mais próximo da verdade que ela chegará será quanto à sensação deixada no jogador, que irá querer manter sua distância do título.

Tudo se passa em um futuro próximo, que está à beira do apocalipse. O nível dos oceanos subiu e grandes porções de terra viraram desertos. Por causa disso, o espaço viável para o cultivo de alimentos diminuiu severamente o que, somado ao aumento exponencial da população, coloca a humanidade em uma situação difícil. A esperança de todos reside no Queen of the World, um gigantesco navio no qual habita a elite do mundo. Dentro dele está situado uma empresa chamada NanoCell que busca, através de nano máquinas, conseguir reverter a situação na qual o planeta se encontra. No entanto, no dia em que uma nova tecnologia iria ser revelada, a embarcação é atacada por aqueles que se denominam neomalthusianos.

A ambientação é interessante e o perigo da falta de recursos é um que possivelmente não está distante de nossa existência. No entanto, para saber disso é necessário ir atrás de informações espalhadas pela internet ou meios parecidos, porque o jogo faz um trabalho terrível em expor sua trama. Ele passa vagamente sobre alguns fatos, deixando implícito um elemento ou outro, e antes que consigamos assimilar qualquer coisa o coloca subitamente no meio da ação. Nós temos o controle de uma engenheira chamada Kate, aparentemente responsável pela segurança eletrônica do navio. Ela é pega pelos ataques terroristas dos Neomalthusianos, e por causa de uma explosão fica presa em um nível inferior da embarcação, que está sendo inundada.

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O grande atrativo desse cenário está por conta da engine criada pela Dark Energy Digital, que foca em recriar água e todas as suas características realisticamente. E, de fato, os efeitos relacionados ao líquido são impressionantes. Pequenas coisas como ver a água escorrer para fora de uma sala quando sua porta é aberta, fazê-la jorrar em abundância para derrubar inimigos, ser jogado contra uma parede devido à força de uma onda etc, mostram que o trabalho feito pelo estúdio deu resultado. Infelizmente, todos os outros aspectos do jogo deixam muito a desejar, e como consequência temos um título de ação em terceira pessoa mediano que não oferece grandes atrativos.

Logo no início, Kate toma posse de uma pistola que emite disparos sônicos. Por causa disso, seus tiros apenas deixam inimigos desacordados momentaneamente. É possível matá-los atirando repetidas vezes, mas esse processo é demorado demais. Por isso, a melhor maneira de se ter sucesso é utilizando o ambiente como arma. Todos os corredores e salas pelos quais percorremos estão repletos de canos de gás, cabos elétricos, barris explosivos etc. Assim, um grupo de três capangas pode ser facilmente eliminado com um disparo em uma fonte de energia, que poderá eletrificar a água em seus pés, derrotando-os. Esse aspecto do combate é bem interessante porque as soluções são variadas, o que torna divertido procurar por elementos próximos que possam ajudar. No entanto, em qualquer situação que você se encontre desprovido dessas artimanhas, o combate se torna cansativo e longo demais. É só mais próximo ao fim da aventura que conseguimos outros tipos de munição, que causam dano mais direto. Até lá, ver-se em uma situação em que tudo que temos são os tiros sônicos significa passar muito tempo preso no mesmo lugar. A frustração pode ser piorada com uma morte, já que a frequência dos checkpoints é muito menor do que a desejada.

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Morrer sem sequer me dar conta de que estava sofrendo dano foi algo que aconteceu diversas vezes em Hydrophobia. O jogo faz um trabalho pobre em indicar que estamos sendo almejados, com apenas as bordas da tela ficando levemente avermelhadas. Isso chama pouca atenção pelo fato de que há constantemente uma poluição visual muito forte. Há água espirrando e jorrando, ondas sendo formadas, inimigos atirando, personagens conversando, atualização do seu status etc. É coisa demais acontecendo ao mesmo tempo, o que por vezes fez com que eu não conseguisse prestar atenção direito ao que estava ao meu lado.

A informação em abundância não é um problema só dessa maneira. Toda e qualquer coisa feita é atualizada em uma espécie de diário de Kate, que relata sobre os eventos que acabaram de ocorrer. Além disso, Hydrophobia parece o recompensar com uma medalha por qualquer feito, por mais insignificante que seja. A consequência disso é que praticamente todos os diálogos serão truncados caso você decida ler essas informações, já que elas aparecem o tempo todo. Nenhuma delas é vital, mas se o jogo as oferece e ainda coloca na tela um “aperte X para ler isso”, é porque de alguma forma elas estão atreladas àquilo que estamos experienciando – ou ao menos deveriam estar. Isso contribui para a poluição geral do jogo, e transparece como uma grave falha de design. É difícil se concentrar em algo, pois há sempre duas ou três outras coisas rolando em concomitância.

Os problemas da apresentação não são terríveis, mas ajudam a tornar o cerne do jogo, já fraco, menos atrativo. Você irá repetir o mesmo ciclo de ações por toda a duração da campanha, o que fica rapidamente cansativo. Basicamente, você será incumbido de matar um neomalthusiano específico, pegar em seu corpo um item, usar uma espécie de escâner para localizar uma informação em alguma parede e abrir uma porta que antes estava fechada. Os próprios personagens fazem piada com isso, ironicamente dizendo “ei, adivinha só, você vai ter que fazer aquilo de novo” – mas só porque o jogo reconhece o fato, não significa que ele seja menos repetitivo.

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Há também algo nos controles que causam sensação de desconforto. Não que eles sejam quebrados ou coisa do tipo. Mas eles parecem estar levemente atrasados, não respondendo direito às ações que desejamos fazer. Isso fica mais evidente quando precisamos nadar. Talvez seja a física da água agindo de maneira estranha, mas em mais de uma ocasião eu não conseguia colocar a cabeça para fora para fazer Kate respirar, mesmo segurando o botão indicado para levá-la à superfície.

Sem uma ação diversificada, um design pobre e uma ambientação mal explorada, é impossível recomendar Hydrophobia. Para piorar, esta é para ser a primeira parte de uma trilogia, o que faz com que ao final tudo seja cortado abruptamente, com apenas uma tela de “To Be Continued” aparecendo na tela. Há material aqui suficiente para justificar um jogo, e não há a sensação de que nada foi cortado para ser utilizado futuramente. As mecânicas que compõem a jogabilidade, entretanto, são pobres demais, e qualquer interesse que eu tinha sobre a mitologia ou personagens daquele mundo já estava completamente drenado ao fim da aventura, zerando qualquer expectativa ou vontade que pudesse ter para a continuação. Os efeitos relacionados à água são realmente dignos de nota, mas não são suficientes para sustentarem todo um jogo.