Hunter x Hunter Nen x Impact marca um momento significativo para fãs da obra de Yoshihiro Togashi, pois é a primeira tentativa realmente ambiciosa de transportar o universo dos Hunters para o mundo dos jogos de luta em larga escala. Desenvolvido pela Bushiroad Games em colaboração com a Eighting e publicado pela renomada Arc System Works, o game carrega altas expectativas, mas entrega uma experiência desigual que revela tanto acertos quanto escolhas duvidosas que demonstram limitações.
Shonen x criatividade x legado
Hunter x Hunter é considerado um dos mangás e animes mais influentes do Japão, criado por Yoshihiro Togashi e lançado originalmente em 1998 na Weekly Shonen Jump. A obra acompanha a jornada de Gon Freecss e sua busca para se tornar um Hunter, mergulhando em universos repletos de desafios, batalhas estratégicas e personagens complexos. Com uma narrativa marcada pela profundidade psicológica, abordagens maduras sobre ética e poder, além de reviravoltas imprevisíveis, Togashi estabeleceu novos padrões para o gênero shonen, inovando tanto na construção dos arcos narrativos quanto na criação de sistemas como, por exemplo, o próprio Nen, que da nome ao jogo atual e é referência até hoje em obras de diversos outros mangakás e a própria indústria dos games.
Como adaptação para o formato de jogo de luta, Hunter x Hunter Nen x Impact busca fidelizar os combates intensos vistos no anime e mangá, principalmente ao adotar batalhas em equipes de 3 contra 3, nas quais cada personagem possui habilidades únicas inspiradas diretamente em suas técnicas de Nen. Esse sistema permite criar equipes a partir de diferentes protagonistas e vilões, favorecendo sinergias criativas e recreando um pouco da sensação imprevisível das batalhas da série.

Em termos de fidelidade narrativa, o modo história cobre os principais arcos, do clássico Exame Hunter ao aguardado Chimera Ant, embora essa transição para o game tenha se mostrado apressada e superficial, com a narrativa apresentada de modo acelerado, usando apenas imagens estáticas e poucas linhas de texto, sem resgatar as vozes originais para o modo história, aparecendo apenas em momentos de apresentação de combate, fazendo com que tudo isso prejudique o desenvolvimento dos personagens e o peso dramático dos eventos que, como comentei antes, são aspectos que são essenciais para a obra de Togashi. Como resultado, a experiência narrativa serve mais como apanhado ou resumo, deixando muito a desejar para quem busca imersão ou aprofundamento no lore da franquia.
Mecânicas x referências x escolhas duvidosas
No que diz respeito aos modos de jogo, Hunter x Hunter Nen x Impact traz uma seleção enxuta, porém funcional. Além do Story Mode condensado, há o Single Mode, com desafios inspirados no icônico Heavens Arena, além do modo treino, arcade e online, que promete combates ranqueados e casuais embasados em um sistema de apostas envolvendo cartas do arco de Greed Island, com os G.I. Cards. Para os colecionadores e fãs, há desbloqueáveis cosméticos, como títulos e ícones de perfil, mantendo um padrão já esperado pelos fãs e sem grandes novidades. O principal atrativo é, de fato, o modo multiplayer online, que utiliza rollback netcode para uma experiência de batalha suave que, mesmo sendo algo já esperado vindo da Arc System Works, porém nos primeiros dias sofreu com falta de jogadores e problemas de conexão.

Falando em expertise, essa Publisher é referência mundial na produção de jogos de luta 2D, com franquias como Guilty Gear, BlazBlue e Dragon Ball FighterZ. Por conta disso, a expectativa era de que parte dessa excelência fosse transposta para Hunter x Hunter Nen x Impact, resultando num gameplay fluido e mecânicas robustas. O resultado, no entanto, fica aquém desse legado, pois o jogo adota um esquema de controles simplificado, com o chamado Rush Button permitindo a execução de combos automáticos, um legado do recente Street Fighter 6, buscando ser um recurso que democratiza o acesso ao gênero, mas acaba limitando a profundidade para jogadores avançados.
O sistema de Aura Arts adiciona uma camada estratégica, já que é possível executar ataques especiais crescendo o medidor de Aura, com dano proporcional ao acúmulo de energia, mas esse elemento não basta para transformar o combate em uma experiência rica em nuances. O sistema de Nen, muito parecido com o que com o Dust Attack de Guilty Gear, adiciona profundidade à movimentação e aos combos, com um botão dedicado para ligar ataques sequenciais e a postura defensiva com Nen Stance, para repelir o oponente com um efeito de empurrão.

Ainda sobre mecânicas, temos o Overgear que serve como uma poderosa ferramenta de virada, semelhante ao X-Factor de Marvel vs. Capcom e o Max Mode em The King of Fighters. Quando ativada, ela concede ao personagem um aumento substancial em dano e velocidade, além de expandir temporariamente seus recursos ofensivos, porém com uso limitado a uma vez por partida e aumentando a estratégia para reverter situações adversas.
Com tudo isso, o combate flui entre os 16 personagens disponíveis e com características diferenciadas, favorecendo as trocas rápidas, assistências e combos vistosos entre Gon, Killua, Kurapika, Leorio, Hisoka e outros favoritos dos fãs. Vilões como Meruem, Chrollo e Feitan completam o catálogo, além das promessas de DLCs com figuras como Neferpitou, porém ainda temos muitas ausências do elenco clássico.

Infelizmente a variedade de característica e design dos personagens faz com que o combate fique muito desbalanceado, seja pelos combos devastadores como, por exemplo, Netero e Meruem, ou pela estatura, de Gon à Hisoka, que pode prejudicar a execução de combos e até as Aura Arts. O desafio em equilibrar a simplicidade e fluidez dos combates com a necessária profundidade para manter interesse no longo prazo, ainda não concretizado com o que temos no jogo base, fez com que a Bushiroad Games apostasse num título que parece incompleto e que pode se tornar repetitivo após algumas horas.
Simplicidade x visual x trilha sonora
A direção de arte e os gráficos de Hunter x Hunter Nen x Impact não estão nem perto do trabalho excelente que conhecemos da Arc System Works, muito menos fazendo jus ao trabalho de Togashi. Visualmente, o jogo entrega poucas opções de cenários estáticos, animações que não foram refinadas e uma apresentação geral que remete a gerações passadas de consoles. Seguindo os mesmos erros de Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai, os desenvolvedores não se preocuparam em atender os fãs ao desenvolver os arcos da história de maneira satisfatória ou que replicasse o potencial oferecido pela obra original.

Ainda assim, mesmo com animações diferentes do que vemos no anime, os golpes especiais carecem de impacto visual e a ambientação, apesar de funcional, não empolga como deveria para um anime do calibre de Hunter x Hunter. O mesmo acontece com a trilha sonora, que passa despercebida e sem grandes destaques, ignorando todo o potencial que as duas adaptações para animê conseguiram fazer, mantendo o legado de Yu Yu Hakusho, sem contar o pouco uso das vozes originais do anime em ocasiões específicas no jogo.
No fim, Hunter x Hunter Nen x Impact pode até ser considerado uma boa estreia para a franquia nos games de luta, mas que peca por tentar se manter simples demais se comparada ao legado que a obra original possui e a legião de fãs que aguardavam esse jogo. Mesmo que esse título acerte ao capturar a essência dos combates frenéticos e a liberdade criativa para você montar suas equipes, os desenvolvedores tropeçaram na execução visual, no conteúdo escasso e na limitação que a falta de balanceamento pode causar, deixando de ser uma boa porta de entrada para os curiosos ou os fãs que seguem a franquia, pelo menos nesse início. Por enquanto o jogo da Arc System Works Funciona como passatempo para fãs de longa data ou para quem busca um fighting game descomplicado, mas deixa claro que a franquia ainda merece uma adaptação à altura de seu legado.
Prós:
🔺Respeito e fidelidade à obra original
🔺Jogabilidade acessível com o Rush Button
🔺Mecânicas inspiradas em diversos jogos de luta já consolidados
🔺Vários modos de jogo, mesmo que simples e limitados
Contras:
🔻Narrativa desperdiçada pelo modo história estático e apressado
🔻Conteúdo limitado com pouca variedade de modos e elenco de personagens
🔻Visual não reflete a nova geração de consoles
🔻Sistema de combos automáticos limita a estratégia do gameplay para veteranos
🔻Trilha sonora muito discreta e distante da obra original
🔻Jogo peca pela repetitividade sem explorar o fator replay
Ficha Técnica:
Lançamento: 16/07/25
Desenvolvedora: Bushiroad Games
Distribuidora: Arc Work System
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series, Switch 2
Testado no: Switch 2


