Quando eu era criança, nunca tive um Hot Wheels. Pronto, falei. Entretanto, antes que você desperte qualquer tipo de sentimento de piedade, eu devo avisar que sou tão antigo que a marca não tinha chegado ao Brasil. Eu cresci com miniaturas de carrinhos de metal, mas eram de outro fabricante. A verdade é que eu era fanático por meus carrinhos, eu organizava campeonatos com eles, eles representaram um pedaço delicioso de minha infância. E é justamente esse pedaço delicioso que eu revisitei com Hot Wheels Unleashed 2 – Turbocharged.
O jogo da Milestone entrega o que promete: velocidade e paixão por miniaturas. São mais de 130 veículos que fazem parte da linha de brinquedos, desta vez incluindo também motocicletas, carros monstro e ATVs, que estavam ausentes no primeiro título. A desenvolvedora estabeleceu como meta para essa continuação ampliar todos os aspectos da experiência. Então, temos mais veículos, novas áreas, novas mecânicas, e novos modos.
Pé na tábua!
A sensação de aceleração é peça-chave em qualquer jogo de corrida e Hot Wheels Unleashed 2 não decepciona nesse aspecto. Uma dica: o jogo por padrão está no modo Fácil. A menos que você seja uma criança, troque imediatamente para o modo Normal, pelo menos. No Easy, é um título insosso. No Normal, se torna desafiador e será necessário se dedicar a dominar o sistema de drift e boost para conquistar vitórias.
Felizmente, os controles são seguros e responsivos, o que permite um ajuste fino nas curvas para a derrapagem perfeita. Por padrão, mais uma vez, as teclas no PC não são das melhores (quem pula apertando “J”?). Faltou pouco para eu não curtir o jogo. Uma vez ajustada a dificuldade e com a configuração que eu sempre uso para títulos de corrida, o horizonte se abriu.
Em muitos aspectos, Hot Wheels Unleashed 2 – Turbocharged é Forza para os baixinhos. Muitos dos aspectos da franquia da Microsoft se repetem aqui: coleção de veículos desbloqueáveis, sequência de eventos e desafio, sistema de evolução de experiência, customização de veículos etc. Temos também aquela tendência de “passar a mão na cabeça” do jogador, seja com uma dificuldade nativa suave (que pode ser alterada), seja com um grande volume de recompensas a cada pódio.
O jogo também oferece uma boa seleção de modos, para todos os gostos. Quem quiser pular direto na ação tem corridas rápidas de diversos tipos. Quem quiser acompanhar um enredo tem o modo campanha. Quem quiser competir com os amigos tem o modo multiplayer (incluindo local com tela dividida). Existe até mesmo um editor de pistas para os engenheiros de plantão.
Óleo na pista de Hot Wheels Unleashed 2
Infelizmente, nem tudo são elogios no jogo. A música é bem enjoativa logo de cara, pouco expressiva se compararmos com outras franquias de corrida. Da mesma forma, os gráficos não impressionam. Por um lado, o uso da Unreal Engine 4 entrega uma experiência que não exige máquinas pesadas, por outro lado, deixa de lado muitos efeitos interessantes e deixam todos os veículos com aparência de plástico barato. Algumas texturas, como grama ou areia, parecem algo saído de duas gerações anteriores.
O modo história, entretanto, pode ser considerado o ponto mais baixo de Hot Wheels Unleashed 2 – Turbocharged. É recomendado ter menos de dez anos ou desativar por completo os neurônios para aguentar as animações desanimadas, os diálogos vergonhosos ou mesmo a premissa absurda. Esse modo é obrigatório para desbloquear novas pistas, então se torna um mal necessário.
Por último, o editor de pistas sofre do mesmo problema de tantos editores embutidos em tantos jogos: é confuso de usar. A menos que você crie ambientes 3D no seu dia a dia de trabalho, a frustração é garantida. É uma ferramenta que trabalha com blocos pré-concebidos, não tem nem de longe a complexidade de um verdadeiro programa para 3D, porém sua interface e seus atalhos de teclado desanimam. Da mesma forma, o processo de customização de veículos é mais complicado do que precisava ser.
Sente o ronco do motor!
Hot Wheels Unleashed 2 – Turbocharged não vai mudar o mundo, não vai destronar Mario Kart (ou mesmo os jogos de corrida do Sonic), não será o novo Forza, mas certamente é um título que vale o seu preço, que diverte e traz de volta um certo sabor de infância.
Joguei um pouco com meu filho, que já é um rapaz de 16 anos. Ele encontrou o modelo exato que ele tinha anos atrás e que ele apelidava de “Rei dos Carros” em suas brincadeiras. Ele disse que o dele era preto. Fui no editor de visual, troquei suas cores para negro metálico. Na tela, por algum momento, o desaparecido “Rei dos Carros” ressurgiu em toda sua nostalgia. Parabéns, Milestone.
P.S.: O “Rei dos Carros” não ganhou nenhuma corrida. Meu filho trocou de modelo e me venceu em todas.
Prós:
🔺 Sensação de velocidade
🔺 Controles seguros
🔺 Dezenas e dezenas de veículos que marcaram a infância
🔺 Variedade de modos
Contras:
🔻 Música chatinha
🔻 História do modo campanha recomendada somente para crianças pequenas
🔻 Gráficos não impressionam
🔻 Editor de pistas confuso
Ficha Técnica:
Lançamento: 19/10/23
Desenvolvedora: Milestone
Distribuidora: Milestone
Plataformas: PS4, PS5, PC, Xbox Series, Xbox One, Switch
Testado no: PC