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Em 2016, o agente 47 voltou em Hitman, uma continuação/reboot lançada episodicamente. Ao final da temporada, a desenvolvedora IO Interactive conseguiu criar uma das melhores aventuras da franquia.

Sendo um “immersive sim” como Deus Ex e Dishonored, a proposta da série Hitman é aprender sobre um cenário e o comportamento de seus alvos, além de explorar possibilidades furtivas e inconvenientes. Trazendo cenários maiores, mais oportunidades de assassinatos e uma leva de desafios que incentivavam o replay, a primeira temporada foi certamente um passo positivo para a franquia.

Após se separar da Square Enix, a IO Interactive traz agora Hitman 2 em parceria com a WB Games. Largando a estrutura episódica da qual diversos jogadores não foram muito fãs, o jogo chega como uma aventura completa do agente com fases ainda maiores. Será que esse novo capítulo acerta novamente?

Anteriormente, em Hitman…

A trama do primeiro Hitman era interessante. No entanto, o modelo episódico fazia com que parecesse desconexa. Jogando a temporada completa, por outro lado, era mais fácil conectar os pontos, fazendo com que fosse divertido perceber a conspiração que envolvia as personagens. O gancho ao final era claro: descobriríamos mais sobre o passado de 47 numa segunda temporada.

É exatamente essa aposta no lado pessoal da trama, explorando tanto o passado do assassino quanto de Diana, que faz com que Hitman 2 traga uma história superior à do primeiro. A narrativa traz algumas viradas interessantes, além de ser melhor incorporada nas fases.

O seu ritmo é eficiente, garantido pela presença de todos os capítulos já no lançamento. Trazendo motivações pessoais aos personagens, acaba sendo mais envolvente não só durante as cutscenes, como também durante suas missões.

Imagem do jogo Hitman 2
As cutscenes estáticas seguram um pouco o potencial narrativo…

Mas é em relação às cutscenes que surge um dos problemas de Hitman 2. Diferente dos belos CGs do primeiro, o que temos no segundo são cenas compostas de imagens estáticas que, por mais bonitas que sejam, evitam que o potencial dramático de diversos momentos seja atingido.

Os eventos da trama ainda conseguem envolver, mas sempre fica clara a falta de dinamismo na maneira como são contados. Os briefings, por outro lado, são estilosos, trazendo um design moderno, além de transmitirem bem informações da trama e dos alvos.

Talvez isso se deva ao fato de que, quando foi colocada à venda pela Square Enix, a IO Interactive já estava desenvolvendo Hitman 2. Com os problemas que isso acarretou, o orçamento deve ter sofrido um pouco, provavelmente evitando que as cenas fossem produzidas no nível glorioso do anterior. Não é um grande problema, pois a jogabilidade e design de fases são as estrelas do show, mas as cutscenes ainda decepcionam em termos narrativos.

Um mundo de oportunidades

Ao conversar disfarçado com um de seus alvos em Mumbai, o agente 47 diz o seguinte: “Bem, o desafio é encontrar a raiz do problema, trabalhar para conseguir abordá-la e então fazer o necessário para erradicá-la.”.

Perguntado de como abordaria sua tarefa, responde: “Meu método tradicional é a preparação intensa. Estudar o problema, aprender tudo o que for possível e avaliar abordagens incomuns. A ideia é instigar gentilmente os outros a fazer o que desejo, então, assim que o objetivo estiver à minha frente, eu o executo com perfeição.”.

E, quando questionado se não se importa com sangue derramado, retruca: “Nem um pouco. Na verdade, isso acontece com bastante frequência.”. Esse diálogo, em especial, mostra como a desenvolvedora entende muito bem sua criação. Hitman sempre foi isso: preparação, manipulação e, sem dúvida, abordagens incomuns. Isso é o que não falta em Hitman 2.

Imagem do jogo Hitman 2
Essa tatuagem foi fundo demais.

Das 6 fases da campanha, 5 são as maiores já vistas na franquia. Trazendo diversos alvos em sua maioria, as locações são gigantes, cheias de camadas. Informações são reveladas não só pelo guia de “histórias de missões”, como também por diálogos de NPCs, muitas vezes cômicos e bem escritos. Cada fase é um mundo de oportunidades e apenas algumas delas são aproveitadas a cada tentativa. A primeira, em Hawke’s Bay, já traz inteligência no design, mesmo que seu território seja pequeno.

Nem sempre tudo ocorre da mesma maneira a cada vez que você joga, como por exemplo o primeiro alvo que pode pedir mel ou açúcar em seu chá. Então, antes de envenenar o ingrediente, é necessário escutar atentamente o diálogo. Como sempre, existem outras abordagens na neutralização do alvo. Diálogos incidentais também mudam.

Imagem do jogo Hitman 2
A cozinha é o lugar preferido do agente 47.

A segunda fase, Miami, explode com cores e NPCs. Hitman 2 é certamente mais colorido que seu antecessor e fases como Miami ou Whittetlon Creek não deixam dúvida disso. Cheias de tramas interessantes, são mundos abertos em menor escala que, ao apresentarem diversas oportunidades durante sua exploração, estimulam o replay. O jogador sempre descobrirá mais de uma abordagem para cada alvo, o que o fará salivar para jogar novamente. Todas as abordagens que descobri e utilizei foram interessantes, valendo a pena.

Uma das mais memoráveis ocorre em Mumbai, a quarta fase do jogo. Nessa grande cidade, os seus alvos também estão sendo perseguidos por outro assassino, um atirador. Como sugerido por Diana, então, você pode dar uma mãozinha a ele. Claro, não é tão simples assim, mas sem dúvida é satisfatório e divertido.

Imagem do jogo Hitman 2
47 é, sem dúvida, o protagonista mais versátil dos games.

Imensidão de referências

Existem também diversas referências aos jogos anteriores da série. Veja bem, mesmo que intitulados de Hitman e Hitman 2, os dois jogos também são sequências de todas as aventuras da franquia. E aqui as referências são fantásticas.

Em certo momento do jogo, um funeral ao som de “Ave Maria” de Schubert trará à memória a última fase de Hitman: Blood Money. Já Whittetlon Creek, um subúrbio, traz uma sensação bem similar à fase “A New Life”, também de Blood Money. O nome da fase no local? “Another Life”.

Tendo jogado Hitman 2: Silent Assassin, Hitman: Contracts e Blood Money na coletânea HD lançada para o PS3 e 360, as referências colocaram um sorriso no meu rosto. O divisivo Hitman: Absolution, de 2012, também não é esquecido.

Enquanto outras séries erram em seus novos capítulos divergindo demais de seus trunfos sem os substituir por outros atrativos, Hitman se mantém no alvo, trazendo fases brilhantemente construídas e inúmeras ferramentas e oportunidades para o cumprimento de seus objetivos. Sem falar nos fabulosos disfarces obtidos tanto ao neutralizar NPCs quanto ao aproveitar oportunidades de missão. De repente, Scooby Doo não é tão ridículo assim.

Imagem do jogo Hitman 2
De vez em quando, é bom desenterrar estratégias antigas.

Não apenas uma careca bonita

Hitman 2 utiliza a Glacier Engine (também utilizada em Deus Ex: Mankind Divided e Hitman: Absolution), da própria desenvolvedora, que agora traz algumas melhorias. Reflexos são muito mais detalhados, apresentando a cena renderizada numa resolução menor em superfícies refletivas. Não são apenas um detalhe visual, pois 47 pode ser avistado em reflexos pelos inimigos. A iluminação traz mais dinamismo, fazendo com que a luz bata de maneira elegante em objetos.

O número de NPCs é ainda maior que no primeiro. Mas não é só a engine que garante um visual superior ao do primeiro, como também a direção de arte mais colorida e cenários mais exóticos. O castelo na Ilha de Sgàil é o maior exemplo disso, sendo uma estrutura intricada e cheia de vistas, algumas clássicas e outras peculiares. Joguei em um PS4 padrão que ainda exibe ótimos gráficos, devendo ser ainda melhores nas plataformas mais poderosas.

A trilha sonora também é elegante, discreta na maior parte do tempo e crescendo ao final da missão, transmitindo a emoção de sair despercebido (ou não) de uma longa missão. O trabalho sonoro é, no geral, excelente, inclusive a dublagem. E, diferente do primeiro, onde os figurantes de todos os países tinham o mesmo inglês de sotaque americano, aqui as vozes trazem pelo menos os sotaques de cada país visitado.

Imagem do jogo Hitman 2
O uso de reflexos no jogo é excelente.

Mudanças também foram feitas em termos de mecânicas, mesmo que não sejam muito grandes. Quando 47 está em meio a uma multidão, seu contorno fica branco e um círculo da mesma cor surge à sua volta, indicando que está se misturando à multidão, algo que o jogo anterior não indicava da mesma maneira. Maletas, um item icônico dos jogos anteriores ao reboot, também voltam, podendo ser utilizadas nas fases quando destravadas.

Outro detalhe mais importante é o modo Picture in Picture que aparece na tela quando uma distração é ativada, exibindo o NPC distraído em sua tela ou quando um objetivo está sendo seguido, mostrando o alvo desse objetivo. Ele também é utilizado em alguns assassinatos de maneira satisfatória. Já o modo Sniper Assassin, onde o jogador realiza uma missão apenas com seu rifle à distância, volta do primeiro jogo. E dessa vez pode ser jogado em multiplayer cooperativo, em dois jogadores. É um modo divertido, sendo satisfatório completar um objetivo apenas com uma boa mira, observação e paciência.

Imagem do jogo Hitman 2
O modo Picture in Picture é uma elegante maneira de expôr informações.

Hitman: Segunda Temporada Completa

Para quem possui a primeira temporada, todas as fases dela podem ser jogadas na plataforma do segundo jogo, se baixadas, incluindo as mudanças da engine e jogabilidade. Porém, me decepcionei ao ver que meu progresso no jogo anterior não foi carregado pelas estatísticas de Hitman 2. Toda a pontuação adquirida com a classificação Assassino Silencioso nas fases de Hitman não foi reconhecida, sendo uma oportunidade perdida de construir uma plataforma online consistente entre jogos.

Alguns troféus também se repetem da primeira temporada, relacionados ao prólogo (o mesmo de Hitman, já incluso no segundo jogo) e outros feitos, mas também precisam ser conquistados novamente. Fica claro que Hitman 2 foi desenvolvido como uma segunda temporada, dividida em episódios. Até mesmo o download do jogo é feito por fases separadamente, desde a plataforma e prólogo do jogo, até as 7 fases (6 de campanha, 1 do modo Sniper Assassin).

Hitman 2 não se diferencia muito em termos de mecânicas, mas isso acaba não sendo um problema, pois elas já funcionavam bem em seu antecessor. Problema mesmo são os bugs que, mesmo que não sejam muitos, podem atrapalhar a jogatina. Um bug foi sonoro, fazendo com que um alvo repetisse uma fala me avisando para não ficar perambulando por sua casa, mesmo que eu estivesse do seu lado. Essa fala se repetia em cima de seu próprio diálogo.

O caso mais grave foi ao seguir uma oportunidade de missão onde 47 se disfarçaria de tatuador. Num bar, o tatuador bebe cerveja e o jogador pode se disfarçar de bartender, podendo envenenar (não letalmente) a cerveja quando ele vira suas costas. Porém, a cerveja ficou presa na mão do tatuador, impedindo que tal oportunidade fosse seguida até que eu recarregasse o jogo.

Imagem do jogo Hitman 2
Bugs são duros de matar.

Dica importantíssima: salve manualmente sempre que puder e tiver certeza de que tudo está indo de acordo, não só pelos bugs como pela estratégia de tentativa e erro esperada da franquia. Poderia existir um recurso de quicksave, pois a tela de carregamento do salvamento manual demora um pouco e isso acaba irritando devido à frequente utilização.

O jogo traz 3 dificuldades, sendo elas Casual, Profissional e Mestre. A HUD do jogo é totalmente customizável, desde informações de objetivos, até dicas na tela e tamanhos das legendas. Vale apontar que o jogo está totalmente legendado em português brasileiro. A taxa de quadros por segundo, assim como no jogo anterior, pode ser travada e destravada.

Por padrão, começa destravada, o que pode garantir mais fluidez e responsividade dos controles em momentos, porém também gera inconsistências na performance. Travada, mantém bem seu nível de 30 frames por segundo em um PS4 padrão, pelo menos. Independente disso, a mira das armas é meio solta e imprecisa, mas um assassino silencioso de respeito não precisa de armas de fogo, não é mesmo?

Imagem do jogo Hitman 2
Conseguir a classificação Assassino Silencioso em todas as fases é uma enorme satisfação, especialmente na intricada missão final.

Hitman 2 vai certamente agradar fãs do primeiro. Seu loop de gameplay continua mais satisfatório do que nunca, fazendo com que obsessivos como eu, que almejam completar todas as fases com a classificação “Assassino Silencioso”, fiquem duas horas ou mais em uma missão (o cronômetro não conta todas as tentativas e carregamentos de save).

As oportunidades são ainda mais divertidas e as fases são, sem dúvida, algumas das melhores da franquia toda. A história também é mais interessante dessa vez, apostando nas motivações pessoais, o que traz uma dinâmica diferente ao elenco. O gancho e a reviravolta ao final da trama fazem com que um terceiro jogo seja promissor.

Já o fator replay altíssimo, as expansões prometidas e os alvos elusivos (o primeiro deles sendo o imortal Sean Bean) garantem longevidade ao capítulo atual. No total, é mais um passo na direção certa para o agente 47. Como diz para seu alvo em Mumbai, ao falar de seu método: “Procuro sempre agradar.”. Missão bem-sucedida.

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