A Codemasters teve bastante trabalho nos últimos anos com a série GRID. Desde o segundo título e passando pelo Autosport, a franquia se desgastou em vários erros e essa geração não tinha recebido nenhum lançamento novo dela. Até o momento. Com uma promessa de restaurar o glamour e brilho de outras épocas, eles retornam para mais uma volta e mostrar ao mundo que estão vivos.
Porém num universo de Gran Turismo, Forza e Project Cars, entre vários outros simuladores, será que ele finalmente encontrou o seu lugar na pole position? Com o peso de ser um nome memorável no meio de títulos que já se estabeleceram bem nos PCs, PlayStation 4 e Xbox One, talvez ele não acabe marcando o público que busca nele um competidor forte para chegar em primeiro colocado.
Corra, mas sem razões
GRID tem tudo que se espera de um grande simulador de corridas. A sensação de velocidade percorrendo por você a cada volta, os vários veículos disputando seu espaço nas primeiras colocações, a plateia vibrando enquanto os carros passam perto do público, os locutores vibrando no começo e fim de cada uma, a sua equipe dando dicas e conselhos durante seu percurso – tudo dando uma sensação ainda maior de que você faz parte de algo.
As grandes estrelas, os carros, são um show à parte. Com uma variação enorme de modelos, cada um se adaptando a um estilo distinto de torneio, você sempre encontrará o seu lugar dentro da pista. Inclusive, há um deles onde enfrentará nas pistas o grande mestre da Fórmula 1, Fernando Alonso, trazendo o piloto pela primeira vez à franquia e fazendo o título brilhar ainda mais.
Porém a campanha de GRID é extremamente fraca. Primeiro, não há motivação nenhuma por trás ou alguma história de fato. Sei que o intuito do game é correr, mas assim como o de FIFA é apenas jogar futebol, acertaram na inclusão de um Journey no meio e, agora, no enredo do VOLTA, certo? Nem que enfiassem o clichê do irmão que desapareceu pós-acidente e surgiu outro mascarado no meio, caberia um envolvimento maior do jogador com o progresso do jogo.
Algo que me agradou bastante na gameplay de GRID foi o sistema de nêmesis. Conforme você causa impactos ou usa artimanhas para passar os oponentes, eles te marcam durante o campeonato. Isso faz com que se tornem bastante agressivos e cheguem ao extremo de causar acidentes para te tirar de seu caminho. Até mesmo o seu parceiro de equipe pode se tornar um nêmesis, então tente ao máximo não fazer gracinhas no trânsito.
Não tão aGRIDável
Outro ponto alto de GRID é a mecânica dentro das corridas, que fica entre o ame e o odeie. O jogo assumiu o seu papel como um simulador, trazendo uma realidade ainda maior do que a vista nas últimas gerações. No entanto, mesmo com os auxílios ligados e com carros potentes, chegar nas posições de frente demora e vai frustrar quem resolver começar a jogar por ele.
Até mesmo os veteranos sentirão grande dificuldade em se acostumar com a gameplay de GRID, que confesso ter sido o meu caso. Não me espantei com o fato do simulador mostrar o quanto vencer pode ser uma tarefa complicada na vida real, porém achei surreal que em muitas delas sequer te permitam chegar entre os cinco primeiros, mesmo não cometendo erros e estando munido de um dos melhores carros disponíveis.
Óbvio que isso foi no início da minha experiência com GRID. Com o passar do tempo e muito treinamento, revendo a estratégia várias vezes e adaptando meu veículo ao meu estilo de jogo, finalmente fechei um campeonato de quatro corridas em primeiro colocado. Mas como eu disse, exigiu esforço, horas do meu dia seguidas, estudos de pistas, entre outras linhas de pensamento. Quantos de nós temos paciência para isso hoje? Mesmo mexendo nas configurações para assistência, você consegue um pouco de progresso, mas nada expressivo.
Como um amigo afirmou num review da semana passada, reitero com GRID. Não é um jogo para crianças, definitivamente. Ele é feito para adultos e fãs de corrida. Adultos entre os quais muitos trabalham de 8h ou até mais por dia. Que tiram 1h no transporte público para ida e 1h para volta, muitas vezes mais também. Que tem de correr para fazer comida, cuidar das coisas e no fim aproveitar um pouco do videogame. A partir do momento que a Codemasters traz uma barreira grande dessas, só vai deixar quem é fã mesmo e quem busca simuladores mais precisos. E, infelizmente na era que vivemos, limitar seu público não trará o nome do jogo à glória que já teve.
Ouso dizer que, com a minha experiência com Sekiro: Shadows Die Twice e Code Vein eu ainda enxergava uma verdade que sempre vi nos games. Que eles são criados sempre com um caminho para poder vencer. Mesmo que seja um bem complicado, sempre há. Nas primeiras corridas de GRID, não vi isso em momento algum. Não com o veículo que me deram, na posição que me colocaram e competindo contra quem eu estava. Sei que com outros carros e com outras estratégias isso seria mais simples. Mas logo de cara te dar um muro tão alto de se escalar, sem recursos, não foi um acerto.
Entre o ame ou odeie, faça sua escolha
Bom, se você está pensando que nele podem haver microtransações, esquece. Ao menos isso não existe aqui. O título agrada ao trazer todo conteúdo de forma comprável com as moedas obtidas nas corridas. Quanto mais na frente você chegar e mais campeonatos vencer, mais veículos poderá comprar, elevando suas chances de ganhar os próximos. Nadando contra a maré nessa decisão, foi um ótimo alívio não ver o pay-to-win que tem consumido o mercado nos últimos tempos.
A dublagem de GRID também é excelente, trazendo os locutores de forma animada e que fazem você se sentir como se estivessem dentro de uma competição de verdade. Com estatísticas, dados sobre a pista e até mesmo um pouco de contexto histórico, foram uma ótima adição. Podiam ter colocado eles para continuar falando em meio da corrida, mas entendo a opção de darem o foco do áudio para a sua equipe enquanto está na disputa.
Se você busca um verdadeiro simulador e sentia falta disso no mercado, GRID é um prato cheio. Na ausência de um lançamento forte desse ano como Forza, ele preenche muito bem o espaço e pode agradar aos apaixonados e quem possui um volante próprio para competir. A campanha é um ótimo campo para aprender as pistas e os macetes dela, já o online com certeza vai pipocar de talentos nos próximos dias e a empresa planeja uma grande leva de conteúdo pós-lançamento.
Porém se você é iniciante nesse universo ou não tem tanto tempo para se dedicar assim, pode dar a ré. O game exige uma dedicação e treinamento até você conseguir colher os resultados, o que pode frustrar quem busca uma experiência mais branda para se divertir. Mesmo com várias opções e facilitadores, a sensação para estes será a de que não está aproveitando o título por completo.