Impossível não começar qualquer opinião sobre Graceful Explosion Machine sem um trocadilho infame. GEM, para os mais íntimo, chega aos consoles depois de sua estreia no PC como uma graciosa explosão de sons, cores e diversão. O jogo desenvolvido pela Vertex Pop, estúdio já conhecido por We Are Doomed, surge como uma opção simples e divertida. Talvez o fator nostalgia possa contribuir, mas esse “jogo de navinha” com certeza vai ganhar sua atenção e boas horas na luta pelo vasta imensidão colorida por dentro de um desconhecido universo.
Então venha pegar carona nessa cauda de cometa, ver a via láctea estrada tão bonita. Se você quer vir com a gente, venha que será um barato e prepare-se para conhecer o indie mais viciante de 2017.
Nada está perdido no espaço
Aceita que dói menos! Esse é um jogo que não tem apego algum à narrativa, plot ou construção de história. Por meio de apenas algumas telas estáticas usadas para montar o plot principal, como faziam os antigos “quadrinhos animados” da Marvel, nós conhecemos a história por trás da nossa jornada pelo desconhecido: uma pequena nave precisa salvar o universo da destruição causada por alienígenas coloridos. E como você conseguirá realizar tal feito heroico? Reunindo quatro cristais escondidos em quatro planetas diferentes.
Com o básico apresentado, você terá a oportunidade de construir sua própria narrativa dentro desse universo um tanto quanto incomum. Nada de escuridão, realismo ou seriedade, mas sim formas geométricas e muitas cores que preencherão a sua tela e encherão seus olhos durante os rápidos minutos em cada missão. Durante as 36 missões, divididas em quatro planetas, sendo a nona missão a etapa em que você enfrenta uma horda de inimigos para recuperar os cristais, Grateful Explosion consegue trocar a história pelo alto nível de vício que esse jogo causará em você. Com certeza você vai querer passar por cada fase sem sofrer um dano ou tentando alcançar a pontuação mais alta. Afinal, sua nota e pontuação serão publicadas na comunidade do jogo.
Tudo isso só é possível por conta da construção e curva de aprendizagem muito bem exploradas desde o início do jogo. As primeiras fases são preparadas para conhecermos os quatro tipos de arma que a nossa nave possui, além das mecânicas por trás de cada uma delas; não exigindo nenhum tutorial complexo, nós conseguimos aprender as vantagens e desvantagens de cada uma. Após essa introdução, somos lançados na aventura que possui um aumento gradual da dificuldade, sem saltos ou exageros por conta do seu progresso. Com certeza está longe de ser um jogo fácil, muito menos que pega na mão do jogador com artifícios pré-programados para facilitar a vida. Porém você terá apenas duas vidas para sobreviver ao cenário e, caso não tenha a nave destruída, conseguirá prosseguir com cada vez mais pontos até o final. Quanto mais tempo vivo em jogo, mais ponto você terá!
Com três ondas de inimigos em cada missão, cenário ou fase, chame como quiser, você precisará contar com a sua habilidade para sobreviver utilizando apenas as opções de defesa que você possui desde o começo. Detalhe importante: sem upgrade! Você contará com um tiro normal, uma espada circular, um raio contínuo e uma chuva de mísseis, além dos gatilhos para a esquiva. Como nada pode ser tão fácil, você andará sempre para frente, seja direita ou esquerda do cenário, movendo sua nave com o direcional esquerdo, mirando com o direito e mudando a direção da sua nave apenas ao usar os botões superiores. Essas são as, talvez limitadas, opções para enfrentar o mal que o universo esconde. O interessante em ter apenas essas opções é a forma como o jogo nos obriga a montar uma estratégia e não sair atirando sem o menor raciocínio lógico. O tiro normal possui resfriamento e não pode ser usado incessantemente, te obrigando a não usar apenas um tipo de ataque, da mesma maneira como os outros três tiros precisam de cristais obtidos a partir de cada inimigo destruído, sem contar que a esquiva pode ser usada apenas duas vezes antes de ser recarregado. Ou seja, você precisará tomar cuidado e montar sua estratégia em meio ao mar de explosões coloridas.
Um universo de cores
Graceful Explosion Machine tem o visual como um dos pontos mais fortes. Em um primeiro momento ele pode remeter à um jogo mobile, mas a Vertex Pop conseguiu trabalhar com as cores para que elas funcionem de maneira isolada e ao eclodirem também criem algo visualmente ainda mais impressionante: uma mistura de cores que ao mesmo tempo confunde, exigindo muita atenção de quem está jogando, além de ser um deleite aos olhos. Nada de impressionante no level design, com formas bem genéricas e infinitas, em que você indo até as extremidades do cenário você acaba andando em looping, porém sempre com a preocupação em manter o uso das cores da maneira mais coesa possível.
Cada cenário se adapta à dificuldade a ser enfrentada: inimigos mais resistentes, raios que andam pela tela, alienígenas que saltam para cima de você ou atiram ao morrer, sem contar a infinidade de variações para aqueles que surgem no seu caminho e que já vêm com armadura ou alguma mecânica que exigirá maior habilidade para derrotá-lo. Tudo isso é feito com design, mas o mais importante é conseguirmos identificar cada elemento pela cor e saber o que eles possuem de diferente entre si. Graceful Explosion Machine não seria nada sem o trabalho magistral com a sua paleta de cores! Até mesmo pelo forte do jogo não estar no design dos inimigos, o jogo não se preocupou em trabalhar com a presença de chefões a cada determinado número de telas avançadas. Isso faz com que o jogo tenha uma aproximação ainda maior com o fator da pontuação e placar do que com a história e o seu progresso entre as fases. Mais um motivo para que ele fuja do convencional trabalhando totalmente fora dos padrões de shmup existentes atualmente e buscando a jogatina desenfreada que os celulares conseguem por conta da facilidade em galgar novos lugares no ranking do jogo.
Óbvio que com um visual impressionante, o som desse jogo não poderia ser diferente. Composto por Robby Duguay, um jovem talento que consegue trabalhar muito bem o estilo mais eletrônico e sintético, dando um peso para cada tiro, destruição causada ou até mesmo dano que você toma. Aliado às interferências na HUD, com um desfoque e distorção nas cores, basta um ataque sofrido e a trilha acompanha a quebra do frenezi imposto pela loucura das cores, velocidade dos acontecimentos e quantidade de inimigos na tela, para retomar de maneira mais calma e ir do 0 ao 100 em poucos instantes, sempre acompanhado de um bom som de fundo. A imersão é tamanha que após cinco horas de jogo, sem tirar os olhos da tela, comecei a sofrer um leve mal-estar por conta da imensidão de informação acontecendo ao mesmo tempo e numa velocidade acima do normal, trilhado com sons que invadem a cabeça e não nos permite um segundo de distração.
Deslizes gravitacionais
Seria de impressionar se o jogo não tivesse problemas, mas de planeta em planeta você não está ileso de alguns deslizes no jogo. Infelizmente, por ser muito rápido durante o gameplay e com cenários tão curtos formados em looping, o jogo acaba se arrastando muito a cada planeta. Se tivéssemos algo em torno de cinco fases, reduzindo de 36 para 20, com certeza seria muito mais gratificante ir até o fim.
No segundo planeta, quando você estiver próximo da nona fase, a que você recupera o cristal, você já terá sido destruído diversas vezes. Não necessariamente pelos inimigos, mas por ter morrido por conta das mecânicas ou até mesmo preso em algum canto do cenário por falta de opção em caminhos a serem seguidos como rota de fuga. A estratégia sugerida pelo próprio jogo, em usar esquiva na direção dos inimigos para passar por eles e espalhá-los pelo mapa, com certeza será um vilão a parte para ser vencido. Possivelmente você sofrerá dano por conta do hit box não interpretar que você já passou o suficiente pelo inimigo a ponto de não tomar aquele dano.
Nada que possa impedir o seu progresso ou sua diversão, ainda mais se você for um gamer nostálgico como eu e lembrar das suas dezenas de horas em frente aos títulos da era 8 e 16-bit. Com certeza Graceful Explosion Machine precisa estar na sua biblioteca de jogos para aqueles momentos de descontração em que você não quer fazer nada a não ser se divertir sem precisar de muito esforço. Com pelo menos quatro horas de jogo você será capaz de atingir o objetivo principal (ou não) proposto pela Vertex Pop.