Em 1984, o mundo recebia, sem nem saber, uma das maiores obras primas do cinema pipoca. Ghostbusters, título dirigido por Ivan Reitman e escrito por Dan Aykroyd e Harold Ramis, trouxe para as telonas vários personagens, músicas e referências que são mantidas com carinho até os dias de hoje. Estrelado por Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson, o filme marcou época ao misturar comédia, ação e aventura ao lado do sobrenatural. As tentativas posteriores para manter os heróis nos assuntos corriqueiros foram inúmeras, com uma sequência e um reboot recente, mas nenhuma delas teve o mesmo efeito do primeiro filme, sem dúvidas.
Um tempo de ostracismo se passou e em 2009, Ghostbusters: The Video Game, deu as caras em versões para Xbox 360, PlayStation 3, PlayStation 2 e Nintendo Wii. Na ânsia de criar um novo enredo para a já explorada e ‘sempre igual’ história dos quatro americanos combatentes dos fantasmas, o jogo fez bonito. Dez anos se passaram e celebrando uma década do lançamento, eis que surge Ghostbusters: The Video Game Remastered. Recebido sem o mesmo alarde, ele está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch.
Shooter em terceira pessoa, o título quebra o tradicionalismo de outrora e adiciona um quinto personagem ao time de justiceiros. Sob nosso comando e sem nome ou voz, o New Guy ou Rookie, como é chamado diversas vezes, se envolve ao lado dos antigos personagens por uma Nova Iorque extremamente bem retratada e infestada de fantasmas novos ou anteriormente encontrados em narrativas passadas. Com uma duração de 6 a 8 horas dependendo do ritmo e da dificuldade selecionada, Ghostbusters: The Video Game Remastered possui uma história coesa que mistura suspense e aventura, falas inteligentes e engraçadas, cenários belíssimos e muita aventura. Será que deu liga?
Who You Gonna Call?
Logo de cara no menu, senti cheiro de coisa boa já que ao fundo, muito bem feito, estava o escritório dos Caça-Fantasmas. A qualidade em Ghostbusters: The Video Game Remastered causa, em um primeiro momento, o sentimento de ter sido feito por e para quem curte/curtiu o original da década de 1980. Tal efeito é confirmado ao prestar atenção nos bastidores. Na equipe técnica estavam Aykroyd e Ramis, responsáveis em colaborar com a produção dos scripts para o jogo. Dando mais valor ao forte nome, muitos outros atores e atrizes, que passearam pelos filmes emprestaram sua vozes e suas faces para o desenvolvimento. É visível o cuidado. Introdução feita, vamos ao enredo.
A história se passa dois anos após Ghostbusters II e junta eventos dos dois primeiros filmes. Os agora heróis ganharam fama e amor por parte do público e, enfim, se tornaram os combatentes oficiais da cidade. A partir de então, durante uma missão primária em um hotel, descobrem e desconfiam, após vencer o fofo e temível Homem Marshmallow Stay-Pufft, que algo estranho está rolando e logo ligam os acontecimentos à exposição de Gozer (antigo vilão), no Museu de História Natural que está para acontecer. Com a parceria da doutora Ilyssa Selwyn, cabe a nós a missão de encerrar essa bagunça da melhor maneira possível.
Para tal, estamos munidos com o tradicional Proton Pack (com quatro tiros diferentes), com o Ghost Trap (armadilha que captura as criaturas do outro mundo), além do PKE Meter. Neste caso, ao acioná-lo, somos levados a um modo em 1ª pessoa que lembra um pouco o radar de Alien: Isolation. Com a função de capturar itens paranormais e descobrir fantasmas escondidos, é um item essencial para o desenrolar do gameplay.
Tiro de slime neles
Facilitando o serviço, nada como controles, menus e jogabilidade na medida, certo? E de fato, é esse o encontrado em Ghostbusters: The Video Game Remastered. Porém, tomei um leve susto logo no começo. Um sério bug condenou minha jogatina, me obrigando a resetar meu primeiro save. No Sedgewick Hotel, cenário da primeira grande missão, um dos fantasmas que deveria ser capturado subitamente foi sugado pelo elevador, ficando preso numa espécie de limbo. Como não havia o que fazer e ele realmente não conseguia escapar do lugar de onde não deveria estar, o problema acabou atrapalhando toda a inteligência artificial e, consequentemente, o andamento do script.
Felizmente encontrei um caso isolado e não houve qualquer outro problema desse naipe. Vez ou outra, um ou outro objeto não responderam de maneira fluída, bem como alguns NPCs. Fora esses pequenos casos, tudo transcorreu da melhor maneira possível. O título é divertidíssimo e tem como grande aliado os fáceis comandos, resumidos a pular, desviar, atirar e interação. Outro destaque é o simples menu, onde se fazem os upgrades nos equipamentos, se acessa o tópico de ajuda e verifica-se os itens raros capturados, fora as opções comuns de som, controles e etc.
Os chefes, cada um com sua característica, possuem boa curva de dificuldade (sendo os últimos os mais difíceis) e inteligência artificial apurada, e o mesmo caso vale para os rivais de campo. Dificuldade, aliás, é um dos pontos altos em Ghostbusters: The Video Game Remastered. Não lidei com um jogo bobo e sim com um preparado para ser desafiador/gostoso de jogar, seja lá qual for o nível escolhido.
Apesar da boa maré, entendo ser necessário pontuar algo comum em jogos de aventuras: as sequências lineares. O gameplay vai se resumir em chegar numa fase, combater os fantasmas e chegar no chefe. Repeat. Chega-se numa fase, combatem-se os fantasmas e chega-se no chefe. É isso e só isso. A história bem escrita ajuda e o conteúdo como um todo também. Entretanto, ir do ponto A ao ponto B acaba sim sendo repetitivo. Caso você saiba onde está se metendo, assim como eu sabia, a diversão será maior. Ser fã da franquia também ajuda bastante.
Efeitos sonoros dos anos 80
Para o bem e para o mal, quase todos os efeitos sonoros do título são oriundos das primeiras aparições dos Caça-Fantasmas na sétima arte. Grande parte das músicas são as originais e tocam em exaustão, infelizmente. Consigo compreender a tentativa de fazer o jogador se sentir dentro de um filme deles, mas há momentos em que elas se tornam repetitivas demais, o que me leva a questionar a razão de não terem criados mais opções para os grandes e diversos momentos dos games. São bem bacanas… até a décima vez que começam a tocar.
O mesmo não pode ser dito acerca da dublagem. Nós bem sabemos das problemáticas adaptações de filmes para os video-games. Graças a Deus, Ghostbusters: The Video Game Remastered dá aula nesse assunto. As dublagens do elenco original são perfeitas e andam de mãos dadas com o bom roteiro.
Quanto aos outros efeitos sonoros como tiros das armas, falas e ambientação, a imersão é sentida a partir do conjunto de todas essas etapas. Para minha surpresa, há até uma pitada de suspense. Se nos filmes as aparições fantasmagóricas tendem mais para a comédia, aqui há breves momentos de sustos e tensão com vozes de crianças e adultos, como risadas e falas que surgem do nada. Conseguiram colocar um novo elemento dentro de um produto consagrado. Ação para poucos.
Ecto-1 1959
Vamos falar um pouco do visual? Primeiramente, gostaria de destacar o retrato de Nova Iorque. Os desenvolvedores entregaram uma cidade viva, colorida e que abraça a aventura de um jeito muito bom. Apesar de não ser um jogo de mundo aberto, todos os cenários são bem amplos e feitos com fidelidade. Seja na Times Square, no New York Public Library ou no American Museum of Natural History, há mais uma vez um trabalho de qualidade grande, isso sem falar no QG dos Ghostbusters, retratado fielmente e lotado de detalhes que encantarão a todos.
E o icônico carro Ecto-1 Cadillac 1959? É tão nostálgico e gostoso vê-lo bem na nossa frente que é impossível não ser transportado para a infância. Pena não haver nenhuma missão dentro dele. Contudo, só de vê-lo por perto e poder verificar cada detalhe, já vale a conferida de Ghostbusters: The Video Game Remastered.
Outra coisa bacana é o fiel retrato do elenco. A modelagem dos personagens principais é perfeita. Cito como exemplo o interpretado por Bill Murray. Suas piadas, os xavecos e até mesmo seu andar despojado estão lá e são iguaizinhos. Engana-se quem está pensando que as carinhas secundárias foram esquecidas e não tiveram o mesmo trato. Elas estão por lá. Do vilão Walter Peck à secretária Janine, passando pelo Geleia (Slimer), dentre tantos outros, todos encantam e adicionam muito ao produto.
Afirmo com segurança que a qualidade gráfica em Ghostbusters: The Video Game Remastered é muito decente e o remaster foi extremamente bem feito. Fora isso, não há lags e os gráficos estão muito em dia, embora não se assemelhem tanto ao que os consoles dessa geração podem entregar. O chato é que as cutscenes estão um pouco datadas, visto que vieram de outro período e não sofreram quaisquer mudanças. Pelo menos não é nada que atrapalhe.
Fresco como produto novo
Ao desligar meu PlayStation 4, saí me sentindo membro da trupe. A aceitação da segunda película não foi a mesma do original e o mesmo pode ser dito do reboot. Sendo assim, passo a considerar Ghostbusters: The Video Game Remastered como a sequência ideal. Como qualquer outro jogo, há defeitos, óbvio. Mesmo assim, eles são pequenos se comparados às grandes qualidades. Em um dos meus primeiros reviews, o Tetris Effect, lembro que escrevi acerca do cuidado necessário ao se mexer com clássicos.
Nitidamente houve um grande receio em cutucar os Caça-Fantasmas e minhas considerações finais não poderiam ser menores do que escrever que joguei um verdadeiro presente aos fãs da série. Minha viagem pelo universo foi tão maravilhosa quanto a primeira vez que tive acesso ao primeiro filme. Por tudo que escrevi e joguei, recomendo o jogo para os fãs e não fãs. É simplesmente um amante do gênero aventura e nunca tinha ouvido falar deles? Dê uma chance. É diversão garantida.