Lembra quando você ia à feira com sua mãe em busca do mais novo Brick Game 9999×1? Após compra-lo, sentava-se feliz no seu sofá com aquela Itubaína gelada e desfrutava do jogo de tanque, de corrida, da minhoca e, obviamente, do Tetris em mais de 300 níveis diferentes? Pois bem: esqueça tudo aquilo por um instante. Tetris amadureceu, se renovou e está a cara da nova geração. E isto é ótimo! Temos aqui um jogo que soube entregar o novo sem se esquecer do clássico. Tarefa pra poucos, não?
Sabe qual foi minha sensação? Foi a de rever aquele amigo antigo que continua o mesmo, mas cresceu e evoluiu da melhor maneira possível. Podia resumir toda a análise com a seguinte afirmação: aquele ‘mais do mesmo’ nunca foi tão perfeito e cabível para um game como agora.
Diversão à moda antiga com pitadas de nova geração
Tetris Effect me lembrou a razão de amar video-games. Quando a conexão, os gráficos, a música e o visual não eram tão importantes assim, a grande sacada era chegar em casa, ligar o console e esquecer do mundo. Foi exatamente isto que ocorreu comigo. Depois de um dia bem cansativo, desejei apenas me divertir como o pequeno Fernando. E como me diverti!
A primeira fase do modo principal, chamado Journey, te envolve e te convida a retornar ao universo de Tetris com o pé direito. A próxima fase também. A outra também. E por aí vai. Cada nível é uma surpresa, um delicioso mar a se navegar. Pegamos carona em um balão na Turquia, visitamos o antigo Egito e até o espaço conhecemos. Tudo isso sob uma trilha sonora e um visual impecáveis.
A fantástica mecânica que batizei de ‘crie você a música’ (a cada movimento das peças, uma nota ou uma batida toca e se acopla perfeitamente a música tema principal) é uma aula sobre o que se fazer com pouco, o que logo me lembrou games sensoriais como Flower ou Abzu. Coloquei a palavra ‘pouco’ pois estamos falando de um jogo relativamente simples, tá?
Temos, durante a jogatina, o Zone Effect, que é um acréscimo bem vindo: acumule pontos, encha a barra Effect, aperte L2 / R2 e tenha uma sobra de tempo para pensar onde jogar as peças. Algumas fases seriam praticamente impossíveis sem este cara que pouco conheço, mas já considero pacas.
O jogo oferece também um ranking mundial, um globo no melhor estilo Google Earth (mostrando onde há jogadores online) e uma customização de seu avatar, que inicialmente é um peixe. Outro modo presente é o Effect, onde diversos eventos randômicos são encontrados. Há variações de time attack e até desafios, mas alguns são maçantes. É uma adição que, caso não fosse encontrada, não faria falta.
Outro problema que merece destaque é que me deparei, em algumas fases (poucas), com uma música bem menos trabalhada e um visual menos criativo. Como vamos acostumando e nos envolvendo com algo que beira a perfeição, há momentos de um choque natural de ‘esperava mais’. Nada que atrapalhe mas, em uma hora ou outra você cairá numa fase dessas. Garanto que os mesmos barulhos e o visual mais simples darão uma certa enjoada, fora a vontade de passar logo.
Enfim… Tenho certeza que, fora tais pequenos deslizes, todo este espetáculo se dá pela presença de Tetsuya Mizuguchi na equipe de desenvolvimento. Ele é responsável, para citar apenas dois, pelo belíssimo Child of Eden e pelo primo próximo de Tetris, chamado Lumines, que também mexeram bastante com luzes e músicas interligadas. Valem a visita, inclusive.
Tiozinho que ainda dá show entre a molecada
Tetris é uma criação russa tão clássica quanto a vodca. Nascido em 1984, enxergo ele como um tio bem cuidado, com aquela leve barriga, mas extremamente popular entre os mais novos. Soube, apesar da idade, se renovar e seguir as tendências que não o colocam na prateleira dos tios pentelhos do ‘é pra vê ou pra cumê’.
Mario teve que se renovar e deu certo. Sonic teve que se renovar e não deu certo. Tetris também precisou se renovar e deu certo. Muito certo! Todas as características presentes no primeiro jogo estão lá: encaixe as peças, crie uma linha e siga fazendo isto até o fim. Tal premissa, entretanto, ganha uma absurda atualização e abusa perfeitamente das tecnologias atuais.
A diversão permanece, como antes. O gameplay continua fácil e simples, o que significa que agrada do menino de cinco anos ao vovô de 80 anos. Desejo, a partir de agora, que Tetris Effect seja referência quando forem mexer em clássicos. Cutucar um clássico é arriscado e pode queimar estúdios e arruinar uma franquia. Graças aos deuses gamers, não é o que ocorre aqui e apesar da idade, a galera continua delirando com a presença deste amado tiozinho.
Diferentes níveis, mesmas experiências
Acho parte dos jogos atuais relativamente fáceis. Em pouca coisa lembram Battletoads ou Super Ghouls’n Ghosts, em que muitas vezes eram necessárias boas horas para fecha-los, pitadas de paciência, além de grandes períodos com os consoles ligados já que não podiam ser salvos (sim, era exatamente assim). Até aqui, Tetris Effect dá show.
Há três níveis de dificuldade: beginner, normal e expert. O que os diferencia? A quantidade de linhas que precisamos destruir. Ou seja, em nada atrapalha a real experiência do jogo. Considero, inclusive, ser o ideal, pois não se muda o jogo em si, mas sim (e apenas) a dificuldade. A primeira fase continuará sendo a primeira fase para todos, assim como a última. Toda a experiência será a mesma. Níveis de dificuldade estão acabando com o tempo, assim como pontuações e rankings. De novo, Tetris Effect adiciona ingredientes da nova geração e entrega um resultado maravilhoso.
Por conta deste jogo, percebi que sou fã de Tetris; ou será que apenas lembrei deste fato? Demorei para pegar novamente as mecânicas e os melhores jeitos para cada pecinha. Depois que fui, fui e não voltei mais. Finalizei o jogo, busquei os outros modos, pesquiseis sobre outros Tetris e até tatuei um tetriminos (mentira, mas por que não?). A experiência é raiz, sendo pra mim o retrato do que é vídeo game.
Joga-lo me levou de volta à Guararapes, minha cidade de infância. Lembrei do pós escola, onde a missão era decidir qual jogo jogar e qual bolacha comer. Lembrei também, como já escrevi, a razão pela qual sou um apaixonado por isto. Sou um gamer por querer me divertir fora do globo, por estar a fim de viajar nos universos. Jogar é se esquecer dos problemas e apenas se lembrar que existe vida lá fora quando desligamos os consoles.
Tetris Effect, em mais um exemplo, fez a minha namorada jogar mais do que eu, sendo que ela não é uma apaixonada como nós. Não será esta, então, a tradução dos jogos eletrônicos e a razão principal pela qual eles foram e são criados? Quando se divertir for premissa em qualquer jogo, tenhamos certeza de que o caminho está correto.
Com pouquíssimos erros, encerro esta análise dizendo que, por pouco, Tetris Effect não pode ser considerado um jogo perfeito. Quer uma sugestão? Não perca tempo, dê uma chance para este carinha bem apessoado e completamente atual. Aproveite e chame os amigos das antigas pra ver o novo visual do game, especialmente se rolar de jogar com PSVR: a realidade virtual aumenta a experiência de um jeito bastante interessante. Garanto que, no mínimo, você terá respostas cheias de surpresas alegres. Aventure-se!