Encontrar-se em meio a um incêndio é, sem dúvida, uma situação terrível, com labaredas e fumaça tóxica sufocando seus pulmões enquanto as chamas consomem tudo rapidamente. Por outro lado, o frio extremo mata de maneira diferente: lenta e implacavelmente. Se aproxima como um espectro faminto, consumindo o calor do corpo, levando à loucura, tremores e ao ranger de dentes que desafia o senso comum. Frostpunk 2 dá continuidade a essa luta, onde o verdadeiro inimigo é o frio, que tem apenas o tempo a seu favor.
Esta sequência do aclamado city builder expande ferozmente as ideias do jogo original. Agora, as construções são feitas em larga escala, em vez de apenas edificações individuais. Estamos falando de bairros inteiros dedicados à mineração, agricultura e habitação, todos projetados para manter a cidade e o gerador funcionando. A cidade sobreviveu à tempestade, mas agora a responsabilidade é maior: ela não pode cair!
O imutável mundo frio
O mundo permanece congelado e o tempo corre contra os habitantes de Nova Londres, que contam os minutos, horas e dias que ainda podem confiar no gerador. Frostpunk 2, no entanto, não começa diretamente em Nova Londres, mas em uma expedição nas proximidades. Um grupo de sobreviventes, utilizando uma das grandes máquinas de travessia, fica isolado em um precipício.
O que inicialmente parece ser uma sentença de morte se revela como a salvação da humanidade. As minas de carvão, que antes eram suficientes para Nova Londres, já não atendem à crescente demanda. Sobreviver à tempestade foi apenas o começo, pois agora a população deseja mais do que apenas comida e trabalho. A resposta para essa nova necessidade vem de uma fissura no gelo: petróleo!
Essa nova fonte de energia torna possível a sobrevivência e dá início ao jogo, que se passa 30 anos após o original. Uma cena de abertura mostra a morte do antigo Capitão, consumido pelos rigores do tempo e do clima. Em seu lugar, surge o “Comissário”, a figura que representa o jogador em um mundo onde a chama das paixões humanas é tão poderosa quanto o gerador central de Nova Londres.
Depois de reativar o gerador com as minas de carvão, uma criança nasce: Lily May. Ela é o termômetro moral do jogo, representando a nova geração e as condições da sua população. Frostpunk 2 é ainda mais brutal e desafiador do que o primeiro, com cinco capítulos e cinco finais que desafiam constantemente. Não há escapatória do frio, apenas a luta para adiar o inevitável colapso.
Andando por uma ponte de gelo
Uma sessão de Frostpunk 2 pode ser comparada a uma trilha de dominós. Uma decisão mal calculada, inicialmente insignificante, pode ser o início de uma cascata de eventos que te levam à ruína. As consequências se acumulam lentamente, mas, quando ganham força, são incontroláveis. Cada escolha em Frostpunk 2 requer cautela, e o impacto dessas decisões nunca é imediato.
Desta vez, a cidade é um organismo ainda mais complexo, com diversas facções e representantes disputando interesses. Há uma economia local chamada “Estampas de Calor”, consumo de bens, criminalidade e batalhas sociais. Tudo isso é monitorado por um globo no canto inferior da tela, que se torna mais difícil de controlar à medida que o petróleo e as tensões aumentam.
No início, a cidade se mantém sob controle, com poucos grupos organizados. Isso dá ao jogador mais tempo para tomar decisões estratégicas, focando na exploração, manufatura e processamento de matérias-primas e alimentos. O progresso no gelo se dá por um sistema hexagonal, onde você seleciona áreas para quebrar o gelo e avançar em busca de recursos.
Ao desobstruir essas áreas, novas construções podem ser erguidas, cada uma dedicada à matéria-prima encontrada. Estruturas como minas de carvão, usinas de processamento e instalações alimentícias surgem, enquanto distritos residenciais abrigam hospitais, igrejas e prédios de pesquisa.
A fúria das línguas
O distrito residencial precisa de atenção especial. Mantê-lo aquecido é essencial para evitar doenças e garantir a força de trabalho. Para isso, dois elementos caminham lado a lado: a árvore de ideias e as votações do conselho. A árvore de ideias permite ao jogador desenvolver novas tecnologias e construções para a cidade. No entanto, muitas dessas melhorias estão bloqueadas por leis que precisam ser aprovadas pelo conselho.
O conselho é onde interesses e influências muitas vezes se sobrepõem à sobrevivência da cidade. Representantes das facções locais têm seus próprios objetivos, e o jogador frequentemente estará em desvantagem numérica. Há sempre a opção de tentar influenciar membros da câmara ou fazer lobbies para ganhar aliados, embora isso possa resultar em débitos futuros.
Esses lobbies podem parecer soluções imediatas, mas podem levar a situações desastrosas. Escolher mal seus aliados pode criar uma rede de dependências e conflitos. Mesmo em busca de salvação, alguns indivíduos sempre colocarão seus interesses à frente da coletividade.
Após o primeiro capítulo, o recurso de exploração ganha destaque, representado por uma bússola. Ao desenvolver distritos tecnológicos, é possível explorar novas rotas de comércio com assentamentos vizinhos, descobrindo minas de carvão, áreas de pesca ou fontes de matéria-prima. Com o aumento da exploração, Nova Londres pode se conectar com outros assentamentos, ampliando seu acesso a recursos e tecnologia.
Uma esperança no horizonte pálido
Como no jogo original, conflitos internos surgem rapidamente. A cidade se divide entre os Faithkeepers e os Evolvers, e suas escolhas como comissário terão impacto direto nas divisões sociais. Ao mesmo tempo, é essencial manter as temperaturas equilibradas e a população saudável para evitar que a cidade entre em colapso.
O jogo mantém o agonizante e marcante som do gelo expandindo e estalando sempre que um novo evento surge no mapa, aumentando ainda mais a imersão do jogador, os gráficos continuam marcantes, extremamente influenciados pela temática steampunk. A cidade ainda que tenha avançado tecnologicamente em relação há Frostpunk, ainda mantém aquele ar “sujo” e pesado, mostrando o quão central a chama do gerador é em suas vidas, com as eleições sendo decididas através de velas, acesas a favor, ou apagadas contra as emendas.
A trilha sonora que já era um espetáculo no primeiro jogo, retorna ainda mais marcante agora. Faixas como Anger, Weight of Survival e The Great Old Enemy colocam um peso imenso no tempo decorrido durante a batalha entre o Comissário e o frio assassino que na primeira oportunidade irá colocar toda sua cidade em estado de pânico. Uma sequência digna de uma experiência estratégica contra uma força incontrolável da natureza.
Frostpunk 2 expande os temas do primeiro jogo e os aprofunda. No original, a escolha entre Ordem e Fé era central, mas em Frostpunk 2, você agora tem três caminhos possíveis: alinhar-se a uma das facções e se preparar para a segregação, tentar conciliar todas as ideologias ou assumir o controle total com um regime autoritário. Resta a você decidir se irá guiar seus cidadãos pela democracia, tomar o lado que te agrada ou se tornar um tirano, mas não se esqueça, tal como o antigo capitão, o frio também virá por você!
Prós:
🔺Sequência perfeita para o excelente primeiro jogo
🔺Gráficos e efeitos que expandem a experiência
🔺Mesmo desafiador, é convidativo para veteranos e novos jogadores
🔺Trilha sonora de tirar o fôlego
Ficha Técnica:
Lançamento: 20/09/2024
Desenvolvedora: 11 bit studios
Distribuidora: 11 bit studios
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series
Testado no:PC