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Desde a BGS estava no aguardo por este confronto, como registrei neste vídeo investigativo. Na ocasião fiquei surpreso ao testar o jogo e gostei muito do que vi. O foco de toda a campanha de marketing – incluindo as duas fases Beta – tinha sido em cima do multiplayer, mas eu estava mesmo ansioso pela campanha solo: afinal nunca gostei muito de multiplayer. Eu também tinha uma curiosidade: por que “For Honor”? Provavelmente a campanha explicaria tudo. Queria ver como a premissa apontada na cinematic de abertura se desenvolveria em uma história: Samurais, Vikings e Cavaleiros envoltos em uma guerra milenar que já estava perdendo o sentido. Para dar mais gás nos conflitos surge então Apollyon, uma figura feminina misteriosa com o bordão “Eu trago a guerra”. Empunhando minha espada, cliquei em Modo História.

Dez horas depois…

Apollyon “Vader” e seu tema predileto

For Honor Creed

A campanha solo é bem fraca. Tem uma história principal boba que costura uma série de missões à la Assassins Creed: matar alvos, proteger amigos, mover-se do ponto A ao ponto B, procurar itens escondidos no cenário. As missões parecem um pouco forçadas a encaixar nas mecânicas de um jogo feito para o multiplayer. Você se sente um pouco perdido em cenários grandes, ganhando pontos por quebrar jarros de argila (é sério) e “olhar” para itens especiais que brilham sutilmente. Você tem que olhar pro brilho, esperar ele virar o ícone de um olho (o que às vezes dá pau e não acontece) e apertar LB para aí liberar um texto narrado que conta algo mais da história. Quebrar jarro e ficar olhando coisas…. Precisava disso? E tem mais coisa desnecessária: assim como qualquer Assassins Creed, há situações que usam outras mecânicas. Então saiba que nestas 10 horas de campanha você também tem direito a trinta segundos de passeio a cavalo, desviando de obstáculos, e de brincar de tiro ao alvo com uma “grande besta turret”.

A sensação é que algumas implementações são um pouco quebradas, como se tivessem sido feitas as pressas. A inteligência artificial de alguns oponentes também precisa dar uma melhorada (a IA dos bots do multiplayer – que considero boa – não parece ser a mesma utilizada aqui). Uma dica de detonado: ataque o chefão final sempre por cima e vai ser fácil ganhar dele.

A história tem boas piadas e tenta dar lições de paz, mas é cheia de clichês e frases de efeito piegas, como é comum a todos os Assassin’s Creed que joguei. Além disso, me incomoda bastante o fato dos personagens estarem sempre escondidas embaixo das armaduras, sem mostrar a expressão facial. É certo que há aqui um propósito: faz parte do universo de For Honor o efeito dramático de associar o homem à armadura, como se os personagens fossem “guerreiros e nada mais”.

Ok, é um teste dramático interessante, mas sobressai mais a estranheza do que o efeito. Além disso, perde-se muito do drama se não podemos ver a expressões faciais. Funcionaria bem se apenas a vilã fosse caracterizada sem rosto, com seu inseparável capacete (e tocando a marcha imperial quando ela aparecesse). É certo também que essa escolha economiza tempo e dinheiro em animação de expressões faciais.

Em contraponto, os cenários são lindíssimos (mesmo aparentando ter recursos reciclados de outros jogos da Ubisoft). Pouco da minha crítica sobrevive aos últimos 6 capítulos, que são todos muito bem trabalhados: as mecânicas não “viajam” e são usadas com criatividade. Sem dar spoilers, há uma parte incrível com um animal, e o último capítulo me ofereceu o maior deleite com cenário medieval de tudo que já joguei com essa temática previamente.

Acabou a campanha e eu continuei sem entender por quê “For Honor”. Minha nota pra campanha solo é 5.5. Vamos agora para a arena do multiplayer, ver se o clima melhora…

Selfie no castelo

Paciência

Foi um pouco difícil fazer os servidores colaborarem, diferente do que senti nas duas fases Beta anteriores. Claro que tinha mais gente online naquela ocasião e, por isso, conseguia iniciar uma partida em menos de 3 minutos. Recebi várias mensagens de erro que não tinha visto no beta. Também não tinha visto um jogo inteiro cair do nada, grupos serem desconectados enquanto esperavam por uma partida revanche e o jogo travar várias vezes.

Jogar toda a campanha solo com a qualidade gráfica no limite faz toda a diferença, especialmente se rodar o game com uma placa potente da Nvidia. Mas notei um problema estranho no multiplayer: se rolar uma única queda de frame, você é banido do jogo imediatamente e sem aviso prévio (depois de toda aquela espera). Aparentemente é uma regra dos servidores, o que pode tirar muitos jogadores de PC do sério.

Para jogar For Honor você vai ter que ter paciência. Não só na fila do servidor, como também depois da batalha: ele é propositalmente feito para ter telas demoradas no final da partida. As próprias rodadas de “Mata-Mata” demoram um pouquinho para recomeçar. Você não consegue iniciar uma segunda partida em menos de 3 minutos.

Isso tudo acaba sendo um tanto problemático, especialmente porque existem as “ordens” – que são as conquistas sugeridas do For Honor. “Termine 3 partidas no modo A”, “Mate 5 inimigos no modo B”… premiando o jogador com XP e “Aço” (moeda interna do jogo). Às vezes é muito difícil conseguir achar jogo no modo que você “precisa” jogar.

Mapa
Mapa da divisão de facções

Tá difícil!

Sim, For Honor é um jogo difícil de dominar. Os vários tutorias que possui não dão conta de explicar todas as variáveis e os meandros no campo de batalha. O sistema de batalha é bem complexo e faltam explicações sobre algum vocabulário usado na descrição dos golpes e especificações sobre alguns efeitos. É preciso recorrer à internet.

Uma das formas de tutorial que o jogo disponibiliza são vídeo sem narração, com baixíssima definição e sem controle de voltar ou avanço rápido (só pause e play). Eu já os tinha assistido durante o Beta e, sinceramente, imaginava que estariam presentes aqui com melhor qualidade e mais opções.
Também achei os menus um tanto confusos, pouco intuitivos e muito hierárquicos. É preciso um tempo para entender como estão estruturados, pois eles mudam de acordo com o modo de jogo. Você não consegue acessar o menu “Ordens” depois de entrar em alguma partida, por exemplo. Aprender tudo isso te rouba muito tempo.

Fatality!

for-honor-knight-battle

Após enfrentar os tutoriais, assistir a todos os longos vídeos de baixa qualidade e passar um tempo lendo sobre as variáveis dos golpes, esperei o servidor resolver funcionar e ter a sorte de ser alocado em um jogo multiplayer…

For Honor é um grande feito, um marco. O ouro está no entrelaçamento entre o sistema de batalha e as animações que ligam os movimentos de maneira mágica. Também se destaca a grande variabilidade de personagens e golpes.

O sistema de batalha é realmente inovador, extremamente desafiante e divertido. Não é fácil chegar a essa constatação: o combate é muito técnico, demanda muito treino (e você vai se frustrar muito ao brigar com outro jogador já experiente). Especialmente, você vai suar sangue durante as malditas frações de segundo em que seu personagem não consegue disparar nenhuma ação, por estar se recuperando de um golpe que sofreu ou que “não encaixou”. Tudo parece visar o competitivo profissional. Vou precisar (vamos todos nós) de muito tempo ainda para desfrutar de todos os pormenores do conjunto de possibilidades deste sistema de combate. É genial. É aqui – e não na história, gráficos ou cutscenes – que está condensada a maior quantidade de conteúdo de For Honor. E é muito conteúdo.

Em um trecho do vídeo que fiz na BGS, tento mostrar a vocação da Ubisoft em inovar no combate com armas brancas; mas a empresa também é líder em animações de combate. Há um longo caminho desde Prince of Persia – passando por Assassins Creed – que foi herdado por For Honor, representante máximo dessa evolução. Além de te fazer “sentir” os golpes, a animação  consegue aqui também somar à já excelente caracterização física e sonora de cada personagem (que soltam gritos em latim, japonês e islandês). Fora os movimentos de finalização – que são fatalities bem divertidos – destaco os golpes diferenciados e concatenados que cada um dos personagens dispara contra os NPCs no campo de batalha. É lindo. A Ubisoft soube investir no que faz de melhor.

Espero que ela consiga adequar os servidores, corrigir os bugs e ter uma linha de direção e roteiro mais substancial, dramática, melhor. Mesmo deixando a desejar nessas questões, depois que você se embrenha no campo de batalha logo percebe onde está realmente o jogo que importa. O resto é apenas uma “moldura”. O sistema de batalha é lindo, é viciante, é desafiador, é preciso, tem muitas possibilidades, te faz querer treinar mais e mais… uma experiência única pra mim. Não dá pra balizar a análise de um quadro pela moldura. Especialmente quando se está diante de uma…

PALMARIUS
傑作
Meistaraverk

…obra prima.