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Quando Evil West foi revelado durante o The Game Awards 2020, o game logo entrou no meu radar. A mistura de faroeste com criaturas horripilantes me agrada desde os tempos de Darkwatch (PlayStation 2), e saber que o jogo estava sendo desenvolvido pela Flying Wild Hog me deixou seguro quanto à expectativa. Afinal, é o mesmo estúdio que ressuscitou e trouxe sequências para a franquia Shadow Warrior, além do excelente Trek to Yomi.

Conforme foram saindo mais trailers, especialmente de gameplay, deu pra sacar que este não seria um game ambicioso. E isso de forma alguma seria um problema, pois já vimos muitos indies surpreenderem com poucos recursos e tempo de produção. No caso de Evil West, é um indie com cara de jogo grande, do tipo AA (intermediário), mas com um pé ainda na geração passada.

Meu medo estava na possibilidade do gameplay ficar ruim, ainda mais por ser o primeiro jogo de ação em terceira pessoa do estúdio polonês. Felizmente, o combate é sua melhor qualidade. Evil West se esforça bastante pra entregar uma aventura distinta com esta mistura de temas, previamente já explorada por outros jogos.

Evil West
Em cima, um típico salão do velho oeste. Embaixo, uma organização secreta

Pistoleiros, vampiros e muitas sanguessugas

Você é Jesse Rentier, um agente de uma organização secreta de caçadores de vampiros chamada Instituto Rentier, fundada por seu pai em 1772 em Calico Town. Na verdade, você é um dos últimos agentes ativos, pois a coisa anda bem precária. Criaturas sobrenaturais estão invadindo o Estados Unidos pela fronteira e cabe ao nosso cowboy altamente equipado impedir o exército de Felicity, uma jovem vampira com sede de poder.

Jesse conta com um arsenal bastante moderno e uma manopla que confere golpes e recursos importantes pro herói. O gameplay foi inspirado por Devil May Cry, nas armas e combos, e em God of War (2018) no combate corpo a corpo. Até o socão de Kratos no baú de tesouro está presente em Evil West, com animação idêntica. Mas antes que você pense em plágios, posso garantir que o game entrega uma experiência bem diferente. E também mais simples.

A começar pelos combos, que não expande tanto quanto nos jogos que serviram de inspiração. Você pode lançar o inimigo no ar, finalizá-lo igual se faz em Doom (2016 e Eternal) com o inimigo brilhando ou jogá-lo contra caixas de TNT e armadilhas cheias de espinhos. De armas, temos revólver, fuzil, escopeta, besta, lança-chamas e kits explosivos. Usando moedas de ouro coletadas nas fases, você faz melhorias elétricas no arsenal para ter novas possibilidades em combate. E com os pontos de habilidade você destrava e define as perícias de Jesse.

Evil West
Não gostou das escolhas? Relaxa, dá pra resetar

Jesse conta também com esquiva, pontapé (pra interromper ataques especiais dos inimigos), um zapeador (usado pra bloquear, puxar e fazer um arranque elétrico pra cima do adversário), e uma cruz paralisante que deixa geral “chocado” por alguns segundos. Novamente citando a manopla, é com ela que você se cura e ativa o modo de sobrecarga (ou fúria), ficando rápido e mortal como um raio. Literalmente.

Combate brutal

A campanha de Evil West foi concebida nos moldes dos jogos antigos, com fases lineares e áreas de combate apresentadas uma após a outra, onde você precisa matar geral para então poder seguir adiante. A limitada exploração dos cenários premia os curiosos com mais dinheiro, pontos de perícia e itens cosméticos pra personalizar as vestes e armas de Jesse. Vale o esforço, pelo menos.

Voltando a falar do combate, cujo gameplay é excelente, há uma boa variedade de inimigos para enfrentar. O bestiário é bastante criativo e detalhado, inclusive com as criaturas perdendo partes do corpo quando toma dano. E cada uma se comporta de um jeito, com velocidade, ataques e pontos fracos diferentes. Os maiores sempre darão mais trabalho, inclusive confundindo o jogador com aspecto de chefe de fase. E quando o sufoco bater forte, lembre-se de dar pontapés e ficar esperto no alerta de mira no ponto fraco do inimigo.

Evil West
O primeiro chefão de Evil West vai te dar trabalho

Há também inimigos ordinários, como pistoleiros e franco-atiradores. Mas não pense que são fáceis: o alerta de mira surge tão rápido que, sem o assistente de mira ativado (no menu de opções), fica bem difícil de evitar os tiros precisos deles. Eu deixei no modo manual apenas para passar raiva. Agora os chefões, que são poucos e demoram a aparecer, minha nossa… Além de muito bem apresentados, eles dão uma trabalheira danada. Me lembrou Elden Ring, sem exagero.

O lado falho de Evil West

Evil West tem um sério problema: sua história e personagens. Não é uma completa porcaria, mas faltou uma apresentação mais caprichada e principalmente carisma. Fora o humorado Jesse, é difícil se importar com os acontecimentos da trama e seus companheiros de aventura. O veterano de guerra Edgar Gravenor, a médica pesquisadora Emilia Blackwell, dentre outros personagens, poderiam ser muito melhor aproveitados aqui, mas os diálogos não ajudam. Tem clichês pra todo lado e, no fim, você só vai querer saber de matar as criaturas e seguir em frente concluindo os objetivos.

Outra coisa que me incomodou foram os gráficos datados. Desenvolvido na “antiga” Unreal Engine 4, o jogo deixa escapar problemas visuais comuns da engine. Rolam bugs de iluminação, cortes repentinos de áudio, atrasos no carregamento de texturas, artefatos que aparecem do nada na tela e, em algumas ocasiões, a física dá uma enlouquecida. Até mesmo algumas animações de Jesse carecem de polimento, como o balançar desengonçado com laço. Porém todos estes detalhes são perdoáveis, uma vez que o gameplay rouba a atenção do jogador a todo momento.

Evil West
Tem áreas tão escuras que não dá pra ver direito o que está acontecendo

O que não dá pra ignorar, infelizmente, é o excesso de contraste no visual. Um detalhe que não melhora nem com o ajuste de gama. Uma hora você está em um penhasco com vermelho predominante, por conta do sol poente. Outrora você estará em um pântano exageradamente dominado pela cor verde. Faltou equilíbrio de cores, para o jogador conseguir entender melhor o cenário e não ter fadiga ocular.

As áreas interativas estão demarcadas por correntes que brilham, mas nem sempre elas funcionam como deveriam. O jogo insiste em paredes invisíveis pra todos os lados. Especialmente quando você passa por um trecho que o coloca no caminho certo pra conclusão da fase, impedindo o backtracking em busca de baús e documentos de lore. Claro, dá pra terminar Evil West ignorando boa parte destes bônus, mas a experiência fica melhor equilibrada se tirar um tempo pra exploração ao longo dos 16 capítulos.

E o lado certeiro

Eu sei que já elogiei as criaturas, mas vou elogiar novamente. Elas são tão legais e nojentas quanto as de The Evil Within, extremamente divertidas de enfrentar. Tem metamorfos, gigantes com escudo, criaturas purulentas que jogam larvas, outras que explodem, e até monstros cobertos por aranhas. Tem aracnofobia? Relaxa, pois há opção pra ligar um filtro que retira o inseto do game.

Evil West
Com saudades de Donkey Kong Country?

Eu particularmente gostei de um monstro voador e com tentáculos chamado Gaster, que lembra o tripode de Guerra dos Mundos, com seu raio perseguidor. O duro é que quando junta um monte de inimigos e um Gaster ao mesmo tempo, a coisa fica bem difícil. E piora ainda mais com os gigantes que te agarram, tirando na hora uns 75% da sua barra de vida. Eu perdi a conta de quantas vezes morri nesse game.

Evil West não é perfeito, sua história pode entediar muita gente, e ao final da aventura você estará enjoado com a repetição de inimigos. O modo co-op para dois jogadores é muito bem-vindo, com inimigos mais fortes e possibilidade de reviver o parceiro caído, mas não muda em nada a estrutura da campanha. No fim das contas, é o combate que segura a atenção do jogador durante suas quase 12 horas de duração. Tem a aprovação do eterno Machete e a minha.