Esta análise (da versão de Xbox One / Windows 10, lançada recentemente) tomará a forma de Enter the Gungeon, curto e grosso! Desenvolvido pela Dodge Roll, o jogo é papo reto desde o início, começando pelo próprio nome que já estabelece de cara a experiência que o jogador encontrará: uma série de dungeons envolvendo muitas armas e tiros.
A jogabilidade aqui é simples, misturando os gêneros Roguelike e Shoot’em Up. Obviamente, se você é como eu e viveu um hiato de anos em jogos de tiro frenético, vai precisar de alguns minutos até readaptar a sua coordenação motora ao jogo. Mesmo assim, o jogo não enrola muito o jogador até entrar na primeira dungeon; seu breve tutorial tem o tempo e o charme necessários para ensinar as mecânicas básicas do jogo, deixando o resto para que o jogador descubra por conta própria. No entanto, o que Enter the Gungeon faz realmente bem vai além de seus sistemas e mecânicas.
O elemento surpresa
Se fosse pelos seus sistemas, mecânicas e visual – que aliás é pixel art de primeira -, Enter the Gungeon seria um jogo bacaninha, mas encheria logo o saco. Eu digo isso porque o jogo é desafiador, para dizer o mínimo: a mistura dos gêneros Roguelike e Shoot’em Up cria uma contradição na cabeça do jogador. A característica procedural do gênero Roguelike quebra completamente a necessidade que o jogador de um Shoot’em Up tem de memorizar o cenário e posição dos inimigos para que na sua próxima jogada possa tomar decisões mais precisas e certeiras. Então, se olharmos por esse lado, Enter the Gungeon teria tudo para ser apenas frustrante. É tipo comer peixe com queijo, não orna! Todavia, o game acrescenta a essa mistura um elemento que harmoniza muito bem esses outro dois elementos: a surpresa.
“Oras, lógico que um jogo procedural vai ser de certa forma surpreendente, já que toda rodada é diferente da outra”. Será mesmo? Jogos como No Man’s Sky e Flame in the Flood são procedurais, mas acabam ficando cansativos e previsíveis depois de um (curto) tempo. O que faz de Enter the Gungeon diferente é que ele não apenas pega as mesmas mecânicas, armas e itens e os embaralha de maneiras diferentes para apresentá-los ao jogador, mas também apresenta de forma contínua novos elementos a serem adicionados ao jogo, o que faz com que o seu repertório como jogador cresça constantemente. O jogador está sempre aprendendo coisas novas em Enter the Gungeon, e isso é muito estimulante.
Além de estimular o jogador através da descoberta, Enter the Gungeon também ousa em surpreender através da imprevisibilidade. Em vários momentos, eu me peguei na primeira Dungeon sem nenhum item decente, pois as caixas de itens que eu achava pelo caminho e a loja daquele andar – todo andar tem uma loja que oferta itens aleatórios – eram péssimas. Isso fez com que a dificuldade daquele andar e dos andares seguintes fosse brutal. Porém, houve algumas jogadas nas quais eu peguei logo de cara uma habilidade passiva maravilhosa que me deu uma baita vantagem no jogo. Essa montanha russa imprevisível mantém a curva de interesse do jogo lá em cima, fazendo com que o jogador sinta-se engajado a voltar àquele universo cada vez mais para se divertir.
Armas são legais!
Um jogo totalmente baseado em mecânicas de tiro precisa oferecer ao jogador uma boa variedade de armas. Isso é fato. Enter the Gungeon não só traz uma infinidade de armas – na minha contagem havia 206 (!!!!) armas no catálogo – como também faz com que essas armas sejam fucking legais! Temos a arma que cospe cubos de gelo que ricocheteiam nas paredes e deixam um rastro de água pelo caminho – escorregadio para os inimigos. Outra arma atira letras do alfabeto. Outra arma tem o nome de “Megamão” e … bem… é a arma do Megaman.
Contudo, embora cada arma tenha seu peso e sua notabilidade distintas, o jogo apresenta itens de habilidades ativas e passivas que, quando somados às armas, criam cenários completamente malucos e deliciosos. E o jogo não tem medo em deixar o jogador completamente overpowered se ele conseguir os itens certos e combiná-los com as armas certas. Esses itens e habilidades aparecem de forma aleatória dentro de baús que você encontra pelo jogo e nas lojas de cada andar, como também em salas secretas de minigames e altares espalhados pelos andares. Além disso, o jogador encontra personagens presos em celas especiais durante o jogo – também apresentados de forma aleatória – e, conforme vamos liberando esses personagens de suas prisões, temos mais acesso a itens e mecânicas que serão liberados na próxima corrida.
Basicamente, o jogo faz com que o jogador queira continuar jogando para liberar mais personagens, mais lojas e consequentemente mais itens para ter mais chances de sucesso na próxima jogada. Morrer em Enter the Gungeon não é uma punição, pois recomeçar é muito gratificante. Contudo, se o jogo está muito difícil…
Chame uma coleguinha
Não existe escolha de dificuldade em Enter the Gungeon. Aqui só existe uma dificuldade, a difícil. Porém, se você estiver achando as fases extremamente impossíveis de ganhar, o jogo disponibiliza um modo cooperativo no qual outra jogadora consegue te ajudar utilizando um segundo controle. O segundo avatar tem a função de suporte, portanto, não será possível escolher outro avatar específico para a segunda jogadora. No entanto, nada disso importa na verdade, nem mesmo para o jogador principal. Digo isso porque as características de cada personagem podem fazer alguma diferença na primeira fase – quando sua coleção de itens e armas ainda é pequena -, mas conforme o jogo progride, o que realmente fará a diferença será a forma como vocês irão dividir e gerenciar suas habilidades e itens (isso também serve para o modo single player, inclusive).
No modo cooperativo, os inimigos não deixam de ser mais agressivos e nem os itens e armas aparecem com maior abundância. Nada disso. O jogo continua com o mesmo nível de desafio. A diferença é que o suporte de outra jogadora aumenta razoavelmente as suas chances de progredir entre as fases porque – dããã – tem outra pessoa atirando nos seus inimigos! É como os modos cooperativos de jogos da série Souls, saca? O jogo não subestima e nem superestima os jogadores, o que na minha humilde opinião é algo pra se louvar de pé hoje em dia.
Curto e grosso
Ok, ok. Eu menti. Minha análise não foi tão curta assim, mas o resto é tudo verdade. Juro!
Enter the Gungeon é uma experiência rápida, intensa e gratificante. Sabe aqueles 20 minutinhos que do nada aparecem durante o dia? Aqueles minutinhos extras que ganhamos quando estamos esperando o namorado(a) se arrumar para sairmos, ou quando o arroz ainda está no fogo? Pois bem. Vale muito a pena gastar esses minutos com o jogo. Tenho certeza que eles vão se transformar em horas até o final da semana, pois o game consegue ser casual e hardcore ao mesmo tempo.
Obviamente que, se você for um jogador que não está acostumado em perder para ganhar ou não tem paciência para aprender, bem… Enter the Gungeon talvez não seja o jogo para você. Contudo, isso é problema seu, e não do jogo.