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Quando um jogo é objetivo, você vai lá e faz o que tem que fazer e acabou. Muitos jogos são assim hoje em dia, como esportes ou até mesmo um God of War da vida. Quando um jogo entra na esfera da subjetividade, além de ter que fazer o que lhe é pedido, você terá que desvendar toda a mensagem implícita (ou nas entrelinhas) que o jogo comunica.

El Shaddai The Ascension of Metatron se enquadra nesse último quesito. O jogo teve seu lançamento inicial em 2011 para PlayStation 3 e Xbox 360. Apesar de ser um game lançado na metade da vida daquela geração, não tinha um primor técnico que muitos jogos desses consoles carregavam, mas não dá pra ignorar que teve um esforço na busca por seu lugar.

Ser ou não ser…

A história é até simples e não sai enrolando muito o jogador: anjos se rebelam e descem do céu para a Terra para criarem seu próprio governo, além de impor uma evolução diferente aos seres humanos, que seria atingida depois de um dilúvio causado por eles.

El Shaddai Ascension of the Metatron
Não pode faltar uma donzela em perigo.

Não é novidade dizer que Deus não se agradou disso e envia um agente para resgatar e prender os anjos caídos em El Shaddai. Esse agente é Enoch, um humano escriba que trabalha e mora no céu. Ele ganha uma armadura de seu anjo da guarda e Arcanjo, Lucifel. Um ser estiloso de terno preto que vive de papo com o Todo Poderoso no celular, já que é o segundo no comando depois de Deus.

Sim, é um enredo bem simplificado, mas a forma como é contada é bastante confusa. O jogo narra a história com cutscenes bem subjetivas, loadings com narração de Lucifel, cartas achadas com guerreiros pelas fases e vozes que vão falando com você durante o gameplay.

Não fica claro de quem são as vozes, mesmo que eu tenho entendido que pode ser de qualquer um dos Arcanjos Michael, Raphael, Gabriel e Uriel – todos os nomes em inglês mesmo, já que o jogo não tem tradução em português. Por vezes, outras entram em cena, como a de uma menininha que você conhece em determinado momento e é uma personagem importante, mas sem desenvolvimento.

El Shaddai Ascension of the Metatron
As fases vão disso…

Depois de descer à Terra, Enoch segue rumo à uma torre que os anjos caídos construíram e usam como base. Cada andar é comandada por um dos anjos, que tem seu próprio cenário. Aqui devo destacar que as fases em El Shaddai são interpretativas, no sentido de onde se passam. Depois de uma análise semiótica profunda ou quase isso, entendi que seriam lugares espirituais, já que os personagens são espirituais. Parece óbvio, mas entender isso é importante, pois vai refletir na sua recepção ao jogo.

Daqui em diante o jogo acontece em fases que mais parecem aquelas pinturas super complicadas de entender. Como mencionei antes, como as coisas vão desenrolando é bem confuso. Você vai enfrentando os anjos, um por um, mas muitos diálogos ficam soltos e são vazios, não carregam um peso importante. Para piorar as coisas, Enoch não é muito comunicativo. Bem, a única coisa que ele fala é “não se preocupe, está tudo bem”.

El Shaddai deu certo antes, não mais

O gameplay de El Shaddai funciona da mesma forma que os Devil May Cry antigos, só que o quesito hack ‘n slash é mais leve. A câmera é fixa, não é possível mudar isso, o que é frustrante pros padrões de hoje para um jogo 3D. Enoch pula, dá pulo duplo e desce a porrada. Aqui é onde o jogo mostra qualidade. Você conseguirá três armas diferentes durante o jogo, cada uma com seu próprio set de movimentos. Até a esquiva é própria de cada uma. Os inimigos usam as mesmas armas, então é possível roubá-las durante as lutas ao enfraquecê-los.

El Shaddai Ascension of the Metatron
… para isso.

Além de movimentos básicos de ataque, que são bem animados, é possível defender, contra-atacar, executar glopes fortes, atacar no ar, mas a única esquiva que funciona mesmo é quando está empunhando a arma que dispara projéteis. A fuga com as outras duas armas nem são esquivas de verdade, não funcionam nem um pouco. Isso me irritou, já que eu me obrigava a ficar com a arma mais fraca para ter mais mobilidade. É possível trocar de armas também ao atingir umas bolas que ficam flutuando. São três diferentes, cada uma contendo uma arma.

El Shaddai: Ascencion of Metatron não tem HUD, a tela inteira é limpa. A maneira que o jogo mostra como você está perdendo vida, além de seu inimigo, é quebrando sua armadura. Quando Enoch fica só de calça jeans, significa que você está um hit do game over. Uma observação aqui: Enoch lembra muito o Hyoga, de Os Cavaleiros do Zodíaco, até quando sua armadura vai quebrando e ele fica sem ela. Inclusive os movimentos do protagonista lembra o cavaleiro de Cisne. Sem contar que é loiro e tem armadura branca.

O jogo tem elementos de plataforma, o que é desastroso já que não é possível movimentar a câmera. Tem hora que você não tem o mínimo senso de profundidade e, um pulo de Enoch manda o personagem longe e leva a cair no abismo. Para completar, tem fases que são cheios de rabiscos na tela, ou um bloom muito forte, que dificulta ver algumas coisas. A parte de plataforma só funciona quando o jogo tem seus momentos em 2D. A verdade é que é difícil uma mecânica de jogos 3D do começo dos anos 2000 ainda ser agradável.

El Shaddai Ascension of the Metatron
Às vezes é necessário purificar a arma para causar mais dano.

Tivemos um problema técnico

Chegou a hora dos elementos técnicos e, aqui, El Shaddai: Ascension of Metatron não se saiu nada bem, pelo menos em minha experiência. Começando com os loadings GIGANTESCOS de 30 segundos. Eles aparecem ao morrer, trocar de fase e iniciar o jogo. Ou seja, toda hora. É muito irritante. Não importa se o jogo esteja instalado em um SSD.

O game tem um launcher na Steam. Depois de clicar em jogar, esse launcher é aberto, onde é possível configurar resolução e qualidade gráfica. Esse recurso mostra que não teve muito empenho no port para PC, já que essas configurações são feitas dentro do jogo há anos, fora que você precisa instalar DX9. Acontece que as informações são confusas, tem algumas opções que, mesmo com meus 12 anos jogando no PC, não fazia ideia para quê serviam.

Isso resultou em um jogo sem efeitos visuais para mim. Joguei mais da metade do jogo sem ver os ataques dos inimigos, a magia por exemplo, efeitos visuais de ataques, os ícones das armas ao destruir as bolas e várias outras coisas. Como soube disso? Tive que procurar um vídeo do jogo para PS3/X360. Só então me dei conta do que estava acontecendo. Então eu comecei a tentar várias configurações diferentes disponíveis no launcher. Depois de brigar com isso, o jogo ficou normal. Fora que ele só abria quando queria, crashando várias vezes.

Entendeu? Nem eu!

El Shaddai: Ascension of the Metatron, que nem nos explica quem é esse tal de Metatron, fez um certo sucesso em seu primeiro lançamento uma década atrás. O port poderia ter mudado muitas coisas, e até feito coisas básicas direito, mas não foi dessa vez. O jogo tem batalhas divertidas, tem um estilo artístico único e trilha sonora bastante envolvente, tenho de admitir, mas peca por coisas que não se enquadram mais hoje.

É um jogo para quem gostou de jogar há 10 anos atrás. Curiosidade: essa versão disponibiliza um PDF ao zerar o jogo contando o final de verdade em texto, já que o estúdio não teve condições de finalizá-lo na época. Pois é…

O jogo tem preço cheio R$ 75,49 na Steam. Espero que essa moda de pegar jogos de 10 anos atrás e relançá-los do mesmo jeito não vá para frente.

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