As típicas aventuras de crianças e adolescentes em cidades interioranas nos EUA marcaram a vida de quem cresceu nos anos 80 e 90. Filmes como “Os Goonies” (1985) expressam bem essa premissa e, mais recentemente, a série da Netflix “Stranger Things” nos faz reviver aquela época. Echo Generation traz essa ideia com um estilo artístico único e muita originalidade.
Você é um garoto adolescente sem nome, já que você deve dar nome para ele (chamarei de Joel) e o ano é 1993. Ele mora em Mapple Town, uma cidadezinha bem simpática onde todo mundo se conhece. De cara, ao iniciar o jogo, é possível ver que você está mesmo entre os anos 80/90. O quarto de Joel é cheio de pôsteres colados na parede, muita bagunça pelo chão e um computador. Nele, alguns e-mails e um roteiro do filme que ele e seus amigos estão planejando fazer.
Duas crianças se metendo em altas confusões
A história do filme de Joel tem uma trama bem comum para a época: adolescentes entrando em contato com vida alienígena em meio a plantação com fuga para um celeiro, além da descoberta de uma base secreta do governo. Típico roteiro de sessão da tarde, que aqui se torna a realidade de Joel. O primeiro objetivo do jogo é levar sua irmã, Lily, para fora de casa para brincar. Daí para frente, é só aventura.
Como disse no início, o jogo é bem original no quesito estilo gráfico/artístico. Tudo o que você vê é formado por pequenos blocos, semelhante a Minecraft, mas bem melhor definidos. Tudo é muito colorido e alegre. A câmera é fixa e tudo que está mais longe do primeiro plano fica com um efeito de desfoque (às vezes um pouco exagerado). A ambientação vai variar entre a o bairro residencial, o centro da cidade, a parte rural, instalações super secretas do governo, cemitério de animais, entre outros.
Cada ambiente tem sua própria atmosfera. Sair dos campos alegres e coloridos e entrar no cemitério é uma mudança que traz até um certo desconforto, e isso é bom. Echo Generation é muito fotogênico e chuto que isso foi proposital. Alguns cenários são perfeitos para um print screen, principalmente porque o jogo não possui HUD e alguns cenários são um espetáculo a parte dentro do que o jogo oferece.
Para trazer o “mood” de cada cenário, é lógico que não poderia faltar a trilha sonora. E quem tá familiarizado com os anos 80/90 sabe muito bem que sintetizador era o que estava em alta. O jogo consegue trazer sensações alegres daquela época, e peso com temas de mistérios e “creepy” quando está em um ambiente nada amigável. A trilha sonora consegue ser um ponto alto no jogo… E baixo também.
Em muitos momentos, existe uma ausência de músicas ou qualquer arranjo simples para dar aquela sensação de aventura. Principalmente durante as batalhas: várias delas ficam só nos efeitos sonoros das lutas que, particularmente, não me agradaram por se repetirem demais e se tornarem enjoativas com o tempo. Uma das partes positivas é que Joel pode colecionar fitas cassete com músicas que ele pode ouvir onde tiver um toca fitas.
Dificuldade oldschool
Echo Generation não facilita em nada sobre seus objetivos e para onde precisa ir. Tudo depende única e exclusivamente da sua capacidade de exploração e o encaixar de peças conversando com NPCs, como acontecia em RPGs antigamente. Só que, infelizmente, o estúdio responsável pelo jogo, Cococucumber, levou isso a sério até demais. Ou seja, Echo Generation vai frustrar uma boa parcela dos jogadores.
Em momentos específicos, você vai ficar tão travado sobre o que fazer que muito provavelmente vai querer encostar o jogo por um tempo. Passei por momentos onde havia conversado com todos os NPCs disponíveis várias vezes (cheguei até a decorar a fala deles), checado cada canto de cada cenário, mas não vinha nenhuma ideia do que fazer. A única pista sobre o que fazer em seguida vem dos itens que ficam na área de missões do menu, além de conversar com os NPCs e entender o que eles querem.
As batalhas são um ponto forte de todo RPG. Em Echo Generation, temos as clássicas batalhas em turnos com cada um tendo a sua vez de atacar. Fora o ataque normal, cada personagem possui seus próprios especiais, adquiridos coletando revistas temáticas. O jogo é bem criativo na hora de atacar e defender. É possível apertar o botão na hora certa do ataque para causar um dano crítico e também defender, diminuindo o dano.
Ao usar os especiais, cada um tem uma espécie de minigame embutido. Por exemplo: Joel gosta de hockey (ou hóquei no gelo) e um de seus especiais é acertar o disco no inimigo. Para isso, você deve atingir um mira que fica andando na tela. Lily tem um socão carregado e, para atingir o dano crítico, você precisa apertar o botão várias vezes para encher a barra. Cada um é único e isso deixa as lutas bem divertidas.
Echo Generation erra e acerta nos mesmo quesitos
Por outro, as batalhas são muito devagar. Se você está enfrentando um chefe muito grande, o personagem precisa ir até ele, atacar e voltar, e isso leva um tempo. Mesmo em batalhas normais, tudo acontece num ritmo lento. Sobre os encontros de batalha, elas são uma incognita, sinceramente. Elas acontecem, na grande maioria do tempo, encostando nos inimigos pelo cenário. E não consegui entender bem como funcionam os encontros aleatórios, que são raríssimos.
Vai haver um momento em que o respawn dos monstros pelo cenário vai acabar e você não terá batalhas para aumentar de nível ou juntar dinheiro para comprar itens de cura ou power ups (não existe equipamentos). As batalhas contra chefes são bem legais e existem várias delas. Eles sempre são grandes e imponentes. Ah! Se prepare para um progresso bem desafiador, pois algumas lutas vão dar dor de cabeça.
Algumas otimizações simples, como trilhas sonoras mais presentes e principalmente trilha marcante para as batalhas, além de deixar as batalhas mais dinâmicas com mais velocidade, já deixariam o jogo mais atraente. A parte da dificuldade na exploração poderia ser resolvida com, pelo menos, indicadores de objetivo atual no menu.
Echo Generation traz uma história super simples, mas que cativa pela magia da época. Tem ótima ambientação, principalmente por conta dos gráficos, e trilha sonora que funciona muito bem (quando existe). Pena que a Cococucumber errou a mão na exigência com a exploração sem viagem rápida e mapa, dois fatores que ajudariam a amenizar o problema do constante vai e volta tentando entender para onde ir.