Desenvolvido pelo estúdio canadense Frolic Labs, Dune Sea é um jogo minimalista de voo com elementos de plataforma. Um conceito diferenciado para um jogo do gênero. Basicamente, este título é exatamente o que você deve estar imaginando: encarne um pássaro, voe entre obstáculos, sobreviva a predadores, reúna a sua revoada e conclua a fase. A ideia é ter o gameplay mais simples possível enquanto apresenta sua história.
A trama gira em torno de um pássaro que é o líder de sua revoada em período migratório, porém durante o percurso, um evento de proporções catastróficas – ao qual ele sobrevive milagrosamente – o faz se perder de seu bando. Nosso objetivo, então, é nos reunirmos com nossos companheiros e concluir essa longa jornada por paisagens inóspitas até o destino final. Mas isso não será tão simples, afinal, criaturas estranhas e predadores naturais estarão sempre à espreita.
Asas batendo, marcha de decolagem, turbinas e…
De início, somos introduzidos aos comandos, que não são complexos mas exigem paciência para dominar. Um deles – o mais importante – é bater as asas, enquanto isso controlamos a direção a partir do direcional – basicamente, subir ou descer. A combinação desses comandos de início parece complexa, e um pouco imprecisa, mas ao compreender seu funcionamento se torna bem mais clara. Dica, se possível jogue com um joystick, a experiência é bem melhor.
A mecânica central de Dune Sea é simples: segure o botão de bater as asas para o pássaro levantar voo, e ao soltar o botão ele irá planar. Usando este conceito é possível manter voo constante ou planar para evitar obstáculos elevados. Porém bater as asas de forma ininterrupta irá cansar o pássaro, já que existe uma barra de estamina localizada no canto inferior direito da tela que irá indicar a fadiga da ave. É importante manter controle sobre essa condição a fim de terminar a fase inteiro.
Para tal, há a possibilidade de pousar para descansar, porém somente pousando sobre os checkpoints poderemos de fato recarregar a estamina rapidamente. Caso pouse em locais abertos, existe a possibilidade de predadores naturais (como coiotes) nos atacarem. No entanto, a ação de pousar consegue ser ainda mais imprecisa e confusa. Há ocasiões em que funciona e outras não, sem muita explicação. Existe uma maneira correta de realizar o pouso que o tutorial não explica, solte o botão de bater as asas, segure o direcional para cima e pressione o botão de pouso, assim a ave irá aterrissar perfeitamente – fica a dica.
Ao colidir com algum obstáculo – ou predador – será necessário recomeçar a partir do último checkpoint. Por sorte, tudo o que foi coletado, tanto as flores douradas quanto os pássaros da revoada, continuarão conosco, sem a necessidade de reuni-los novamente. Cada fase de Dune Sea conta com uma determinada quantidade de flores douradas, que servem para – além de fins colecionistas – liberar novas skins de pássaros ao longo da jornada – sendo três no total.
Abra suas asas, solte suas feras
Os pássaros da revoada servem para liberar o acesso a locais específicos para coleta de flores douradas ou para eliminar inimigos. Isso é feito a partir de um tipo de “mini-game” no qual é preciso passar por anéis dourados espalhados ao longo de determinada parte do percurso. Tais pássaros ficam voando perdidos por certas partes da fase (sendo indicados por bolhas ao redor deles). Dessa forma ao utilizar a habilidade de grasnar, podemos atraí-los para nosso bando.
Associado a isso, o comportamento dos pássaros e suas animações são bastante fiéis, o que mostra o cuidado dos desenvolvedores em reproduzir tais ações. A questão principal neste ponto é que a resposta do jogo em relação às ações que determinamos é lenta, talvez devido à representação realista, mas isso por vezes atrapalha no decorrer do gameplay. Há a possibilidade de executar um tipo de dash, porém essa ação consome muita estamina, o que limita seu uso – além de não ser tão eficiente quanto poderia na maioria dos casos.
À medida que avançamos pelas fases de Dune Sea, os obstáculos irão ficando mais frequentes e desafiadores, porém a resposta lenta dos controles torna a ação de evitá-los frustrante. Pois em muitos casos não há tempo de desviar deles, sendo mais uma tarefa de decorar os obstáculos a cada morte para avançar do que necessariamente ser habilidoso. Isso torna Dune Sea enjoativo, mesmo com a introdução de novos elementos no decorrer das fases. Simplesmente ficamos em um limbo entre o frustrante e o maçante.
Sem falar na distância de visão aqui presente, algumas sessões de fase possuem uma área de visão curta, tornando a tomada de decisão ainda mais imediata, o que não corresponde ao que o jogo oferece. Outro ponto que compromete seriamente a jogatina é a perspectiva, já que há elementos nos cenários que parecem estar em primeiro plano, mas na verdade estão à frente do plano onde a ação está acontecendo, e outros que ficam atrás, para dar uma ilusão de profundidade, porém que são extremamente confusos. Muitas vezes bati em um objeto que parecia estar no plano de fundo e, em outras ocasiões, tentei desviar de algo que estava à frente sem saber. Isso realmente é o fator mais frustrante de Dune Sea.
Outra questão é que em certas ocasiões são apresentadas cutscenes em meio ao gameplay que alteram o foco de visão da ação para apresentar algum inimigo, por exemplo, e ao regressar perdemos nossa concentração e consequentemente colidimos com algum obstáculo. Se você soltar o botão de voo durante essa apresentação, ao retornar irá imediatamente cair e morrer. O jogo tira a atenção e não reconduz de forma suave.
O visual deste título é realmente atraente, com cenários criados em arte minimalista e belas paisagens em low-poly. Eles possuem cores vibrantes e o minimalismo consegue captar a essência da vastidão. Não há uma grande variedade de cenas, porém elas se complementam em seu todo. A trilha sonora é um fator que se destaca na produção, pois ela agrega à experiência, transmitindo e acentuando a magnitude daquele ambiente vasto e desértico.
Infelizmente, apesar de contar com um conceito diferenciado, Dune Sea se perde em não oferecer uma experiência puramente de exploração e liberdade – como ABZÛ, por exemplo -, nem uma experiência de desafios mais rebuscados comuns no gênero de plataforma. Seu valor de replay é quase nulo – não há nem a garantia de que você se sentirá motivado a concluí-lo. Apesar de introduzir certas variações de mecânicas durante a sequência de fases, o fato de possuir um gameplay repetitivo e maçante – sem falar das questões frustrantes – desmotiva a continuar jogando.