Não há nada melhor do que a sensação nostálgica de estar vivenciando algo que parece ter sido parte da sua vida desde muito cedo, trazendo uma textura e um cheiro que parece ter vindo daquele canto no seu quarto onde você brincava no sábado pela manhã. É ainda melhor quando essa sensação vem mesmo de algo que você nunca, de fato, experienciou. Uma vivência nova e familiar ao mesmo tempo.
É exatamente isso o que Druidstone: The Secret of the Menhir Forest nos traz. A Ctrl Alt Ninja Ltd., produtora da estupenda série Legend of Grimrock, conseguiu, mais uma vez, fazer com que a experiência seja esse misto de novidade e familiaridade descrito anteriormente. Combinando mecânicas clássicas com as tão necessárias novidades contemporâneas.
Cuidado com a pedra do Druida
Por mais que Druidstone: The Secret of the Menhir Forest se caracterize como um jogo tático por turno combinado a um sistema de batalha, essa não seria a maneira na qual eu o descreveria. Pelo que pude experienciar, Druidstone: The Secret of the Menhir Forest está muito mais para um jogo de puzzle. Quando a Ctrl Alt Ninja Ltd. diz que cada ação conta, eles não estão brincando. Porém, vejo que somente descrever desta forma não é o suficiente. Cada ação a ser feita precisa ser pensada de tal forma que as opções de sucesso não são tão livres como se pode pensar, a forma com a qual os cenários funcionam deixam os caminhos um pouco mais restritos e tendem a direcionar um caminho para alcançar os objetivos. Pelo menos da maneira com a qual minha cabecinha limitada consegue racionalizar.
Na maior parte do tempo, controlamos três personagens, Aava, a filha do arquidruida, Leonhard, um guardião sem lembranças do passado e Oiko, um Sacerdote Vermelho fugido. Apesar de podermos trocar seus nomes, esses são as nomenclaturas originais. Explodindo carisma, estes personagens são adoráveis juntos e separados. Possuem momentos cômicos e dramáticos muito bem equilibrados pelo roteiro, levando em conta uma dose estupenda de tridimensionalidade.
Separados nas clássicas classes de jogos de role-playing, Aava seria caracterizada como uma clériga, focada em cura, com danos à distância e bem esparsos. Leonhard é o protótipo do ranger, não é à toa que o nomeei, no meu jogo, de Aragorn, focado em ataques corpo-a-corpo, percorrendo grandes espaços para proteger seus companheiros. Oiko é o alívio cômico, para deixar claro, não coloco isso de forma alguma como algo negativo, poucas vezes vi um personagem ser tão engraçado somente por texto. Além disso, ele ainda é um poderosíssimo mago, com direito a bola de fogo e tudo.
Para quem já teve contato com RPGs em outro momento, estes arquétipos são como os melhores amigos da infância que você não vê faz um certo tempo. Cada um possui algumas diferenças, porém, no fim das contas, você tem uma boa noção do que conseguem fazer.
O poder da amizade
A melhor parte de toda amizade é o quanto vocês crescem com o passar do tempo, as coisas que experienciam e o que aprendem. Conforme a equipe derrota os inimigos e completa os objetivos, tanto os primários quanto secundários, recebem experiência, gemas e dinheiro. Com a experiência, podemos subir de nível e, com isso, adquirir novas habilidades. As gemas permitem que aprimoremos as habilidades que possuímos, assim como ações especiais dos itens. O dinheiro, como todo bom valor monetário, é para fazer comprinhas. Novas armaduras, armas e acessórios. Essas variações permitem um rol estupendo de possibilidades de personalização dos personagens, com variações para cada estilo de jogo e jogador.
Devo admitir que descrever a parte gráfica é um pouco confuso para mim. Me parece simplista e, até certo ponto, limitada, sendo fruto de um projeto sem o nível de investimento de uma produção AAA. Contudo, também, quando estamos imersos neste mundinho, o visual é incrivelmente pertinente ao que estamos experienciando, os personagens carismáticos, os inimigos interessantes e com animações polidas. Ou seja, gráficos de Schrödinger.
Já a parte sonora enfrenta uma situação diferente. Os efeitos sonoros em si não são necessariamente memoráveis. Simples, fáceis e claros. O básico do básico. Fazem exatamente o que precisam. As músicas, porém, são outro jogo. São sempre muito bem postas, bem feitas, gostosas de se ouvir e fazem com que o processo de descobrir como se bater cada desafio algo natural e agradável.
Na jogabilidade em si, além do conceito de estar enfrentando um quebra-cabeças, é interessante a adição dos resultados dos experimentos propostos por Into The Breach, da Subset Games, e vencedor dos prêmios The Game Awards de melhor jogo de estratégia e do BAFTA de melhor propriedade original de 2018, onde temos a possibilidade de refazer boa parte dos movimentos, testando diferentes movimentações, além de que se manter vivo nem sempre é mais importante que cumprir o objetivo.
Druidstone: The Secret of the Menhir Forest, em diversos momentos, traz uma sensação muito ímpar durante o jogo. Desde o início de cada cenário, há uma clara impressão de que é difícil demais, que não será possível nem completar o objetivo primário, quem dirá os secundários. Porém, conforme o cenário vai acontecendo, vamos dando um jeito aqui, outro acolá, e conseguimos cumprir tudo o que é pedido.
Claro que nem sempre é assim, infelizmente, quando essa sensação não está presente, geralmente nos deparamos com um desafio muito maior do que somos capazes de cumprir. Exigindo que voltemos mais tarde ou até, em casos extremos, diminuamos a dificuldade para não desistir após N tentativas frustradas.
Por fim, Druidstone: The Secret of the Menhir Forest é um produto ímpar. Com jeitinho de jogo clássico, malemolência de jogo novo. Gráficos carismáticos e música adorável. Dificuldade nem sempre balanceada. Com tudo isso no mesmo pacotinho, e tendo um preço de lançamento que poderia ser caracterizado no termo científico como um chuchuzinho, Druidstone: The Secret of the Menhir Forest é uma recomendação certa.