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Ninguém aqui pode negar o excelente trabalho que a Capcom vem fazendo nos últimos anos. Desde o lançamento do infame remake de Resident Evil 3, eles praticamente não erraram em mais nenhum jogo, emplacando um sucesso atrás do outro. De tudo que eles lançaram recentemente, Dragon’s Dogma 2 provavelmente foi o título que mais me gerou expectativas – afinal, já se passaram 12 anos desde o lançamento do original!

Você provavelmente já deve estar a par das inúmeras polêmicas relacionadas a microtransações que envolveram este título na última semana. Contudo, devo reforçar que isso não diminui em nada a qualidade deste jogo, que sem dúvidas se manterá como um forte concorrente ao GOTY até o fim do ano. Dragon’s Dogma 2 é um RPG de ação bizarramente arcaico e todos que tiverem a coragem de desbravá-lo não vão se arrepender.

Um novo Arisen

Apesar de ser uma sequência, o game recepciona tanto veteranos quanto novatos de braços abertos. A história se passa em um reino paralelo ao primeiro, então não é uma continuação direta e dispensa a necessidade de ter jogado o anterior. Contudo, quem se aventurou no original de 2012 provavelmente se sairá melhor nas horas iniciais do jogo, por já estar familiarizado com as mecânicas – já que ambos os títulos são extremamente semelhantes.

Em Dragon’s Dogma 2, novamente tomamos o controle de um Arisen (ou Nascen, como são chamados na localização em português): um indivíduo que teve seu coração literalmente roubado por um dragão. Para alguns, isso pode ser uma maldição, enquanto para outros é uma benção! No seu reino-natal, todos acreditam que o Arisen é o ser predestinado a governá-los. O problema é que a rainha regente tramou toda uma conspiração para te tirar da jogada, então a princípio nosso principal objetivo é recuperar o trono.

Assim como no primeiro, a história de Dragon’s Dogma 2 é cheia de reviravoltas e não se limita somente a esses conflitos políticos de Game of Thrones. As coisas vão escalando em um nível bem imprevisível, então para não estragar a surpresa de ninguém, sugiro que não subestimem o enredo. A campanha pode ser finalizada em uma média de 40 horas e há vários finais disponíveis; a única dica que posso dar é que o pós-game na verdade é a continuação da história, então continuem jogando até obter a verdadeira conclusão.

Novamente, temos a oportunidade de criar nosso Arisen e um peão para acompanhá-lo. A ferramenta de criação de personagens está muito mais profunda neste jogo (tanto que foi disponibilizada gratuitamente pela Capcom em forma de demo), permitindo editar tudo nos mínimos detalhes. Além de poder criar você mesmo, ainda há a possibilidade de jogar com uma raça inédita: os Beastren, uma mistura de humanos com leões.

Outra novidade está na variedade de classes, que está bem maior que no primeiro. A princípio, temos apenas quatro disponíveis: soldado, mago, arqueiro e gatuno – sendo essas duas últimas uma divisão dos arqueiros do original, que tinham habilidades de ambas. Conforme jogamos, ainda é possível liberar mais seis classes, com algumas combinando skills das vocações base e outras trazendo poderes totalmente novos. A melhor parte é que você pode mudar de classe sempre que desejar (assim como seu peão principal), não ficando preso a um único job, como acontecia no primeiro.

Um mundo a ser desbravado

Se você nunca jogou Dragon’s Dogma antes, a primeira coisa que deve saber (para não ser surpreendido negativamente) é que esse não é um daqueles jogos que “pegam na sua mão”. Muitas mecânicas e elementos que são bem básicos nos games modernos não estão presentes aqui – e é tudo de forma intencional. Assim como era no primeiro, esta sequência exige bastante paciência e empenho por parte dos jogadores.

Um exemplo: o mundo de Dragon’s Dogma 2 é aberto, mas não podemos utilizar viagens rápidas à vontade. Existem pouquíssimos lugares que possuem cristais de teleporte e só conseguimos ir até eles utilizando um item específico – que é bem escasso, por sinal. Muito das polêmicas das microtransações girou em torno da Capcom estar vendendo esse item à parte, mas é algo totalmente opcional que não influencia no seu progresso. Ainda é perfeitamente possível encontrá-lo enquanto explora, mas para isso é necessário seguir a proposta do jogo: revirar cada cantinho do mapa e completar o máximo de missões possíveis.

Dragon’s Dogma é um jogo com grande foco na sobrevivência e na sua jornada pessoal. Ao limitar a viagem rápida e não disponibilizar montarias para o jogador, ele nos obriga a andar a pé por toda parte, consequentemente enfrentando vários inimigos no caminho e descobrindo diversos lugares novos. Você nunca sabe o que tem pela frente, já que o mapa é desbloqueado gradativamente e somente nos locais em que já passamos. Você pode muito bem ter uma jornada mais objetiva com foco nas quests principais, mas os curiosos certamente vão tirar mais proveito.

O sistema de missões também sofreu uma grande mudança nesta sequência. Ao contrário do primeiro, agora não podemos mais checar no mapa as sidequests que se encontram disponíveis. Todas as missões secundárias são obtidas na sorte, na maioria das vezes quando passamos perto de um NPC com algum pedido a fazer – o diálogo é iniciado automaticamente e daí temos a opção de aceitar ou não. Nesse novo formato, as chances de deixarmos várias quests para trás são altas, mas faz parte da proposta.

Ao mesmo tempo que pode soar negativo, esse novo jeito de distribuir missões também é excelente, pois incentiva o jogador a explorar mais! Além disso, todas as sidequests são surpreendentemente profundas, com algumas delas criando uma cadeia de missões com plots super elaborados. Em diversos momentos, fiquei chocado com o rumo que a história de alguns NPCs tomou – apenas reforçando que esse é um mundo “vivo” e habitado por pessoas únicas, com seus próprios problemas e motivações.

Outra novidade está no sistema de tempo do jogo, que também afeta algumas missões. O primeiro já tinha um formato genérico de dia e noite, mas aqui tudo foi aprofundado em uma timeline que causa impactos no progresso das coisas. Algumas missões possuem um período limitado para serem concluídas – caso contrário, podem resultar em consequências catastróficas, além do fracasso. O avanço dos dias também faz com que os alimentos no seu inventário estraguem, um detalhe muito bacana.

Combate refinado

O combate de Dragon’s Dogma 2 também conta com algumas novidades, mas no geral segue sendo o mesmo do jogo anterior. Grande parte dos inimigos retornam do primeiro e ainda dispomos da mecânica de escalar monstros maiores, bem no estilo Monster Hunter. Nosso personagem possui uma barra de vigor que deve ser administrada o tempo inteiro, sendo consumida ao realizar ações como correr, usar ataques especiais, escalar etc.

Uma das maiores mudanças aqui foi a remoção do “lock-on” nos inimigos, ou seja, a possibilidade de travar a mira no alvo desejado. No primeiro era possível fazer isso e dessa vez optaram por deixar as coisas um pouco mais complicadas, o que eu particularmente não gostei muito. Na maior parte do tempo, saímos atacando para qualquer direção no meio do caos do combate e acabamos sendo carregados pelos nossos peões, que fazem um trabalho absurdo aqui.

Esse é um dos raros jogos em que os BOTs que nos acompanham são melhores que o protagonista. Junto do nosso peão fixo, podemos recrutar mais dois personagens criados por outros jogadores, algo que já era possível no anterior. A capacidade deles em combate é realmente impressionante e, quase sempre, eles vão resolver as batalhas sem nem precisar da nossa interferência. Para deixar tudo mais divertido, eles também interagem entre si o tempo todo e fazem comentários sobre a formação do seu grupo, além de fornecerem dicas gerais.

A dificuldade do jogo vai depender muito da formação do seu grupo, pois a combinação das classes aqui é fundamental. Um exemplo básico: os magos são a única classe capaz de curar ilimitadamente, então quem jogar sem um mago na equipe terá que se curar somente através de itens, o que dificulta consideravelmente as coisas. No geral, achei o nível de desafio bem justo e balanceado, mas tudo vai depender das estratégias de cada um.

Por último e não menos importante, temos a parte técnica, que também pode ser um divisor de águas em Dragon’s Dogma 2. Os gráficos estão incríveis e todo aquele mapa aberto esbanjando uma natureza realista impressiona qualquer pessoa. Contudo, o jogo não está disponível em 60 fps no PS5, dispondo somente de 30 fps travados ou framerate dinâmico (geralmente atingindo uns 45 fps no seu ápice). Considerando que quase todo jogo dispõe desse recurso atualmente, isso pode soar como “bola fora” para algumas pessoas.

Dragon’s Dogma 2 é um jogaço e suas limitações em certos aspectos da jogabilidade devem ser consideradas como qualidades, não como defeitos. É compreensível, nem todas elas são positivas, mas devemos entender que aqui elas são tão fundamentais quanto qualquer outro elemento do gameplay. Nem todo jogo precisa ser amigável o tempo inteiro e está tudo bem – caso contrário, ninguém seria fã do gênero soulslike, não é mesmo? Apenas dê uma chance, seja paciente e permita-se ser surpreendido por essa obra-prima.

90 %


Prós:

🔺 Uma jornada imersiva e repleta de surpresas
🔺 O criador de personagens é bastante completo
🔺 6 classes inéditas com possibilidade de mudar a qualquer momento
🔺 Os peões são extremamente úteis em combate
🔺 Belíssimos gráficos com paisagens naturais estonteantes

Contras:

🔻 O recurso de travar a mira nos inimigos foi removido
🔻 Não possui modo de 60 fps no PS5
🔻 A maioria dos inimigos foi reciclada do primeiro
🔻 Uma montaria seria muito bem-vinda, não dá para negar

Ficha Técnica:

Lançamento: 22/03/2024
Desenvolvedora: Capcom
Distribuidora: Capcom
Plataformas: PS5, Xbox Series, PC
Testado no: PS5