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Você até hoje adora os RPGs japoneses da era do NES, com sua simplicidade, autenticidade e limitações da época, ou acha que a evolução sofrida pelo gênero de lá para cá fez com que sistemas de combate altamente complexos, personagens profundos e bem desenvolvidos e tramas originais sejam uma necessidade para se aproveitar um jogo nesse estilo? Dependendo de sua resposta, será possível dizer de cara se Dragon Quest IX é ou não um jogo para você.

DQ IX é o que poderíamos chamar de um RPG clássico. Mudanças gráficas à parte, e uma narrativa um pouco mais presente, ele continua em sua essência sendo o mesmo jogo lançado em 1986 para o Nintendinho, quando ainda era chamado de Dragon Warrior neste lado do planeta.

Na trama você tem o controle de um Celestrian, um ser angelical invisível para qualquer mortal, que vive em uma cidade situada nos céus. Seu papel, e dos outros de sua raça, é proteger os humanos que habitam o mundo de baixo, garantindo que eles permaneçam felizes e em segurança. Em troca, como agradecimento, os mortais em suas rezas conferem aos celestrians uma essência chamada benevolência que, segundo dizem, se for oferecida em quantidade à árvore Yggdrasil a fará dar frutos, que permitirão que os seres angelicais possam viver ao lado do todo poderoso. Mas, como é de se esperar, não demora muito para que alguma coisa dê errado. Justamente quando os frutos nascem, um estranho acidente ocorre, afetando não apenas a cidade celestial mas como todo o mundo. Entre as várias consequências do acontecimento, você acorda em meio aos mortais, visível aos olhos deles, e sem suas asas e auréola. Enquanto os momentos iniciais do jogo revolvem em torno de entender o que aconteceu e encontrar uma maneira de entrar em contato com os outros celestrians, o cerne da aventura concentra-se em sua busca pelos frutos da árvore que caíram na terra. O poder dos frutos não pode ser controlado, e caso sejam usados por pessoas, grandes tragédias poderão acontecer. E é claro que absolutamente todos os frutos caíram nas mãos de alguém, criando caos em todos os confins da terra, e apenas você é capaz de resolver tudo isso.

A partir daí, Dragon Quest IX segue a estrutura vista não apenas em boa parte de outros jogos da série, como também em muitos RPGs de gerações passadas. Você deverá viajar de cidade em cidade, aprendendo através de boatos (que sempre se confirmam como verdade) que tipo de desastre assola aquele lugar, para então descobrir o que deve fazer para remediá-lo. Como é praxe, você eventualmente conseguirá um barco, acessando assim novos locais, eventualmente sendo revelado que aqueles eventos são muito maiores do que você imaginava, e que toda a existência está em perigo de desaparecer. E, novamente, você é o único capaz de impedir que isso aconteça. Não importa quão limitada seja sua experiência com videogames, você provavelmente já jogou algo com uma premissa idêntica a essa.

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Sendo que tanto tempo é gasto nessas viagens, é uma boa coisa que DQ IX seja bonito de se olhar. O visual colorido, os monstros etc, são todos muito atraentes aos olhos. O design destes e dos pesonagens são todos de Akira Toriyama, criador de Dragon Ball. De fato, você encontrará uma boa quantidade de Gokus, Bulmas e Gohans pela aventura, mas o traço do artista é até hoje bastante interessante e agradável. O único detalhe estranho fica por conta de que apenas aqueles que possuem algum papel importante na história são modelos poligonais. Os outros são todos sprites em número limitado, que acabam por ficar um pouco repetitivos com o tempo. Eles também não são de maneira alguma feios de se ver, mas em alguns diálogos específicos a câmera se aproxima bastante, tornando esses sprites borrões indistinguíveis.

Ainda em suas viagens, existirão muitas e muitas lutas. Os inimigos podem ser vistos no mapa e, desde que você tome cuidado, é fácil evitar combates caso assim queira, uma grande diferença para a séria. Uma vez em conflito, o sistema é bem simples; você escolhe entre um ataque físico ou magias, que são específicas de cada classe, além de contar com algumas habilidades. Estas são como as vistas em Dragon Quest VIII, em que pontos ganhos quando você sobe de nível podem ser alocados em diferentes áreas, que se dividem entre tipos de armas ou habilidades de classe. Isso até confere alguma profundidade a um combate que de outra forma se resume, basicamente, a atacar seguidamente até que seja necessário usar uma magia de cura. No entanto, a maior parte dessas habilidades são muito específicas, como golpes voltados para inimigos de metal, ataques extremamente fortes contra mortos-vivos, dano extra contra bestas etc, o que faz com que eles não sejam muito úteis nas lutas contra os chefes, que são as únicas que o obrigarão a ser um pouco mais cauteloso. Mais do que isso, não é possível saber com precisão qual é a classe de um monstro sem olhar uma espécie de enciclopédia através do menu principal, algo que não pode ser feito quando se está no meio de uma batalha.

Entre todos os elementos tomados de RPGs das antigas, felizmente o chamado grinding – a necessidade de matar monstros repetidamente para ganhar níveis – foi deixado de fora. Desde que você lute com aquilo que aparece em seu caminho, você sempre poderá encarar os chefes sem grandes problemas, precisando no máximo equipar alguns itens de cura mais potentes. A única exceção à regra foi o último chefe, que me deu um pouco mais de trabalho, mas ainda assim não me obrigou a passar horas encarando inimigos mais fracos.

Enquanto quase todas as características de Dragon Quest IX não serão surpresa para ninguém, há um ponto que difere imensamente de qualquer coisa vista até então na série. Os outros integrantes de sua equipe são totalmente criados por você, desde aparência até classe, sendo que é possível descartá-los a qualquer momento. O estranho é que como eles são basicamente heróis contratados para ajudá-lo no combate, sua presença na trama é nula. Por exemplo, o personagem principal, sendo um celestrian, pode enxergar coisas que outros não veem, como fantasmas, uma fada que o acompanha e um trem que pode levá-lo ao céu. Nas horas em que coisas como essas aparecem, o jogo faz com que o resto de sua equipe nem esteja presente, como se tivessem saído de cena. O ápice do bizarro acontece quando você retorna à cidade dos celestrians. Como humanos não podem vê-la, o resto de seu time não o acompanha até lá e, quando voltamos à terra, uma mensagem dizendo “os membros de seu time estão o acompanhando novamente” aparece, sem que nenhuma explicação que tenha coerência com a narrativa seja feita.

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Isso acontece em parte devido ao elemento multiplayer de Dragon Quest IX. É possível que até quatro pessoas se juntem, e joguem controlando apenas os personagens principais. Vocês todos podem se mover livremente, mas a progressão da história é ditada de acordo com o avanço do anfitrião da sessão. Esse modo é bastante divertido, e como todo o equipamento utilizado é refletido visualmente, é interessante ver como cada jogador tem uma aparência completamente diferente do outro. O único porém é que fazer com que tudo funcione perfeitamente é um pouco complicado. Primeiramente, o multiplayer é apenas local. Ou seja, é necessário encontrar outras pessoas que tenham um DS e uma cópia do jogo. E em segundo, é importante que todos estejam mais ou menos no mesmo ponto da aventura e em níveis próximos. Uma discrepância grande entre o level dos participantes significa que aquele que for muito mais forte que os outros acabará com todas as lutas em um único golpe, enquanto o restante apenas observa. Não apenas isso, mas toda a experiência ganha é divida de acordo com a atuação na batalha de cada integrante, o que, na situação mencionada, faz com que apenas um tenha boas recompensas. Ainda assim, caso consiga fazer com que todos os elementos se ajustem de maneira correta, a experiência se torna única.

O multiplayer pode ser limitado a conexões locais, mas existem alguns benefícios caso você conecte DQ IX na internet. Há uma loja que oferece produtos variados, desde itens usados em alquimia até equipamentos difíceis de serem encontrados de outra maneira. Os itens à venda são alterados periodicamente, então há coisas novas para serem encontradas de tempos em tempos. Além disso, é possível destravar novas missões secundárias – que já são incrivelmente numerosas no jogo principal – o que garante que você ainda terá conteúdo inédito nos meses a vir.

Apesar de todos esses pontos variados e interessantes, com graus de sucesso diferentes, o núcleo de Dragon Quest IX continua sendo um já visto dezenas e dezenas de vezes, desde o nascimento do gênero. Sendo totalmente honesto, o jogo pouco me empolgou, pois essa estrutura clássica é, ao meu gosto, um pouco batida e ultrapassada. No entanto, partir disso e dizer que esses elementos clássicos são ruins é uma história diferente. Dentro da esfera desses padrões, DQ IX executa aquilo que se propõe a fazer com maestria e não há quase nenhum aspecto que se possa apontar e caracterizar como defeito. O multiplayer apenas local pode ser decepcionante, mas o jogo funciona primariamente como uma aventura solo, então a perda desse componente não chega a ser tão terrível.

Como disse no primeiro parágrafo, gostar ou não de Dragon Quest IX depende muito do que você espera de um RPG japonês hoje em dia. Se você busca por um sistema de combate cheio de nuances, como em Eternal Sonata e Shadow Hearts, ou uma história marcante e profunda, como em Shin Megami Tensei: Persona 3 e 4, então esqueça, não há nada para você em DQ IX. Porém, se o que você quer é uma jornada simples com personagens diretos e retos, sem as complicações que o gênero recebeu nas últimas duas décadas, então certamente a mais recente entrada na série Dragon Quest o agradará.