Não é segredo que sou fã da Big N desde minha infância. Passei por todos os consoles e portáteis dela ao longo dos anos e vinha sofrendo com as últimas decisões (Wii U, estou falando principalmente de você), que afastaram muitas empresas e seus videogames ficaram dependendo principalmente dos seus jogos. Com a chegada do Switch, este cenário aos poucos está mudando. O grande número de indies sendo lançados para o híbrido é um exemplo disso, além, é claro, da volta de títulos AAA multiplataforma.
O maior exemplo é o que a Bethesda está fazendo. Primeiro foi o anúncio de um port do imortal The Elder Scrolls V: Skyrim logo que o videogame foi revelado. Depois, surpreendendo todo mundo, a empresa divulgou que também lançaria Doom e Wolfenstein II: The New Colossus.
Logo de cara, pensei: “Doom de volta à um videogame da Nintendo?”. Todo aquele sangue, aquela violência e aqueles demônios não pareciam mais combinar com a fabricante japonesa. Afinal, quando pensamos na Nintendo logo pensamos em Mario, Zelda, Splatoon e vários outros personagens icônicos.
A segunda coisa que me veio a mente foi a ideia de que precisava ver isso, jogar e descobrir o que conseguiriam fazer em uma máquina que tem pouco mais da metade do poder de um Xbox One e um PS4. Sem contar com o fato do título me remeter ao meu primeiro estágio, quando passava horas e horas disputando partidas multiplayer no laboratório, rodando Doom em computadores ligados a uma rede Novell baseados no suporte ao protocolo IPX que o game tinha. Sim, sou velho!
É o mesmo Doom?
A resposta pode ser dada de duas formas. A primeira, sim, é o mesmo Doom lançado em 2016 para PC, Xbox One e PS4. Tem os mesmos cenários, os mesmos modos multiplayer e o incrível modo Arcade. A segunda forma começa da mesma maneira, mas com vários poréns, e eles dizem respeito à parte técnica. Logo de cara dá para perceber um estranho e exagerado efeito de blur (borrão nos movimentos). Acredito que isso foi necessário ou para esconder imperfeições ou para ganhar frames na fluidez. Ainda assim os gráficos ficaram bonitos; não são de espantar, mas são bonitos. O jogo funciona com resolução dinâmica, variando entre 600p e 720p, mas sempre com sólidos 30 FPS – contra 1080p e 60 FPS dos concorrentes da Microsoft e Sony.
Mas só 30 FPS? Isso é muito pouco! Sim, roda com essa taxa, tanto no modo dock quanto no modo portátil. Ainda assim é muito fluido, rápido e frenético, e a experiência em termos de jogabilidade é a mesma das outras plataformas. Duvido que alguém reclame desse detalhe.
Um outro detalhe que pode incomodar são os efeitos sonoros. Desde o início percebi uma baixa qualidade nessa área, principalmente quando explodimos algo ou esmagamos algum crânio. Em alguns momentos os efeitos ficam mais baixos e isso me causou bastante estranheza, já que quebra o impacto que aquela ação deveria causar. Da trilha sonora não posso reclamar, continua espetacular, com músicas muito bem produzidas.
Está quase tudo aqui
Quanto ao conteúdo, Doom para o Switch vem quase completo, exceto pela ausência da ferramenta de criação de mapas. Quem comprar o jogo já receberá os DLCs que foram lançados nas outras plataformas. Se a compra for em mídia física, será preciso ter 9 GB de espaço disponível para o download do modo multiplayer, já que ele não vem junto.
Esse download vale a pena? Sim, vale! A jogatina online é excelente, muito estável e com pouquíssimo lag (pelo menos na minha casa). Gastei várias e várias horas em divertidíssimas partidas, coisas que não fazia há bastante tempo. Dá para personalizar o personagem, alterar vários detalhes dele e escolher entre os seis modos para as partidas. Claro que o sistema de níveis está presente, e a medida que vamos evoluindo novos itens e armas são desbloqueados.
O que conseguiu me prender ainda mais foi o modo Arcade. Já de cara está tudo liberado: armas, habilidades e mapas. Sua única preocupação é escolher onde quer jogar, com o que se equipar, e fazer a maior pontuação possível e comparar seus resultados.
Jogando no banheiro
Agora chegamos em um dos pontos que mais atraiu os jogadores do Switch: o modo portátil do console. Nunca curti shooters nos videogames portáteis, pois sempre achei que não conseguiam acertar na jogabilidade. Mas como será jogar Doom nesse novo conceito que a Nintendo trouxe? Posso dizer que é uma experiência satisfatória, mas tem seus tropeços.
Como falei acima, mesmo fora do dock o game roda a 720p com 30 FPS, sem quedas na qualidade. Na verdade, os gráficos até parecem melhores, já que estamos falando de uma tela menor. O grande problema, na minha opinião, são os controles Joy-Con.
Os analógicos são pequenos e o posicionamento dos botões A, B, X e Y se mostra ruim quando é preciso utilizá-los, para, por exemplo, pular e mirar ao mesmo tempo. Ainda assim existe a solução de apoiar o videogame em algum lugar e jogar com o Pro Controller. Claro que assim não é totalmente portátil, mas permite que a gente jogue em praticamente qualquer canto.
Aliás, aqui vale uma observação: o Pro Controller funciona muito bem e a adaptação da ação para seus direcionais e botões ficou excelente. Diria que é indispensável não somente para Doom como para vários outros jogos da plataforma.
Obrigado, Panic Button
No final, é preciso dizer que a Panic Button, responsável por fazer este port, está de parabéns! A desenvolvedora conseguiu fazer o que muita gente achava impossível. Doom para Switch é realmente um jogo completo, com tudo que sempre admiramos na franquia, com bastante violência e sangue (algo difícil de ver nos videogames da Nintendo), e agrada em cheio quem está atrás de mais do que “aventuras bonitinhas”.
Com a chegada de The Elder Scrolls V: Skyrim e Wolfenstein II: The New Colossus, a Bethesda mostra que está comprometida com o Switch e, principalmente, com que seus títulos mantenham a conhecida qualidade mesmo em um hardware claramente inferior. Agora nos resta torcer para que outras produtoras sigam o exemplo e deem a atenção que o console está merecendo.