Em meio ao turbilhão de lançamentos em outubro, um jogo indie surgiu um tanto tímido, mas causando grande impacto. Dispatch, game de estreia da AdHoc Studio, é um golpe certeiro de uma equipe formada por veteranos da indústria que trabalharam nos jogos da Telltale Games, Ubisoft e Night School Studio. O resultado é uma obra-prima de narração interativa, com uma história tão bem escrita que nos faz esquecer que trata-se de um jogo.
Na trama, o jogador decide as ações de Robert Robertson, também conhecido como Mecha Man. Durante uma batalha contra o vilão Mortalha, seu traje robótico é destruído. Sem o traje, Robert é um mero mortal em busca de significado na vida. Eis que surge uma oportunidade de emprego na SDN (RES na tradução), abreviação para Rede de Expedição de Super-heróis. Seu trabalho é comandar um grupo de ex-supervilões e tomar decisões rápidas durante os imprevistos de cada turno.

Despachante por acaso
Logo no início, Dispatch apresenta sua problemática: aceitar este inesperado trabalho em troca do reparo do traje do Mecha Man. Um acordo firmado entre Robert e a Loira Luminar, uma heroína pra lá de charmosa. O jogo possui 8 episódios, cada um com meia hora de duração em média. Alternando entre cenas animadas e a interface de despacho no computador, o jogador vai moldando os eventos conforme suas escolhas. Cada herói possui características próprias como atributos, habilidades especiais e comportamento. De início ninguém gosta de você, e isso fica evidente logo no primeiro turno de missões.
Você aprende como avaliar o gráfico de atributos (força, defesa, velocidade, carisma etc) e escolher as personagens de acordo com o tipo de cada missão – ainda que, inicialmente, eles prefiram te sabotar para tentar fazer você desistir do emprego. Por mais que você avalie bem cada missão no mapa, sendo algumas sérias e a maioria triviais, é comum errar na escolha do herói. O que parece óbvio nem sempre funciona. E isso cria uma dinâmica bastante interessante, principalmente nas missões em que você pode enviar vários heróis para aumentar a porcentagem de sucesso e promover sinergias.

Em termos de gameplay, o jogo é bem simples: você realiza alguns Quick Time Events durante cenas animadas, mas passa a maior parte do tempo no sistema de gerenciamento e escolhendo opções nos diálogos, alterando de leve os detalhes da história. Em outras ocasiões, participa de um minigame de hacking que vai ficando mais difícil durante seu progresso. Dispatch ainda oferece a evolução de cada herói com os pontos de atributos ganhos em missões bem sucedidas. Também é possível colocá-los em treinos conduzidos esporadicamente pela Loira Luminar, permitindo desbloquear novas habilidades.
Independentemente das suas escolhas, a história de Dispatch segue uma trilha pré-estabelecida de eventos. Você interfere apenas em pequenos detalhes, inclusive defendendo ou colocando algum herói na fogueira, além de definir seu par romântico e chegar à um dos 4 finais. Mesmo com toda essa simplicidade, o gameplay é extremamente eficaz e divertido do começo ao fim.

Uma das melhores histórias de 2025
Eu joguei bastante coisa esse ano, mas Dispatch entra facilmente no Top 3 das melhores histórias que presenciei nos games de 2025 até a momento, com Clair Obscur: Expedition 33 no meu altar pessoal. É muito bem escrito, no nível de você se importar com TODOS os heróis e até mesmo os vilões. Uma mistura prazerosa de humor ácido e combates violentos, bem no estilo exagerado da série The Boys. Quanto ao visual, é impossível não notar a semelhança com a série de animação Invencível. Um estilo moderno de desenho que combina demais com a proposta do jogo.
Minhas únicas críticas ficam para a ausência de penalidades e mudanças mais profundas na história, de acordo com suas escolhas. Falhar nas missões tem apenas o peso psicológico, apesar de retardar as recompensas que você adquire em pontos de evolução para os heróis. O jogo não o impede de avançar na história, nem quando falhar em absolutamente tudo em um dos turnos (seja de propósito ou não). Dispatch mantém seu ritmo narrativo sem, nem por um minuto, perder a atenção do jogador. Isso, por si só, é impressionante demais.

Embora seja um jogo de curta duração, Dispatch promove o replay para presenciar as cenas alternativas dos eventos e desbloquear novas conquistas. Caso vá comprar, considere a Edição de luxo por conta das histórias em quadrinhos disponibilizadas para ler (em inglês, apenas), cada uma com uma arte diferente, além da galeria de artes com detalhes bem interessantes sobre o processo de produção do jogo.
Dispatch certamente ganhará uma continuação. Ou, quem sabe, virar uma série de tv? Só sei que estou ansioso por mais conteúdo, independentemente do formato. Até porque é difícil terminar a jogatina sem criar um forte vínculo com essa equipe de malucos, além de se apaixonar pela Loira Luminar e/ou Invisiva.
Prós:
🔺História fenomenal!
🔺Personagens incrivelmente carismáticas
🔺Escolha perfeita de arte e trilha sonora
🔺Gameplay simples, mas perfeito para a proposta
🔺Embora seja curto, vale muito o replay
Contras:
🔻Suas escolhas surtem mudanças superficiais na história
🔻Ausência de penalidade ao falhar nas missões
Ficha Técnica:
Lançamento: 22/10/2025
Desenvolvedora: AdHoc Studio
Distribuidora: AdHoc Studio
Plataformas: PS5, PC
Testado no: PC


