A franquia Deus Ex ficou famosa por misturar os gêneros FPS e RPG de forma inédita. Lançado em 2000, o game foi aclamado pela crítica e pelos jogadores e três anos depois vinha sua primeira sequência: Invisible War. Um bom game, mas que não trouxe grandes novidades e sofreu com a simplificação de seu sistema. Ambos os games foram desenvolvidos pela Ion Storm, que encerrou suas atividades em 2005. Agora nas mãos da Eidos Montreal, a franquia ganhou um terceiro game: Human Revolution.
A trama acontece em 2027, 25 anos depois dos eventos do primeiro game. A mega corporação Sarif Industries cresceu ainda mais, influenciando os governos de todo o mundo. De repente, a empresa é atacada e o protagonista Adam Jensen (ex-SWAT) quase morre, se submetendo a cirurgias para fundir seu corpo com membros robóticos – procedimento chamado de “argumentação”. A população é contra a nanotecnologia argumentada que, apesar de trazer melhorias sobre-humanas, também os transforma em seres menos humanos. Agora cabe a Jensen descobrir quem atacou a Sarif e matou a Dra. Megan Reed, sua ex-namorada.
Felizmente a história vai mais afundo e revela uma enorme conspiração, cheia de surpresas e reviravoltas. Você inicia a aventura em Detroid (EUA) e passa por outros países como China, Canadá e Singapura. Os cenários são belíssimos e muito criativos, retratando o universo cyberpunk criado pela franquia. Em outras palavras, é como jogar um game do Blade Runner: O Caçador de Andróides, trocando Deckard por uma espécie de Neo (Matrix) com partes robóticas.
Human Revolution volta às origens trazendo elementos de RPG e adicionando algumas novidades, como diálogos com múltiplas escolhas, finais diferentes, ação furtiva, e chefes de fase. Explorando os cenários você pode passar por inimigos furtivamente, assim como hackear computadores, travas de portas, cofres e outros dispositivos eletrônicos. Só cuidado para não fazer isso com alguém por perto. Se preferir o combate, faça uso de força não-letal (dardos tranquilizantes, por exemplo) e esconda o corpo para não chamar atenção. O game oferece recompensas diferentes (em XP) conforme as ações do jogador.
Ao hackear um PC, o quebra-cabeça funciona da seguinte forma: você acessa diretórios de dados até chegar ao registro (seu objetivo). Os caminhos são traçados em forma de fluxograma, como uma rede intranet, onde há também os sistemas de diagnóstico (anti-hack). Dependendo do diretório que você acessa, este diagnóstico detecta sua presença e ativa uma defesa para desconectá-lo. Aí é uma questão de tempo para você acessar o registro ou ser detido. Porém, o sistema oferece três facilitadores: ao acessar um IO Port, ele grava um checkpoint para o jogador; acessando um Datastore, o jogador adquire itens bônus; e os APIs (4 tipos) dificultam a detecção do diagnóstico. Fique de olho também nas pontes de conexão: nas pontes unidirecionais, você acessa um diretório em apenas uma direção, enquanto que nas pontes bidirecionais você pode acessar dois diretórios ao mesmo tempo e em duas direções. Os hacks possuem 5 níveis de dificuldade, sendo que você pode usar um item chamado Stop! Worm Software para desacelerar o diagnóstico. No caso das travas, você pode utilizar um item que frita o dispositivo e abre a porta na hora – uma saída para quem não gostar deste quebra-cabeça.
Quanto as armas, há muitas opções (todas com possibilidade de upgrades) e cada uma utiliza seu próprio tipo de munição – diferente de Invisible War, em que a munição era apenas uma. A energia também mudou, sendo recarregada aos poucos e assim evitando a frustração dos jogadores em missões mais difíceis. Como adicional está um tipo de “takedown”, em que Jensen nocauteia o adversário com um simples apertar de botão. O inventário voltou a ser como no game original, com “slots” (estilo Diablo) para encaixar os itens e armas adquiridas. Não dá para carregar tudo, então pense bem quais itens carregar ou remaneje os slots para caber mais coisas.
Ao contrário do PC, este sistema não funciona tão bem nos consoles. Ter que pausar a ação para acessar o inventário e trocar de arma, em pleno combate, é algo bem chato. No PC, basta configurar as armas e itens nos atalhos numéricos para acessar rapidamente. Agora uma coisa que faltou é a possibilidade de escalar. O protagonista não agarra as beiradas, forçando o jogador a ter que empilhar caixas para passar para o outro lado do cenário, por exemplo.
Devido à argumentação, Jensen ganhou várias habilidades. Tais habilidades podem ser melhoradas com Praxis, que possibilitam upgrade de sete partes do corpo: crânio, torso, braços, olhos, costas, pele e pernas. Com isso você pode traçar a localização dos inimigos, aumentar sua energia, melhorar suas habilidades de hacker, e assim por diante. Os melhores upgrades com certeza são: Cloaking System, que permite ficar invisível, e Typhoon Explosive System, que elimina todos os inimigos ao seu redor. Mas mesmo com toda essa tecnologia, Jensen não é de ferro. Muitos inimigos são espertos, chamam reforço, ou usam algum tipo de armadura. É preciso encontrar boas armas e evitar gastar munição, justamente para enfrentar os inimigos mais difíceis (especialmente os chefes de fase). Descubra quais armas lhe agradam mais e nunca se desfaça delas, fazendo upgrades sempre que puder. Procure também os vendedores ilegais para obter munição mais fácil.
Além da trama principal, o game apresenta várias missões secundárias. Elas não são obrigatórias, mas geralmente dão boas recompensas em dinheiro, XP e itens. Explorar as cidades e conversar com os NPCs é importante para encontrar tais missões e entender melhor o que acontece do lado dos rebeldes (gangues, sem-tetos, garotas de programa, etc). Mais interessante ainda é ter que tomar decisões durante os diálogos, sendo que uma escolha pode mudar tudo.
Tecnicamente, o jogo é perfeito. O sistema de cobertura funciona perfeitamente, mostrando o protagonista em terceira pessoa justamente para facilitar a troca de posição. Os cenários, os veículos, objetos, eletrodomésticos… Tudo é tão crível que poderia existir na vida real, até porque a trama não se passa tão no futuro assim. A única falha no design do jogo está nos personagens: eles são interessantes e ao mesmo tempo sem vida. Pior ainda é a voz de Jensen, sem expressão e emoção, como se estivesse com problema de garganta (tipo o Batman). Outros personagens também sofrem com a dublagem, mas nada que tire o brilho do jogo.
Deus Ex Human Revolution é, de fato, uma revolução. Eu não diria visual, mas sim em sua fórmula de FPS com RPG. Para aqueles que procuram um bom game de ação, saiba que este jogo não oferece apenas isso. Há muitos diálogos e isso pode irritar quem apenas quer sair atirando. Digo o mesmo para os fãs de RPG, pois este game não explora muito o gênero. Agora se você busca uma mistura perfeita entre os dois gêneros, este game vale a pena.