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A Housemarque já foi capaz de, no passado, tornar interessante um gênero que parecia esgotado. Em Super Stardust HD, o estúdio conseguiu deixar atraente o estilo de dual-stick shooter, em um jogo bonito de ser ver, variado e extremamente viciante, cativando-me a tentar mais e mais superar minha pontuação. Por esse motivo que não havia razões para acreditar que ele não seria capaz de fazer o mesmo com Dead Nation, dessa vez trocando o cenário espacial por um apocalíptico, com zumbis. Mas, infelizmente, não é sempre que se acerta.

Dead Nation é um dual-stick shooter mais tradicional do que Super Stardust HD. Ao invés de uma área fechada, tem-se fases lineares, com pouca história interligando-as. Na trama, dois sobreviventes, imunes a seja lá o que transformou os humanos em zumbis, após esgotarem seus mantimentos, resolvem tentar a sorte e escapar da cidade onde estão. A história começa a tecer algo interessante no início, mas rapidamente ela perde suas estribeiras e vira apenas uma desculpa para levá-lo aos diferentes cenários, como um cemitério, parque e estação de trem.

Aquilo que impede os dois sobreviventes de chegarem até onde desejam são os mencionados zumbis – hordas e hordas deles. A Housemarque afirma que seu jogo é, atualmente, o que apresenta maior quantidade de mortos-vivos em tela ao mesmo tempo. Dead Rising 2 também diz possuir esse título e, enquanto não é possível averiguar quem está correto, o fato é que Dead Nation realmente tem um número bem grande de inimigos correndo para cima de você. Isso é às vezes assustador, mas nunca é um ponto positivo.

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É fácil morrer, já que, quando cercado, sua vida é esgotada em questão de segundos. Porém, isso raramente acontecerá. Mesmo com a multidão se aproximando, tudo que você precisa é de paciência para lidar com eles. Calmamente retroceder pelo cenário, enquanto dispara e elimina um a um os mortos que se aproximam. Desde que proceda com cuidado, o jogo em poucas ocasiões será um desafio. O problema é que isso não demora a ficar sem graça. A quantidade de zumbis jogadas em você é ridícula, mas desprovido de desafio o ato de eliminá-los é só chato. Houve momentos em que tive a impressão de estar parado no mesmo local por mais de dez minutos, já que a cada passo dado uma nova leva vinha em minha direção, pedindo que eu retomasse o mesmo processo, andando de costas e atirando continuamente.

O marasmo é piorado pelo fato do jogo não conseguir jamais fazer algo inesperado. Os truques se tornam óbvios logo no começo, pois eles são usados repetidamente. As caçambas de caminhões sempre são abrigos de zumbis, um corredor que leva a um baú sempre guarda uma emboscada na volta, uma área aberta é garantia que de que os mortos o cercarão por todos os lados etc. Ao fim da primeira fase não existiam mais surpresas, fator que contribui para aumentar ainda mais a monotonia.

Ao mesmo tempo, quando Dead Nation tenta tornar a situação mais tensa e interessante acaba passando do ponto, deixando-a apelativa. Isso acontece em específico na parte final da antepenúltima fase, em que cerca de quatro zumbis que possuem a habilidade de chamar por ajuda estão protegidos por trás de paredes. Para eliminá-los é necessário antes quebrar a barreira, o que deve ser feito com cada um deles. No tempo em que isso é feito eles todos conseguem pedir por reforço, trazendo dezenas de mortos ao local. Some isso a todos os outros que já estavam por lá e tem-se uma situação de caos completo, em que meu sucesso foi muito mais uma questão de sorte do que de habilidade.

Foi devido a esse momento que ficou claro como falta agilidade aos controles de Dead Nation. Com o direcional troca-se de armas. Entretanto, estar sempre é movimento é algo imperativo, já que ficar parado é pedir para ser cercado e consequentemente comido vivo. O problema é que a maioria das armas, mesmo depois de melhoradas, simplesmente não são úteis. Na verdade, usei apenas três dos armamentos por toda a aventura, só utilizando outros pela curiosidade de vê-los em ação. Como não existem atalhos, é necessário rodar por cada uma das armas até que a desejada seja encontrada, e o tempo que se demora para fazer isso é uma regalia não existente. No fim das contas, a impressão que tive foi a de que fui prejudicado por ter comprado todos os diferentes equipamentos. É claro, não havia como saber isso de antemão, mas caso tivesse adquirido apenas aquilo que era útil, esse problema não existiria.

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Apesar de todos os problemas, algo que deve ser reconhecido como positivo em Dead Nation é sua atmosfera. O jogo é bastante escuro, com efeitos de luz e sombras impressionantes. Silhuetas de zumbis se estendem pelo chão quando uma fonte luminosa está atrás deles, e ver o facho de sua lanterna quebrado pelas barras de uma grade é sempre bonito. Isso faz com que às vezes seja um pouco difícil de enxergar o que está a sua volta, mas me parece claro que essa foi a intenção da Housemarque. É só uma pena que, mesmo passando por diversos locais, os cenários sejam sempre parecidos entre si.

Acompanhando muito bem a parte gráfica está também toda a engenharia de som, que é fantástica. Você sabe exatamente de onde que o perigo está vindo por poder ouvir os passos dos zumbis, dando indicações claras tanto de sua posição quanto da distância. Além disso, os sons vindos dos pés dos personagens quando eles passam por cima de uma pilha de cadáveres é horripilante.

Dead Nation tem boas intenções, mas disso o inferno está cheio (e você sabe que quando ele lotar os mortos andarão sobre a terra). Mesmo não sendo muito longo, a monotonia e repetição me fizeram não querer mais olhar para o jogo quando cheguei ao final. Isso pode até ser uma coisa boa, já que, fora outros níveis de dificuldade, não existem incentivos para o replay. A única coisa que pode fazer querê-lo repetir os estágios é uma pontuação separada individualmente por país, de acordo com a nacionalidade da conta da PSN em que se está jogando. Ela marca a quantidade de zumbis eliminados em cada território, fomentando uma espécie de competição entre as nações. Porém, a verdade é que mesmo poucos dias após o lançamento os EUA já estão tão longe dos outros países que ele jamais será alcançado.

Dead Nation é um jogo bem produzido e é evidente que a Housemarque foi cuidadosa em diversos de seus aspectos. Ainda assim, tropeçadas no design deixam seus problemas muito mais evidentes do que seus acertos. No fim das contas, existem maneiras muito mais interessantes de se gastar quinze dólares na PSN.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024