Dead in Vinland é um jogo que mistura os gêneros de sobrevivência com gerenciamento de recursos e uma pitada de elementos de RPG com adventure. Parece uma proposta bastante ousada para um jogo, ainda mais quando pensamos que ele foi desenvolvido por um grupo de apenas três pessoas. De fato, ele apresenta uma vasta gama de ações e derivados dessa mistura de diversos gêneros em uma única experiência, mas há muitas coisas para se prestar atenção.
A grande família
A trama acompanha uma família de vikings que após sofrerem um naufrágio vão parar em uma ilha misteriosa, e precisam sobreviver às adversidades que vão além da falta de recursos básicos. O líder da família é Eirik, o guerreiro e pai de família, que terá de manter não somente o controle de todos como também o seu próprio para poder sobreviver; Blodeuwedd é sua protetora esposa e a curandeira da família; Kari é a filha um tanto quanto rebelde, mas muito corajosa; e por fim Moira, irmã de Blodeuwedd, destemida e uma brava guerreira, além de uma tia brincalhona.
Fora esses personagens da família, você pode encontrar e recrutar outros que irão aparecer em seu caminho em meio à suas explorações, e que serão muito úteis nas batalhas e na busca por mais recursos. Porém, nem tudo são flores: mais uma pessoa em seu grupo significa mais uma boca para alimentar, ou seja, por mais que ela possa contribuir com outras questões ela ainda vai consumir mais dos seus escassos recursos. A ideia aqui é saber gerenciar bem tudo isso.
A campanha funciona como um modo de sobrevivência propriamente dito, inevitavelmente alguns personagens podem acabar morrendo, mas quando um membro da família morre, é fim de jogo. Então, é mostrada uma tela de condolências e o tempo em dias que você conseguiu sobreviver. O objetivo é tentar sobreviver o máximo possível, gerenciando recursos e expandindo seu acampamento. recrutando novas pessoas para assim poderem sobrepujar as adversidades, e ocasionalmente derrotar um cara mal.
Sobreviver é a regra
Uma das ações no jogo é explorar a ilha à procura de suprimentos, dentre outras coisas. Nesse momento você tem a chance de encontrar inimigos e iniciar uma batalha ou mesmo encontrar aliados, este último com menos frequência. Assim que você acessa uma nova área descoberta na ilha, há um nível de sucesso que envolve a exploração ao interagir com os itens ali, tendo a possibilidade de escolher quem do grupo irá executar a ação, sendo exibida uma tela com as estatísticas de cada personagem e o quão ele é habilidoso na execução desta determinada ação. Assim, há a possibilidade de falhar e não conseguir extrair nenhum item na exploração, ou pelo contrário, conseguindo ainda mais suprimentos.
Parece uma dinâmica interessante, mas os cenários do jogo, pelo menos nas minhas explorações, só apresentaram um único elemento interativo, não importando o quão longe eu ia ao descobrir novas áreas da ilha. E uma vez explorado, não há mais nada a fazer nestes locais, não havendo nenhuma alteração futura que nos motive a retornar. São raras as vezes que há algum elemento que precisa ser explorado mais de uma vez, o que torna essa ação um tanto quanto sem profundidade – somente algo mais a se fazer, sem um propósito para além daquele momento inicial.
O jogo se passa principalmente no seu acampamento, onde você pode criar coisas, cultivar, forjar armas, se curar, coletar água, explorar a ilha, descansar, descontrair com o grupo na taverna, entre muitas outras coisas. Basicamente esse é seu QG, é onde você faz tudo, tem controle de tudo, e principalmente onde vai fazer o gerenciamento dos seus recursos.
Para ter acesso à todas as funções do QG, será necessário “craftar” novas construções. De início, temos acesso as funções mais básicas para começar a sobrevivência na ilha, como a bancada de criação, o coletor de água e o mapa de exploração da ilha. Podendo ser expandidas para outras áreas além das citadas, como produção de lenha, um campo de mineração, uma horta, um local para pescar, e até mesmo um jardim e um varal para secar suas roupas. Após construídos, todos esses elementos podem ser melhorados para maximizar a produção e experiência ganha e minimizar o tempo gasto.
O problema aqui é, até você ter boa parte das construções para poder se auto sustentar, vai ficar refém de buscar itens pela ilha ou nos destroços do barco onde a família naufragou, o que não é algo simples, pois você precisa de recursos para sobreviver e alguns recursos bem específicos para expandir seu acampamento e criar outras coisas, como por exemplo o local para se curar (chamado de Healing Tent). Após batalhar seus personagens podem ficar machucados e estar com sangramentos, e a única maneira de resolver isso é nesta construção, do contrário esse problema vai se agravando dia após dia até a fatídica morte do personagem. Isso também afeta o desempenho dele em cumprir tarefas. Esse foi um exemplo de problema dentre outros que também requerem alguma construção específica para serem de fato sanados.
Depois de tanta coisa, ainda há as batalhas, que funcionam por turnos intercalando entre seus personagens e os inimigos, a cada rodada mudando a ordem de ações, se utilizando de pontos de ação para executar os ataques. O estilo de luta de cada um é bem diversificado, o que gera boas estratégias no decorrer delas. As batalhas fluem bem, nada muito complicado nesse quesito, na realidade um dos aspectos mais simples em torno do jogo.
Mente e alma
Além de gerenciar todas essas questões “sobrevivencialistas”, você tem que lidar com a saúde não apenas física como também mental dos seus personagens, pois eles podem morrer de depressão, sendo alguns mais suscetíveis que outros à determinadas aflições psicológicas.
No decorrer do gameplay vão haver (muitos, mas muitos) momentos de diálogo entre os membros da família e o restante do grupo. Nessas ocasiões você terá a possibilidade de fazer algumas escolhas de respostas para determinadas situações, e essas decisões vão afetar a sua afinidade entre os membros da família e do grupo, podendo aumentar ou diminui-la, o que pode acarretar no aumento da depressão dos mesmos.
No final das contas, há muitas coisas para se prestar atenção, muitos detalhes, elementos, ações. É tanta informação que não será difícil você esquecer de fazer algo importante e ver seus personagens definharem sem água ou comida por ter se esquecido de cozinhar ou coletar a água no reservatório.
A trilha sonora do jogo é bastante agradável, tornando a experiência de joga-lo muito prazerosa nesse sentido. As músicas se adequam bem, intercalando diversas situações, desde momentos calmos até as batalhas, trazendo boas variações e dando mais vivacidade ao jogo.
As animações me remetem aos antigos jogos feitos em flash (que descanse em paz). São imagens quase estáticas que tem pouca movimentação, porém a arte em si é bastante atraente, com cores vivas e que chamam a atenção, apesar de alguns personagens parecerem um tanto distorcidos em determinadas expressões faciais.
Um problema sério e que pode te limitar muito no jogo é ele não possuir nenhuma localização para o português brasileiro, o que prejudica bastante a experiência de quem não domina a língua inglesa, pelo fato dele conter numerosas informações escritas (além dos próprios diálogos), como descrições detalhadas de diversos objetos, ações, habilidades, itens etc.
A falta de foco em um único gênero aliado a mistura de diversos elementos em Dead in Vinland foi uma aposta ousada, mas que se mostrou bastante confusa, o que trouxe uma complexidade desnecessária ao jogo, obrigando o jogador a gerenciar muitas coisas ao mesmo tempo. Apesar dele não te limitar em questão de tempo para realizar tais ações, ainda assim é bastante coisa pra se pensar. É um jogo que poderia ser recomendado para um público bem eclético, mas que curta mesmo jogos de gêneros como RPG e principalmente gerenciamento de recursos. E claro, que dominem bem o inglês.