Darkest Hunters é uma mistura muito curiosa entre um Match 3 e um RPG. Ou melhor, é um Match 3 com elementos de RPG. Aposto que poucos pensaram que um tipo de combinação dessas se tornaria realidade algum dia. O indie da Ultimate Games foi lançado originalmente para PC em 2017 e agora ganhou sua versão para o Nintendo Switch.
De início já somos agraciados com uma cutscene apresentando a história medieval por trás dos acontecimentos. Basicamente, um grande “Lorde das Sombras” colocou seu reino em desgraça, com criaturas malignas destruindo a tudo e a todos. Então, é sua tarefa ir até a fonte do mal e cortá-la pela raiz. Nada muito surpreendente ou original.
Podemos controlar 13 personagens, cada um contando com sua própria história. Porém, mesmo aparentemente tendo diferenças de classe entre si, como em um RPG tradicional, a jogabilidade, as habilidades e os atributos são exatamente iguais para todos. O que resume a escolha de personagem a sua preferência de avatar que deseja que apareça durante o gameplay.
Durante as fases – mesmo como prêmio ao concluir determinadas quests – iremos encontrar baús com itens variados como ouro, peças de armadura, armas etc. Os personagens podem ser equipados de uma armadura e cada parte dela pode ser melhorada ao juntar uma certa quantidade destes mesmos, encontrados em baús (ou adquiridos na loja) e assim melhorar a sua proteção e efeito defensivo contra certos tipos de ataques elementais.
Além disso, temos a possibilidade de equipar uma joia, um acessório para ser mais específico, o qual nos garante uma melhoria defensiva contra ataques elementais como fogo, gelo, elétrico ou venenoso. A combinação desse elemento junto da armadura nos ajuda em batalhas contra inimigos com determinados atributos em seus ataques, adicionando assim um elemento estratégico em nossas mãos.
E, claro, também podemos equipar as armas. Cada personagem pode carregar até duas armas, ou uma arma e um cajado caso seu personagem seja um mago. Dentre elas temos uma variedade de espadas, machados, cajados, arco e flechas e por aí vai. E todos podem ser melhorados da mesma forma que os equipamentos.
O gameplay muda ligeiramente ao equipar determinados tipos de armas, pois existem armas de curto e longo alcance. As de curto alcance são as armas corpo a corpo, ou seja, causam mais dano, porém você fica mais exposto contra os inimigos. As de longo alcance você consegue acertar inimigos a uma determinada distância, mas ao serem atingidos eles vem em sua direção rapidamente. No final das contas é sempre interessante investir em um método defensivo.
Não poderiam faltar as melhorias do personagem. A cada nível que subimos ganhamos três pontos de habilidade para distribuir entre ataque, vitalidade e mana. A questão é que tudo que melhoramos vale para todos os personagens, não sendo apenas melhorias para o personagem escolhido. Novamente, não faz a menor diferença o personagem que escolhemos.
Utilizando o ouro, além de melhorar nossos equipamentos e armas, podemos comprar itens nas lojas. Existem duas: a loja de armas e armaduras e a loja de magias. Dentro da primeira encontramos itens diversos da categoria e podemos adquiri-los para melhorar os já existentes em nosso inventário. A lista de itens dessa loja é renovada de tempos em tempos.
Dentro da loja de magias podemos adquirir encantamentos para nossos equipamentos e ataques mágicos variados. O custo dessas aquisições é alto, mas ajudam bastante em batalha. Infelizmente a aquisição destes itens depende de um tipo de “árvore de progressão”: para adquirir determinado poder, primeiro precisamos ter adquirido o anterior. Fora isso, temos a taverna onde podemos trocar de personagem, ler notas da história e visualizar um guia de criaturas com suas descrições e habilidades.
A arte da combinação
O gameplay é relativamente simples. Temos acesso a um mapa com as fases distribuídas sobre ele. Ao acessar uma veremos um punhado de quests para serem completadas ao longo dela, algumas obrigatoriamente precisando ser concluídas em uma única partida e outras ao longo de repetições. Ao completá-las ganhamos ouro e um baú com itens variados. O grande problema é que algumas possuem descrições muito vagas e compreender o que é necessário fazer por vezes não é claro. O que é frustrante, já que algumas são bem específicas. As missões normais contam com 6 quests cada, enquanto as fases contra chefes contam com apenas 3.
Para desbloquear novas fases, precisamos concluir a anterior e para desbloquear novos mapas, precisamos de uma certa quantidade de quests completadas. Há um total de 61 missões (incluindo o tutorial), das quais 16 são contra chefes, e que somados rendem mais de 300 quests para serem completadas. A versão para PC dispunha de um PVP, porém a versão de Switch não conta com este modo.
Durante as fases temos de fazer combinações de pedras do mesmo tipo para avançar até a saída, como um caminho que iremos trilhando e enfrentando inimigos diversos. Temos a possibilidade de criar pedras com poderes especiais mediante combinações mais elaboradas. Por exemplo: ao combinar mais de 5 pedras, formamos um poder que gera um feixe de dano que quebra as pedras adjacentes mais próximas em uma linha reta, também proporcionando dano em algum inimigo que esteja no caminho.
Existem até 4 níveis de poder possíveis de criar, cada um com a soma de 5 pedras em uma mesma combinação. Ou seja, com 20 pedras conseguimos formar a combinação mais poderosa de todo o jogo, que gera uma enorme explosão que acaba com dezenas de pedras e inimigos no caminho. A intenção principal durante o gameplay é essa, bastante comum no gênero. O problema é que isso não funciona bem. O campo de visão da tela é muito inferior para podermos criar combinações suficientes para tal. E a visão não nos acompanha para que possamos criá-las. Não existe uma maneira de aumentar isso, travando o espaço de visão que temos até realizarmos algum movimento.
Este detalhe estraga completamente o intuito do jogo de criar combinações e fazer combos. E no Switch muitas vezes o jogo não funciona bem nesse aspecto, seja utilizando a tela touch ou os joy-cons para movimentação. A medida que avançamos as fases, elas se tornam ainda maiores, como uma espécie de dungeon. Mas não serve para muito, afinal não conseguimos usufruir do espaço adicional para formar combinações maiores.
Há diferentes tipo de pedras para fazermos combinações e cada uma delas nos beneficia de alguma maneira. A vermelha dá um boost de ataque, a azul restaura o mana, a verde recupera a vida e a amarela rende ouro para o jogador. Todas elas são sinalizadas por símbolos para fácil identificação, principalmente para pessoas daltônicas.
Problemas de design
É na interface de usuário (UI), que engloba não somente a forma como ela foi composta mas também a sua usabilidade e navegação (fluxo de telas) onde mora o principal problema de Darkest Hunters. Eu nunca pensei que algo que não envolve diretamente o gameplay de um jogo pudesse incomodar tanto ao ponto de me desmotivar a jogar. Além de mal planejada, a interface não é nem um pouco intuitiva. Você está jogando, daí pressiona um botão para conferir suas quests, então pressiona este mesmo botão para voltar ao gameplay, mas o que acontece? Você volta para o menu inicial do jogo! Além de ter uma inconsistência em seus comandos o jogo nem sequer te notifica sobre sair da fase, por consequência perdendo o seu progresso.
Para se ter uma noção, não navegamos pelos menus utilizando as setas ou o direcional, mas sim os gatilhos (no caso do Switch, o R e L). E falando em navegar, é muito difícil de enxergar quando algum item de certos menus está selecionado, devido a falta de destaque. Eles utilizam uma cor muito suave que se confunde por vezes com as cores dos menus.
Um grande problema que tive foi não saber como equipar um poder que eu tinha acabado de adquirir na loja de magia. Eu utilizava os comandos, utilizava a tela touch e não havia nenhuma indicação de como fazer isso – que a propósito é o botão X no Switch. E pior, o jogo não tem um sistema de ajuda, com a qual podemos consultar caso nos esqueçamos de algo. O tutorial inicial não é mais acessível depois que você o vê pela primeira vez. Então você, literalmente, tem que se virar.
O game foi lançado em 2017 para PC e já contava com esses problemas desde o início. Então, eu sinceramente duvido muito que isso será resolvido com uma atualização. O que é uma pena, já que tirando os problemas de interface, o jogo em si, em relação ao gameplay, funciona relativamente bem e pode ser divertido.
Darkest Hunters é um ótimo exemplo de que a mistura inusitada de dois gêneros distintos pode ser atraente no papel, mas se mal executada pode estragar completamente a experiência do jogador. Infelizmente os diversos problemas crônicos que o jogo possui podem frustrar mais do que o gameplay e tiram completamente o brilho desta obra.