Se existe um gênero que já foi destrinchado ao limite no meio indie, ele certamente é o metroidvania. Com uma infinidade absurda de jogos trazendo as mais variadas temáticas, hoje em dia é difícil encontrar um lançamento do tipo que nos impressione de verdade. A solução que o estúdio espanhol Petoons encontrou foi criar o seu próprio subgênero: o “ratoidvania” – que nada mais é que um metroidvania protagonizado por ratos.
Brincadeiras à parte, a “novidade” da vez é Curse of the Sea Rats, um simpático joguinho de ação e exploração que lembra muito alguns desenhos clássicos da Disney. De acordo com os próprios devs, a intenção do estúdio foi trazer um título que seja, acima de tudo, divertido e acessível para jogadores de todas as idades, então no final acho que eles conseguiram alcançar seu objetivo. Por outro lado, de alguma forma isso também foi sua perdição.
Ratos e homens
Curse of the Sea Rats não homenageia animações e filmes de aventura somente no seu visual, mas também traz uma história digna dos melhores desenhos dos anos 1990. Tudo começa quando a bruxa Flora Burn ataca um navio do Império Britânico, jogando uma maldição em toda a sua tripulação e levando o filho do capitão como refém. Agora transformados em ratos humanoides, a única esperança de resgatar o garoto recai sobre quatro prisioneiros, que ganham a oportunidade de recuperar sua humanidade e, de brinde, ainda ganhar o perdão real em uma missão nobre.
Primeiramente, vamos elogiar o ponto mais forte do jogo: seu visual. Os gráficos misturam modelos de personagens 2D com cenários tridimensionais, criando um belíssimo 2.5D que lembra bastante o remaster de Ducktales, tanto no estilo quanto no traço em si. Todos os protagonistas, NPCs e inimigos foram desenhados a mão e são muito bem animados, ainda que tudo se desenrole com um ritmo mais lento que o de uma animação padrão.
Aqui temos quatro personagens jogáveis e a possibilidade de jogar em co-op local de até quatro jogadores, algo bem diferenciado para o gênero. Cada um possui seu próprio estilo de combate e árvore de skills, oferecendo gameplays variados o suficiente para estimular o jogador a testar todos. Vale ressaltar que o jogo fica bem mais divertido e interessante quando jogado com mais pessoas – o singleplayer até funciona e cumpre seu papel, mas infelizmente não é dos melhores.
Apesar de cada personagem ser único e apresentar um grau de variações, o jogo em si não tem nada de complexo. Como já enfatizado, Curse of the Sea Rats foi criado pensando atingir um público abrangente, inclusive crianças, que certamente podem ser conquistadas pelo seu visual. Tudo é simples demais e os personagens possuem basicamente dois ataques: o combo padrão e um especial, que aqui chamam de magia. Os movimentos que são liberados posteriormente são mais básicos e costumam melhorar mais a exploração do que o combate.
Afundando com o navio
Sendo um metroidvania, podemos esperar um grande mapa não linear dividido em cenários, onde é necessário desbloquear algumas habilidades antes de conseguir liberar certos caminhos. Não achei o backtracking do jogo tão recompensador, principalmente porque a maioria das salas inacessíveis no começo contém apenas tesouros banais. Compensa bem mais focar na história principal, o que provavelmente vai reduzir seu tempo de jogo pela metade. Em apenas cinco ou seis horas já é possível terminar a campanha.
O jogo também apresenta algumas falhas de level design que desestimulam a exploração. Os save points são extremamente distantes uns dos outros, obrigando o jogador a andar um bocado de forma desnecessária. A pior parte é que você nem sequer consegue usar fast travel nesses mesmos lugares, sendo preciso encontrar salas específicas que contam com essa opção (semelhante ao visto em Castlevania: Symphony of the Night). Não sei se isso foi feito para dificultar ou para “estimular” o jogador a explorar, só sei que não funcionou.
Caso tenha sido para dificultar, assumo que tenho minhas dúvidas. Curse of the Sea Rats não é um jogo difícil, mas pode ser bem desleal para quem estiver jogando sozinho; com apenas três ou quatro ataques já é possível morrer, algo que dificilmente acontece no co-op, com mais jogadores atacando o mesmo oponente. No geral, todos os inimigos comuns oferecem um desafio bem baixo e por isso o salto de dificuldade acaba sendo muito maior nos chefes (mas não o suficiente para fazer deste um Hollow Knight da vida).
O jogo também apresenta outras falhas difíceis de ignorar, como os controles, que não apresentam uma distribuição de comandos muito intuitiva e ainda têm um input lag bizarro. Muitas vezes você aperta um botão e espera cerca de meio segundo para ver uma resposta do personagem, o que deixa o ritmo do jogo bem lento. Não quero ser injusto, achei Curse of the Sea Rats divertido na medida do possível, mas não dá para negar que ele se torna entediante em diversos momentos.
Felizmente não tive problemas com bugs, a não ser coisas simples que não interferem no progresso ou no desenrolar do jogo, mas existem muitos relatos de jogadores que não tiveram tanta sorte. Ainda que tudo isso tende a ser resolvido com futuros patches, fica o aviso de que a experiência não está tão redondinha como deveria, tanto no PC quanto nos consoles.
Curse of the Sea Rats é um jogo com bastante potencial, mas infelizmente passou longe de alcançá-lo. É bonitinho e consegue divertir (especialmente se jogado em co-op), mas é muito raso em todos os demais fatores. Com tantos títulos do gênero por aí, ele acaba não sendo um dos obrigatórios, mas pode ser interessante para os fãs mais hardcore.