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Se já não bastasse a vida para nos ensinar que nem tudo acontece na hora que queremos e que a paciência é uma virtude, agora os videogames estão cada vez mais engajados nessa ideia. É impossível falar dessa proposta sem lembrar de Animal Crossing, um jogo que nos ensinou que games não precisam ter objetivos e muito menos “ações imediatas” para ser divertido. Cozy Grove vai na mesma onda, inclusive suas semelhanças com o sucesso absoluto da Nintendo não acabam por aí.

O estúdio indie norte-americano Spry Fox foi bem claro quanto a sua proposta neste game: o objetivo é fazer com que joguemos apenas meia hora por dia, nada mais. Eu sei, é realmente muito pouco, afinal quando sentamos no sofá para jogar, queremos passar horas a fio! Mas aqui não, Cozy Grove se preocupa com a saúde do jogador e não quer que passemos o dia todo em frente a televisão jogando videogame.

Vida de escoteiro

Neste jogo assumimos uma criança escoteira, mas não um escoteiro qualquer. Nosso papel é acampar em ilhas isoladas e mal-assombradas, interagindo com os fantasmas que vivem lá e os auxiliando a completar sua passagem, para que finalmente possam descansar em paz. Quem jogou Spiritfarer vai notar a semelhança logo de cara, afinal aqui nosso objetivo principal é praticamente o mesmo!

A raposa mercadora é o bicho mais simpático desta ilha.

Assim como em Animal Crossing você pode criar seu bonequinho, mas as opções de customização são muito limitadas – o que no fim das contas não importa tanto, já que seu personagem sempre ficará muito fofo! Logo de cara já iniciamos o gameplay em uma ilha deserta e sem cor, mas não demora nem um pouco para entendermos o que fazer por ali e dessa forma progredir na história.

Quando os desenvolvedores falaram que a proposta é jogar de 20 a 30 minutos por dia, eles não estavam brincando. Nesta ilha você encontrará fantasmas que te passarão pequenas missões como encontrar itens, pescar e tudo que a gente costuma fazer em um acampamento (e no Animal Crossing também). Uma vez que você ajudá-los, eles vão se restaurando de sua forma fantasmagórica e a ilha vai recuperando sua “vida”.

Cada fantasma te dá uma série de missões, mas vai levar dias para completar todas. Após aproximadamente 30 minutos de jogatina, eles param de passar tarefas e você não tem mais nada para fazer (a não ser atividades banais como pescaria e coisas do tipo). Como o jogo utiliza o relógio real como base, somente quando o dia virar podemos dar continuidade à história.

Impossível não lembrar do foguinho de O Castelo Animado.

Dia após dia

Esse sistema de atividades diárias é igualmente vantajoso e desanimador. A vantagem é que nem sempre dispomos de muito tempo para jogar e poder contar com um joguinho que só requer meia hora de jogatina por dia é perfeito. É exatamente por isso que Animal Crossing é tão popular, pois é um jogo que dispensa qualquer complexidade ou excesso de informações – o único objetivo é relaxar e se divertir!

Por outro lado, até para quem não tem muito tempo para jogar isso pode ser ruim. Justo nos dias que temos mais tempo livre para torrar e queremos jogar mais, o jogo vai lá e nos impede de continuar. É praticamente inevitável que nosso interesse vá diminuindo rapidamente, até chegar ao ponto de abandonarmos Cozy Grove de vez. Tudo bem que Animal Crossing faz a mesma coisa e ainda assim não enjoa, mas aqui é diferente, já que o jogo possui uma história e, a partir disso, nosso principal objetivo é chegar no final dela.

Já que toquei nesse assunto, a própria história de Cozy Grove não consegue se sustentar direito. Não é nada muito elaborado e se apoia somente no fato de que devemos ajudar os fantasmas em sua passagem espiritual, até aí tudo bem; mas quando vamos refletir sobre o conjunto da obra como um todo, é difícil conseguir descrever do que este game se trata. O foco fica nas histórias individuais de cada NPC e breves reflexões sobre a vida e a morte, mas é fato que isso não é o bastante para nos manter interessados por semanas a fio.

Animal Crossing me treinou bem para esse tipo de coisa…

Mesmo com esses pesares, a simplicidade do jogo é o que o torna tão simpático e gostosinho de jogar. Os gráficos são todos desenhados a mão e são muito bonitos, exalando fofura a cada folhinha caída no chão. As mecânicas são bem básicas e se prendem somente a ações de coletar itens e usar o que temos no inventário. Ainda assim, achei o processo de abrir a bolsa, pegar um item e usá-lo mais confuso do que deveria. Muitas vezes eu acabava apertando um botão errado ou fazendo alguma coisa que cancelava a ação, mas com o tempo a gente acostuma.

Cozy Grove se parece bastante com Animal Crossing, mas não chega a ser tão bom quanto. Definitivamente cumpre o que promete: é um joguinho bem legal que consegue nos prender por alguns dias, mas quando eventualmente desanimamos, dificilmente a vontade de continuar jogando volta. Porém, isso não muda o fato de que o tempo que investimos naquela ilha faz esses 30 minutinhos diários valerem a pena.