Cookie Cutter, o metroidvania indie da desenvolvedora inglesa Subcult Joint, foi lançado há um tempo – em dezembro de 2023 – e, sei lá como, acabou passando longe do meu radar. Mas como fã do gênero eu não poderia deixar de conferir essa mistura de mundo pós-apocalíptico, todo desenhado à mão, com combate ultraviolento. Um festival de sangue promovido pela androide Cherry, que se apaixonou por sua criadora humana.
Tudo começa quando o romance entre Cherry e a Dra. Shinji Fallon é interrompido por uma visita inesperada. Cherry leva um tiro na cabeça, tem suas partes destruídas, e a doutora é sequestrada a mando de uma megacorporação. Por sorte, Cherry não foi totalmente exterminada, sendo reconstruída por Raz. Mas a ajuda não veio de graça: ele pede umas coisas em troca e assim começa a sua jornada em busca de vingança.
Nesta aventura você terá a companhia de Regina, um computador interno que fica literalmente entre suas pernas, com formato de vulva. Ela te dará orientações para prosseguir na exploração das 8 áreas da megaestrutura, em busca de informações e upgrades para encarar adversários cada vez mais fortes.
Vingança robótica
Cookie Cutter junta à sua fórmula elementos do gênero beat ‘em up e a truculência do Doom Eternal, no qual você finaliza inimigos atordoados com requintes de crueldade, sendo recompensado por isso. E nos momentos em que o combate aperta, em áreas fechadas e com muitos inimigos, toca metal pra turbinar a sua adrenalina. Não poderia haver estímulo melhor.
O gameplay apresenta algumas boas ideias, como usar os perigos dos cenários (serras, espinhos, áreas eletrecutadas, forjas, etc.) como estratégia contra os próprios inimigos, os levando à uma morte mais rápida. Além das manoplas, arma inicial de Cherry, ela conta também com uma guitarra, uma espada com motoserra e até uma motocicleta para macetar seus inimigos. Juntando as possibilidades, o jogador pode definir seu próprio estilo de combate. Só não será fácil dominar o parry, cujo espaço de tempo para reação é muito curto.
Outra ideia legal é a de poder recuperar sua energia a qualquer momento usando Voids coletados dos inimigos e objetos quebrados pelo cenário. É bastante útil, embora difícil de usar durante o frenesi do combate. Agora uma decisão de game design que não funciona bem é o zoom que acontece em determinadas ocasiões, aproximando ou afastando (um tanto demais) a câmera. Em ambos os casos fica difícil de entender o que está acontecendo na tela.
Se por um lado a exploração tradicional e as áreas fechadas com hordas de inimigo ofereçam, na maioria dos casos, uma dificuldade balanceada, o mesmo não pode ser dito dos chefões. Se você empacar em um deles, o jeito será explorar outros cantos do mapa para adquirir armas, destravar componentes (melhorias corporais) e encontrar novas habilidades para Cherry. Esse equilíbrio você conquista com a progressão do jogo.
Uma dica boa, que funcionou pra mim, é manter os inimigos o máximo de tempo possível no ar. Basta dar um golpe pra cima e, ao arremessá-los, combar antes deles atingirem o chão. Jogar contra a parede faz o adversário quicar, aumentando sua chance de encaixar um novo combo e também usar uma arma para causar mais dano. Contra inimigos distantes ou aéreos, o melhor esquema é usar habilidades como o cuspe de fogo da Cherry. E falando em disparos, infelizmente tem inimigos que atiram através das paredes do cenário, algo que você não pode fazer. Um tanto injusto, mas faz parte do desafio.
A autenticidade de Cookie Cutter
A história de Cookie Cutter se desenvolve lentamente, no ritmo padrão de um metroidvania. Em seu caminho você encontrará NPCs bizarros e terminais que te darão informações sobre a megacorporação e suas intenções, bem como um norte para saber o que fazer. E traz tudo o que se espera do gênero, como pulo duplo, passagens secretas, biomas diferentes e outras características que a gente tá careca de ver. Mas em meio ao básico o jogo brilha nas suas próprias invenções, mesmo que não sejam muitas. E rolam homenagens, claro! Como esta estátua abaixo à lá Metroid, só que com formato fálico.
Aliás, em vários momentos o game brinca com temas adultos. A própria Cherry paga calcinha toda hora. Mas esta sensualidade toda está inserida no game não como provocação ou apelo, mas sim como parte de sua identidade. O estilo visual escolhido pela Subcult Joint transborda uma rebeldia que combina demais com a proposta toda.
Cookie Cutter é um jogo curto, que dura em torno de 6 horas, mas é o suficiente para oferecer uma experiência diferenciada e empolgante ao jogador. Tem robôs, alienígenas e muita doidera, unido ao bom humor e referências rock and roll. Não é perfeito, às vezes o combate frustra e a música enjoa com o tempo, mas no conjunto da obra é um indie bastante competente.
Prós:
🔺 Visual diferenciado
🔺 Animações criativas e muito caprichadas
🔺 Diálogos hilários com NPCs
🔺 Combate acelerado e sangrento
Contras:
🔻 Às vezes é difícil de entender o que está acontecendo na tela
🔻 Timing do parry complicado de acertar
🔻 Não possui tradução PT-BR
Ficha Técnica:
Lançamento: 14/12/23
Desenvolvedora: Subcult Joint
Distribuidora: Rogue Games
Plataformas: PS5, Xbox Series e PC
Testado no: PC